09 jun Farinha de soja é fonte inovadora para a produção de ácido hialurônico
Texto: Ana Paula Palazi
Foto: Pedro Amatuzzi
Com o envelhecimento da população brasileira, tem aumentado a procura por métodos e fórmulas capazes de frear os sinais da idade. Hoje, o país ocupa a segunda posição no ranking de procedimentos estéticos, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). De olho nessas mudanças, a BR Hyaluronic trabalha com a utilização de farinhas comestíveis como fontes alternativas para a produção microbiana de ácido hialurônico, um importante aliado da indústria farmacêutica e cosmética.
A BR Hyaluronic é uma empresa spin-off da Unicamp, criada por Rhelvis de Campos Oliveira, ex-aluno que concluiu o doutorado na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp. Rhelvis desenvolveu, durante o seu doutorado e sob orientação da professora Maria Helena Andrade Santana, um novo processo de produção de ácido hialurônico a partir de farinha de soja e por fermentação microbiana.
O processo foi patenteado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp e licenciado para a empresa.
“O grande diferencial de nossa tecnologia está no uso da soja. Nossa aposta é reduzir em cerca de 40 vezes o custo inicial de produção, quando comparado com outras matérias-primas como a peptona de soja e o extrato de levedura que chegam a custar mais de US$ 200/kg.”, afirma Rhelvis.
O empreendedor explica que o grau de pureza e a massa molar são parâmetros importantes para definir o valor agregado e o tipo de aplicação do ácido hialurônico, que pode ser usado desde a formulação de cremes, suplementos e colírios até preenchimentos faciais e cirurgias de reparação. Ele lembra que, apesar da sua importância, o Brasil não produz a substância em escala industrial e precisa importar o produto de outros países. A China é a principal fornecedora.
“O que nós temos, por enquanto, é um produto com preço e custo de produção capazes de competir com o mercado chinês, levando em consideração todas as taxas pagas para importação. Mas queremos ir além”, disse Rhelvis.
O ácido hialurônico é produzido naturalmente por humanos e animais. Ele tem a função de preencher os espaços entre as células. Mas, à medida que envelhecemos, essa produção diminui, reduzindo também a hidratação e elasticidade da pele.
As moléculas de ácido hialurônico foram isoladas pela primeira vez em 1934, a partir do humor vítreo de bovinos – gel aquoso situado entre o cristalino e a retina. E até hoje, a substância é extraída por via animal a partir da crista do galo. Mas a busca por meios alternativos tem ganhado cada vez mais atenção da indústria.
Em cosméticos, por exemplo, ele possui a capacidade de hidratar a pele e atenuar rugas. Favorece o tratamento de feridas, auxilia no processo de cicatrização e contribui para evitar a morte celular, pois tem propriedade anti-apoptóticas. Na medicina, pode ser usado no tratamento de osteoartrite e cirurgias oftalmológicas.
Uma das principais formas de obtenção do ácido hialurônico é por meio de processos biotecnológicos com microrganismos conhecidos como Streptococcus zooepidemicus. Eles produzem o ácido hialurônico como uma resposta a situações de stress no meio em que estão. Mas, para isso, são necessárias fontes de nitrogênio (proteínas e aminoácidos) e carbono (açúcares).
Com a farinha de soja seria aberta a possibilidade de redução dos custos de purificação do ácido hialurônico, em se tratando de uma fonte menos solúvel que a peptona de soja ou extrato de levedura. Os resultados de análises demonstram atendimento às especificações cosméticas de aplicação em relação à carga de proteínas. Atendidas todas as especificações, a empresa espera otimizar a eficácia do ácido hialurônico aplicado em cremes que objetivam a atenuação de rugas.
Rhelvis destaca, ainda, o potencial da produção com farinhas comuns para aplicações médicas intradérmicas. A fonte vegetal apresenta vantagens como menor probabilidade de rejeição, por conter cadeias curtas de proteínas quando comparada ao composto de origem animal e maior segurança em relação à possibilidade de contaminação por vírus.
O desafio, agora, é reduzir ainda mais os custos com o meio de cultura substituindo a soja por outras fontes como farinha de feijão branco, grão de bico e aveia.
“Iremos comparar os resultados para ver qual será melhor e mais interessante. Se, por exemplo, a farinha de aveia produzir uma quantidade maior [de ácido hialurônico] em relação ao produto da soja e for mais viável, utilizaremos a aveia”, explica Rhelvis.
A startup também pretende aplicar fontes vegetais orgânicas credenciadas para atender a um anseio do mercado de produtos naturais e orgânicos. Com isso, espera tornar possível a produção do primeiro ácido hialurônico orgânico no Brasil com preço competitivo e de alta qualidade em cerca de um ano.
As fontes vegetais com certificação orgânica de qualidade possuem como principais vantagens a ausência de agrotóxicos e transgênicos. A utilização dessas fontes agregaria maior confiabilidade ao ácido hialurônico produzido perante todas as áreas de aplicação, médica e cosmética.