04 jul Jambu, da pomada anestésica ao extrato alimentício
Texto: Carolina Octaviano
Foto: Pedro Amatuzzi
O jambu, planta amplamente utilizada na culinária da região Norte do país, vai, muito em breve, fazer parte da alimentação do dia a dia do brasileiro de outras regiões e, quem sabe, do mundo. Esta é a proposta da startup Especiarias Amazônia, que licenciou uma tecnologia oriunda dos laboratórios do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp para obter um extrato de jambu mais puro. Com o emprego da tecnologia, a empresa desenvolveu um produto semelhante ao orégano, mas com os benefícios já conhecidos do jambu, que pode ser utilizada como tempero culinário.
O grande diferencial do processo licenciado é, além da pureza, a presença de espilantol, substância conhecida por suas propriedades antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias e que vai permitir à startup ampliar a gama de oferta de produtos no longo prazo – como uma pomada anestésica para tatuagens. “Além do desenvolvimento de uma linha de produtos de maneira rápida e eficiente, percebemos que, com a mudança para o mercado alimentício, seria possível lançar um produto inexistente no mercado”, conta Danúbio Martins, fundador da startup.
Para o futuro próximo, a empresa mira o mercado de bebidas alcoólicas e não alcoólicas. “Queremos expandir a utilização também na formulação de um chá antioxidante com propriedades afrodisíacas”, revela Martins.
No caso dos produtos alimentícios, primeira linha de lançamentos da empresa, a aposta da Especiarias Amazônia está, justamente, na sustentabilidade e no desenvolvimento de produtos baseados na biodiversidade brasileira. Com tecnologia desenvolvida nacionalmente e utilizando uma espécie da flora amazônica, a Especiarias Amazônia vai fornecer ao mercado produtos 100% brasileiros. “Nossa empresa tem um apelo biotecnológico e, por isso, queremos desenvolver produtos mais eficientes e que tragam benefícios para a saúde”, aponta Martins. A empresa já conta com um sítio piloto com certificação orgânica para plantio em larga escala. “É preciso conhecer o passo a passo, desde o plantio até a extração”, frisa Danúbio. A empresa também está realizando pesquisas para desenvolvimento de um produto orgânico substituto da toxina botulínica, para fins estéticos.
Mirando o desenvolvimento de suas habilidades de negócios, a Especiarias Amazônia também deu início, recentemente, a seu processo de incubação na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). A empresa foi aprovada no edital de seleção de empresas para incubação no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, realizado por meio de uma parceria entre a Incamp, a Prefeitura Municipal de Paulínia e o Parque Tecnológico e Empresarial Galileo. “A incubadora nos proporciona um acesso mais rápido a especialistas da Unicamp, e ao mesmo tempo, por meio da consultoria de negócios, nos ajuda com o desenvolvimento de produtos, fazendo com que eles cheguem mais rápido ao mercado”, comenta o empreendedor.
Sobre a tecnologia
O processo desenvolvido na Unicamp, e licenciado, permite a obtenção de extrato de jambu mais simples, com menos etapas e menor toxicidade, por meio da utilização de carvão ativado. Este processo de purificação do jambu consegue obter 40% de espilantol e sem clorofila. “A tecnologia é inovadora em razão de sua grande flexibilidade de aplicação, pois permite produzir extratos para diversas áreas, desde produtos farmacêuticos, cosméticos, sensuais, alimentícios, odontológicos e outros”, destaca Rodney Ferreira Rodrigues, responsável pela tecnologia. Ele conta ainda que, embora haja tecnologias semelhantes no mercado, elas não são tão versáteis, em termos de uso, quanto a desenvolvida nos laboratórios da Unicamp por ele, pelos professores Francisco Carlos Groppo, João Ernesto de Carvalho e pela doutora Verônica Santana de Freitas Blanco.
O pesquisador da Unicamp enxerga que, por meio da enorme gama de aplicação tecnológica, o desenvolvimento da tecnologia demonstra sinergia com as demandas de mercado. Para ele, o contato com a empresa, durante o processo de transferência da tecnologia, foi bastante positivo. “A empresa se mostrou bastante aberta às tendências de mercado e, assim, optou por um portfólio variado de forma a abrir novas demandas para tecnologia”, avalia. Rodrigues ressalta, além da aplicação em diversos segmentos da indústria, o baixo custo da tecnologia. “Para atender ao mercado necessitamos baixo custo e flexibilidade, assim privilegiamos tecnologias simples e baratas e de impacto ambiental baixíssimo”, diz.
Originalmente publicado no Jornal da Unicamp.