15 de junho de 2020 Medicamento da Unicamp reduz a ocorrência de tumores malignos na bexiga
Texto: Kátia Kishi
Foto: Pedro Amatuzzi
Um dos tumores malignos mais comuns que aflige o sistema urinário é o câncer de bexiga músculo não-invasivo, aquele mais superficial que não atingiu o músculo interno do órgão. Esse tumor maligno representa 70% dos casos de doenças no trato urinário e é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a nona neoplasia mais comum no mundo. Para se dimensionar a gravidade do problema, dados da OMS apontam que só em 2018 foram diagnosticados 550 mil casos novos no mundo que atingem, principalmente, pessoas idosas.
Hoje, o tratamento mais comum para esse tipo de câncer que não invade a camada muscular da bexiga é uma cirurgia para raspar o tumor, seguida pelo tratamento com uma vacina baseada no Bacilo Calmette-Guérin, mais conhecida como ONCO BCG e também usada como base da vacina de prevenção de tuberculose, para se evitar que o tumor retorne e/ ou progrida.
No entanto, segundo o professor Wagner Fávaro do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB Unicamp), há dois problemas nesse tratamento convencional: primeiro, que aproximadamente 70% dos pacientes que se submeteram a ele tiveram recidiva sendo forçados ao mesmo tratamento e, em casos mais graves ou de uma nova recidiva, submetidos à retirada da bexiga seguido de quimioterapia, que tem uma taxa de falha de 80% dos casos e com efeitos colaterais.
O segundo problema para esse tipo de tratamento é a falta mundial de abastecimento de medicamentos à base de BCG, sendo que o único laboratório brasileiro que produzia, com exclusividade, esse medicamento foi interditado em 2019 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por não cumprir requisitos técnicos de boas práticas para a produção de medicamentos.
OncoTherad: uma alternativa de tratamento
Nesse cenário e após 13 anos de pesquisa com carcinogênese urogenital, Fávaro em parceria com o professor Nelson Durán do Instituto de Química (IQ Unicamp) desenvolveram um novo medicamento menos agressivo chamado OncoTherad, cuja marca e patente foram protegidas pela Agência de Inovação da Unicamp para a Universidade.
Trata-se de um nanofármaco, uma molécula totalmente sintética produzida em laboratório, que ao ser usado no tratamento com aplicações intramusculares estimula o sistema imunológico para combater o tumor, com uma taxa de sucesso de 88,5% para animais e 80% em seres humanos, conforme detalhou o docente sobre o desenvolvimento e resultados do medicamento.
Após os resultados positivos em animais e com a autorização da comissão de ética da Unicamp, os ensaios clínicos evoluíram para pessoas cujo tratamento tradicional falhou e estavam sem perspectiva terapêutica.
O ensaio clínico aconteceu em parceria com o Hospital Municipal de Paulínia, interior de São Paulo, onde há o Ambulatório de Urologia e Imunoterapia, visto que o medicamento se enquadra na categoria de imunoterapia ao estimular o sistema imunológico.
Novas etapas para o medicamento ir para o mercado
A próxima etapa para se ter a autorização da Anvisa e da Food and Drug Administration (FDA), órgãos reguladores no Brasil e nos Estados Unidos respectivamente, que garantem a segurança e eficácia do medicamento para poder ir para o mercado são os resultados de ensaios clínicos multicêntrico multinacional.
Isso significa que o mesmo protocolo utilizado com os pacientes do Hospital Municipal de Paulínia deve ser aplicado em outros centros dentro e fora do Brasil. Para prosseguir com esses ensaios, os pesquisadores fundaram uma empresa spin-off da Unicamp chamada CND Pharma, que em 2019 licenciou a patente e a marca do OncoTherad para produção do medicamento para uso veterinário e humano.