11 jun Parceria entre Unicamp e Saúde Pública busca validar novo teste de Covid-19
Baseada em inteligência artificial, a tecnologia desenvolvida na Unicamp pode ser aplicada em outros setores industriais, além da saúde
Texto: Caroline Roxo | Foto de capa: Pedro Amatuzzi
Tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Unicamp usa inteligência artificial na realização de diagnósticos em nível molecular. A técnica de análise de espectrometria de massa por inteligência artificial foi licenciada, com o apoio da Inova Unicamp, para o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) em uso exclusivo para testes de Covid-19. A detecção é feita a partir de uma amostra de sangue do paciente, na qual é gerado uma assinatura numérica que mostra alterações causadas pelo coronavírus.
“Quando inserimos a amostra de sangue no espectrômetro, é feita a separação do sangue e do plasma, e, posteriormente, o espectrômetro gera uma assinatura numérica, em torno de 14 e 15 mil números, que são as moléculas presentes no plasma. A partir dessas moléculas é verificado se há alguma alteração, no caso, a presença do vírus”, explica o professor Anderson Rocha, um dos inventores da tecnologia.
O Lacen é uma rede de laboratórios nacionais que respondem à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), portanto, os testes realizados pelo Lacen direcionam os resultados para a Anvisa a fim de obter o registro de regulamentação do produto. Os testes estão sendo feitos por meio de coleta de amostras de pacientes em hospitais de Santa Catarina. Após a coleta, o Lacen submete as amostras no espectrômetro e compara com os mesmos resultados obtidos pelo teste PCR.
Rocha também conta que o Lacen já colheu diversas amostras e, para auxiliar na validação do serviço, eles também estão coletando amostras em São Paulo e fazendo a comparação entre os resultados do espectrômetro e do exame PCR.
“Estamos auxiliando o Lacen nas coletas e análises de amostras em São Paulo. Ao todo, buscamos uma amostragem de 300 testes realizados pelo espectrômetro”, relata.
O algoritmo de inteligência artificial usado no espectrômetro, quando treinado para encontrar padrões, detecta, de forma automática, biomarcadores com qualquer alteração nas moléculas. O custo deste equipamento para os testes de Covid-19 é inferior quando comparado ao exame PCR, além de apresentar os resultados mais rápido e de ser possível identificar se o paciente possui maiores riscos de desenvolver manifestações graves da doença.
Outras aplicações e potenciais licenciamentos
A tecnologia desenvolvida por Anderson Rocha e Rodrigo Catharino, com a ajuda dos pesquisadores e co-inventores Luiz Navarro e Jeany Delafiori, possui indícios de efetividade em aplicações para análise de outras doenças, como Alzheimer e Zika vírus. Além das aplicabilidades para uso no setor médico, a invenção também se emprega para diversas funcionalidades e indústrias na resolução de problemas, como no setor alimentício, agropecuário e farmacêutico. Anderson Rocha exemplifica o controle de qualidade, no que estão trabalhando atualmente.
“Existem muitas denúncias de falsificação alimentar, a exemplo do leite. E nossa invenção pode identificar se há presença de adulterantes nesses produtos”, expõe o pesquisador.
Outra aplicabilidade que eles estão testando no setor alimentício é para a verificação de azeite e carne. “Temos uma aluna do doutorado que irá começar essas análises. Ela, em parceria com a EMBRAPA, vai verificar, principalmente, a existência de adulterantes em carne bovina, estudando a presença de contaminantes, como ácido ascórbico (vitamina C) e Salmonella, a fim de melhorar a qualidade desses alimentos”, explica Rocha.
Um dos maiores anseios dos pesquisadores é atingir empresas como a BRF e JBS, já que a tecnologia, além de ser de fácil manuseio por profissionais qualificados, ainda oferece baixo custo. De acordo com Rocha, para fazer a amostragem de carnes e alimentos, é possível realizar uma análise conjunta, combinando amostragens.