Idealizador do Desafio Unicamp fala sobre sua trajetória como empreendedor
Em 2010, durante seu doutorado, Virgílio Marques dos Santos teve a ideia de criar uma iniciativa que unisse o espírito empreendedor do ecossistema de Campinas com o potencial de levar ao mercado tecnologias desenvolvidas na Unicamp. A partir daí e em contato com a Inova Unicamp, criou o Desafio Unicamp, competição de modelos de negócios baseados em patentes e softwares da Unicamp. A iniciativa está hoje em sua 8º edição e já capacitou mais de duas mil pessoas em metodologias de modelagem de negócios.
Com experiência em grandes corporações e doutor em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Virgílio é um empreendedor em série. Hoje ele está à frente da empresa de treinamento e consultoria FM2S e também será um dos palestrantes convidados do Workshop de Lean Canvas, principal atividade de capacitação do Desafio Unicamp. No evento, ele contará um pouco sobre sua trajetória empreendedora e compartilhará dicas valiosas para ajudar a construir sua startup.
Confira abaixo a entrevista:
Inova – Por que decidiu seguir a carreira como empreendedor?
Virgílio Marques – Um fator que influenciou muito foi a família. Com avô empreendedor e pai empreendedor, desde a infância ouvi muitas aventuras do que era empreender. Além disso, tive contato com ofício desde cedo e pensava em empreender com o objetivo de criar uma grande empresa, na qual conhecimento e pessoas de talento pudessem ser remunerados de acordo com sua capacidade e dedicação.
I – Quais características são essenciais para um bom empreendedor?
VM – Humildade para entender que sem as pessoas certas a empresa não vai a lugar algum, não importando o quão inteligente você é. Ser “cara de pau”, pois ninguém vai bater na sua porta querendo comprar sua ideia ou produto. Resiliência para aguentar o sofrimento por alguns anos, ganhando menos que todos seus colegas de faculdade até a empresa se consolidar. E vontade de aprender, não tendo vergonha de falar que não sabe publicamente. Em Resumo: Humildade, Resiliência e fazer tudo que for preciso para alcançar a meta projetada.
I – Você é doutor pela Unicamp e também atuou em grandes empresas, como a Ambev. À frente da FM2S, como estas duas experiências influenciam seu dia-a-dia e se complementam para tomadas de decisão?
VM – No doutorado, aprendi muito sobre como aprender. O método científico é a base de nossas tomadas de decisão e estudos realizados para resolvermos os problemas que encontramos na gestão da FM2S. Aprendi também que 6 horas de pesquisa em bibliografia séria economizam 6 meses de trabalho árduo de tentativas e erros.
Na Ambev, aprendi a importância de gente muito boa e engajada na equipe, de metas claras e definidas e da gestão da rotina. Na minha primeira experiência empreendedora faltou muito a capacidade de gerir a rotina e cuidar da equipe. A Ambev, que é ícone nesses temas, foi uma grande escola.
I – A integração entre academia e mercado é uma das principais características do Desafio. Qual a importância de iniciativas como estas para o ecossistema local?
VM – Ao meu ver, só conseguiremos ser o país que sonhamos no dia que integrarmos o mercado e a academia. O potencial que a academia gera, seja por meio de tecnologias, artigos, pesquisas, ensino e extensão, é enorme. Se conseguirmos adequar o empreendedor do futuro a utilizar esse potencial em seus negócios, vejo que um crescimento sustentável de 3% do PIB se tornará realidade. Além disso, a produtividade das empresas e a qualidade de vida de seus colaboradores será muito maior. E, com os resultados gerados pelas empresas, será possível fomentar mais investimentos para que a academia continue gerando pessoas brilhantes e conhecimento novo para o mercado.
I – Qual seu principal conselho para jovens empreendedores? Quais oportunidades o contexto atual do Brasil possibilita para eles?
VM – Meu avô dizia que qualquer negócio, bem tocado, teria sucesso. Hoje, mais do que nunca, penso que tal afirmação é verdade. Se você começar a empreender com o mindset de crescimento ativo e conhecimento do método científico, conseguirá ter sucesso. A exigência de capital ou estrutura para a abertura de um negócio estão cada vez menores, o que diminui a barreira de entrada e permite que qualquer um possa sonhar em empreender. Para construir peças metálicas, não é mais necessário ter uma grande usinagem, basta uma impressora 3D. Quase tudo que precisará para começar o negócio, poderá ser adquirido via serviço de terceiros ou software as a service. Seja na indústria 4.0 ou na prestação de serviços de alimentos ou bebidas, passando pela produção de cerveja e bebidas artesanais, o Brasil é um mar de oportunidades.
I – Nos últimos anos, o tema empreendedorismo tem ficado cada vez mais em alta e gerado crescente interesse. Você acredita que as pessoas estão mais dispostas a empreender e criar novos negócios? Qual o impacto de trazer o empreendedorismo, ainda mais o de base tecnológica, para o centro do debate?
VM – Acredito que as pessoas estão descobrindo que empreender é uma carreira como outra qualquer. Não é algo para grandes gênios sonhadores e nem para pessoas desempregadas. É uma carreira como outra qualquer, com seus prós e contras. Com cada vez mais gente conhecendo essa carreira e suas possibilidades, penso que o empreendedorismo será um grande motor do desenvolvimento do Brasil nos próximos anos, principalmente na área de serviços. Quanto ao empreendedorismo de base tecnológica, penso ser a única saída para aumentarmos a produtividade de nossa mão de obra e, colocarmos de uma vez por todas na sociedade, a necessidade de apoio e expansão da educação de qualidade.
I – Criado em 2011, o Desafio caminha para sua oitava edição. O que destacaria como o principal fruto da competição? O que os participantes podem esperar desta imersão em empreendedorismo?
VM – Como principal fruto destacaria o espírito e a capacitação empreendedora plantada nos alunos. Hoje, 8 anos de depois a idealização, é fácil encontrar ex-participantes do Desafio Unicamp empreendendo. Além disso, a discussão do empreendedorismo se fortaleceu nos bancos das faculdades e nas bancadas dos laboratórios, muito por conta do envolvimento com a competição, pela quantidade de pessoas e instituições que a competição movimenta.
Interessado em participar do Desafio Unicamp 2018? Ainda dá tempo! As inscrições vão até dia 25 de março e podem ser realizadas aqui.
Sobre o Desafio Unicamp 2018
O Desafio Unicamp é uma competição de empreendedorismo baseada em tecnologias da Unicamp. A iniciativa está na oitava edição e é organizada, anualmente, pela Inova Unicamp. São patrocinadores desta edição a Clarke, Modet &Co, a FM2S Consultoria, a Baita Aceleradora e a Cervejaria Ambev. A iniciativa conta com o apoio da Rede Global do Empreendedorismo Campinas, da Venture HUB, do Founder Institute, da Incamp e da Liga Empreendedora, da Anjos do Brasil, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, do Núcleo de Empresas Juniores da Unicamp, do CIESP Campinas e Associação Campinas Startups.