20 mar Sistema de análise de Geração Distribuída
Software de cotitularidade da Unicamp e Cemig, desenvolvido com recursos do programa de P&D da ANEEL, permite rápidas análises sobre os impactos das micro e mini usinas de geração de energia nas redes de distribuição
Por Kátia Kishi
Desde 2012, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) autorizou que o consumidor brasileiro gerasse sua própria energia, a cada ano quase dobra o número de solicitações para conectar uma unidade de geração distribuída com a rede de energia da localidade.
Entre todos os estados brasileiros, Minas Gerais é o que lidera as conexões com 10.289 unidades de geração de energia (18,64%), seguida por São Paulo com 10.086 unidades (18,27%), em sua maioria de energia fotovoltaica.
De acordo com Gustavo Rodrigues, gerente de Pesquisa Desenvolvimento & Inovação da Axxiom que é subsidiária da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a adesão a tecnologias de mini ou micro geração distribuída vem crescendo bastante no pais. “Principalmente a adesão a tecnologias que usam fontes renováveis para a geração de energia, tais como a luz do sol, o vento e a biomassa, cujos custos de implantação vêm caindo bastante ano a ano, associando-se a redução da conta de energia e a uma relação mais sustentável dos ‘prossumidores’ (produtores e consumidores) com o meio ambiente”, explica.
Apesar dos diversos benefícios da geração distribuída, há um consenso entre empresas concessionárias, pesquisadores e o setor público de que ainda são necessários estudos visando cuidados na operação e manutenção dessas micro usinas, em função dos impactos negativos que elas podem causar na rede de energia como: curtos-circuitos e variações na tensão, que podem danificar aparelhos eletrônicos de residências e estabelecimentos comerciais nas redondezas.
Neste sentido, por resolução da ANEEL (nº 482/2012), as redes concessionárias de energia devem garantir a segurança nos casos de geração distribuída, o que motivou projetos com recursos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da ANEEL em parceria de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Universidade Estadual de Campinas (FEEC Unicamp) com a Cemig, a concessionária que recebe mais solicitações, conforme explica um dos docentes da Unicamp responsáveis pelo projeto, Luiz Carlos Pereira da Silva: “Quando se tem um novo sistema de energia, tem-se que fazer alguns estudos para entender quais são os impactos que essa usina nova vai produzir na rede elétrica. Se a quantidade de usinas é pequena, um grupo de engenheiros consegue estudar caso a caso, mas quando essa quantidade cresce aos milhares, como temos visto na chamada micro geração residencial, o custo de recursos humanos é imenso, por isso desenvolvemos um software de análise dos impactos”.
Ainda segundo o docente da Unicamp, o software desenvolvido em parceria com a Cemig fi ltra todos os casos de geração distribuída de energia e elenca diversos tipos de problemas: tanto os mais simples, que podem ser solucionados à distância, como os mais graves, que demandam uma equipe especializada para troca de equipamentos.
O software em questão é o SisGD (Sistema Computacional de Análise de Geração Distribuída). Wagner Tavares, gerente de desenvolvimento da Axxiom, avalia que o SisGD reduz em até 80% o tempo gasto na análise técnica das solicitações, além de alcançar resultados mais precisos. A empresa licenciou o software com exclusividade a fim de o comercializar para outras concessionárias que buscam levar mais segurança aos usuários, frente ao desafi o da multiplicação de mini e microunidades de geração de energia distribuída
Produtor e consumidor de energia
Um dos fatores que leva à multiplicação recente das mini e micro usinas de geração e energia é que a resolução da ANEEL também determina que, além de consumir a energia produzida, a pessoa que optar em ter uma micro usina em casa também poderá vender o excedente de energia produzido para a rede de distribuição local, criando um “crédito de energia” que não pode ser revertido em dinheiro, mas pode ser usado para abater o custo de um possível consumo. Seria como se a rede de energia fosse uma bateria de armazenamento mais viável do que realmente adquirir uma bateria no Brasil.
Rodrigues comenta que esta resolução inaugura a era do “prossumidor” no setor elétrico brasileiro. O conceito, explica o gerente de P, D&I, se refere ao empoderamento do cliente, que não só consome, mas também produz e se relaciona com a energia e seus fornecedores de forma mais ativa, muito atento aos custos, mas também à qualidade da energia fornecida. “Será um longo processo de aprendizagem com grande impacto em todo o setor de energia”, mensura Rodrigues.
O gestor destaca, entretanto, a necessidade de realmente conectar essas mini e micro usinas de geração distribuída com a rede concessionária de energia para se garantir o fornecimento com segurança e sem interrupção. “A grande maioria das unidades de geração distribuída de energia são fotovoltaicas, ou seja, por placas solares, fonte que não permite garantia de disponibilidade permanente, pois elas podem reduzir ou interromper a produção em dias nublados ou ao anoitecer. O mesmo ocorre com as unidades eólicas que dependem do vento para produção”, informa.
De acordo com dados da ANEEL, há predominância na geração distribuída a partir de placas solares em todos os estados do país e a tendência é de crescimento, sendo que a região com maior produção atualmente é a Sudeste (45,7%), seguida pela região Sul (30%), enquanto a Nordeste, que tem um grande potencial de expansão da energia fotovoltaica, carrega apenas uma fatia de 11,4% de todas conexões.
Antevendo a crescente adesão, o gerente de P,D&I da Axxiom avalia a parceria com a Unicamp para desenvolvimento e licenciamento do SisGD, como um projeto com grande potencial de impacto positivo na sociedade: “O desenvolvimento tecnológico só se concretiza quando atinge a sociedade. Os modelos de parcerias que simplificam ou fomentam as parcerias e transferência tecnológica entre a universidade e empresas são fundamentais para que isso ocorra de forma mais ampla e ágil. Podemos melhorar a qualidade de vida das pessoas com o conhecimento gerado, como faz o SisGD, que dá mais segurança à operação das redes de distribuição e velocidade no atendimento aos clientes”