11 out Tecnologias para a sociedade
Formar alunos que venham a atuar com destaque em diversas áreas da sociedade faz parte da missão da Universidade. Todavia, além dos milhares de graduados procedentes da Unicamp a cada ano, outro resultado tangível da influência do trabalho na academia é a utilização de tecnologias originadas da pesquisa universitária em benefício da sociedade.
Entre os casos de grande êxito da Unicamp está uma tecnologia conhecida como Low Trans, utilizada hoje pela Cargill na substituição da gordura trans em biscoitos e outros produtos. A Low Trans é resultado da pesquisa da professora Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves e do pesquisador Renato Grimaldi, ambos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Desenvolvida em parceria com a empresa, por meio de um projeto colaborativo realizado na Universidade, a tecnologia foi licenciada com exclusividade e representa uma resposta rápida para uma demanda: a substituição da gordura trans sem perda de qualidade do produto ou alteração integral do processo de produção.
“Nosso desafio foi deixar os alimentos livres de gorduras trans e de saturados e, ao mesmo tempo, manter toda a infraestrutura da empresa”, explica Lireny. De acordo com a docente, a equipe utilizou matérias-primas adequadas e alterou a cristalização dos biscoitos. “A indústria não fez um investimento alto para modificar a linha e conseguimos implementar a Low Trans de maneira ideal, sem muitas alterações”, afirma a professora.
Se, para a empresa, a aplicação trouxe resultados imediatos, com poucas adaptações na produção – a Cargill já internacionalizou a tecnologia para o Chile e Argentina –, para o consumidor final, os benefícios são claros: um produto mais saudável, que não possui gordura trans ou saturados, elementos prejudiciais à saúde. “Para nós, é uma satisfação trabalhar com a nutrição humana e representar a saúde do dia a dia”, expressa Lireny.
Outra tecnologia de impacto importante, neste caso ambiental, é a desenvolvida pelo professor Oswaldo Luiz Alves, do Instituto de Química (IQ). A tecnologia é voltada para a remediação de fluidos de indústrias papeleiras e têxteis. De acordo com Alves, normalmente, essas indústrias utilizam grande quantidade de corantes e há a necessidade de eliminar a coloração desses efluentes antes de lançá-los ao rio. “A tecnologia desenvolvida permite essa descoloração e não causa alterações significativas nas propriedades de sorção”, afirma.
Resposta para um problema ambiental, a pesquisa é, de acordo com o professor, fruto da parceria de trabalho com o aluno Odair Pastor Ferreira, hoje coordenador de pesquisa na Contech, empresa que licenciou a tecnologia e a comercializa desde o começo do ano. Para o professor, a Agência de Inovação Inova Unicamp teve papel fundamental no processo que levou a tecnologia da Universidade para o mercado: “Trata-se de um percurso clássico: tese, patente, licenciamento e absorção pelo mercado. A Inova foi muito importante em todo o processo de depósito da patente e negociação com a empresa. Além disso, a regulamentação que temos dentro da Universidade permite que tenhamos um envolvimento profícuo com o setor produtivo”, acrescenta.
A utilização de outra tecnologia desenvolvida na Unicamp – e disponível no mercado – pode ser de grande valor na saúde neonatal. O Kit Surdez, comercializado para a empresa DLE (Diagnósticos Laboratoriais Especializados Ltda), é resultado do trabalho da professora Edi Lúcia Sartorato, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG). A docente recebeu o Prêmio Governador do Estado no ano de 2001 em razão desta pesquisa.
Segundo a professora Edi, o diferencial de sua tecnologia frente ao teste do pezinho convencional é que, enquanto o exame convencional abrange apenas quatro doenças – fenilcetonúria, hipotiroidismo congênito, fibrosa cística e anemia falciforme –, o kit detecta uma mutação que, em dose dupla, é a principal causa da surdez genética. De acordo com o coordenador do departamento de relacionamento e marketing da DLE, Paulo Abrantes, esse procedimento pode ser extremamente benéfico para o recém-nascido. “O diagnóstico da surdez antes dos três meses de idade possibilita o tratamento especializado, minimizando as consequências sobre a comunicação verbal e o aprendizado da criança”.
A professora Edi explica que, em razão da importância deste teste, existe um projeto de lei para torná-lo obrigatório nas maternidades. “Mas está ainda distante da realidade”, pondera. Para Abrantes, o trabalho conjunto entre comunidade acadêmica e mercado é de grande relevância para o desenvolvimento detecnologias que permitam a utilização pela sociedade, propiciando melhor qualidade de vida e bem-estar. “A surdez é o deficit sensorial mais comum nos seres humanos. Por isso, devemos continuar no trabalho de divulgação e conscientização da importância do teste de surdez genética”, afirma Abrantes.
Ainda na área da saúde, outra tecnologia da Unicamp absorvida pelo mercado foi desenvolvida pelo professor Benedicto de Campos Vidal, do Instituto de Biologia (IB). Licenciada para a empresa Silvestre Labs Química e Farmacêutica Ltda, que a comercializa na área odontológica, a tecnologia apresenta soluções de continuidade, como falta de material ósseo, decorrente de uma patologia ou de uma intervenção cirúrgica, e pode ser utilizada com aplicações na odontologia e medicina, diminuindo o tempo cirúrgico e facilitando os procedimentos operatórios.
De acordo com o diretor presidente da empresa, Eduardo Cruz, o produto para enxertia óssea foi lançadono mercado após a realização das etapas de ordem técnica/regulatória e a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A empresa utilizou a tecnologia como base para desencadear diversas etapas que culminaram com a produção de um enxerto ósseo, vendido hoje aos dentistas”, afirmou. Eduardo ressalta a importância da parceria entre comunidade acadêmica e empresa: “Agências de inovação como a Inova possuem papel fundamental, pois servem de ponte para que a comunicação e o relacionamento entre ambas as partes tenham qualidade e eficiência”.
Inventores são premiados
Com o intuito de homenagear docentes e pesquisadores da Unicamp com tecnologias transferidas para a sociedade por meio de licenciamentos para empresas e outras instituições, a Reitoria da Universidade e a Agência de Inovação Inova Unicamp realizaram a quarta edição do Prêmio Inventores Unicamp no último dia 30 de setembro, no auditório do Conselho Universitário (Consu). Ao todo, doze professores e uma unidade – o IB – foram premiados em três categorias: Tecnologia Absorvida pelo Mercado, Tecnologia Licenciada, e Destaque na Proteção à Propriedade Intelectual, destinada ao instituto com o maior número de pedidos de patentes realizados no ano.
Cinco pesquisadores – Renato Grimaldi e os professores Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves, Oswaldo Alves, Edi Sartorato e Benedicto de Campos Vidal – inventores das quatro tecnologias já comercializadas, receberam o prêmio de maior destaque na premiação – de Tecnologia Absorvida pelo Mercado. Estes professores merecem mérito especial, pois, de acordo com o professor Roberto Lotufo, diretor-executivo da Inova, a procura de parceiros para o desenvolvimento complementar das patentes da Universidade e a celebração do contrato de licença de exploração são apenas o início do processo para que a tecnologia se transforme em inovação. “A tecnologia se torna um caso de sucesso quando o produto é absorvido pelo mercado e chega à população e ao cidadão”, afirma.
Outros seis professores – Adilma Regina Pippa Scamparini, Daniel Barrera Arellano e Fernando Antonio Campos Gomide, da FEA; Alexandre Xavier Falcão, do IC; Leonardo de Souza Mendes, do FEEC; e Marcelo Ganzarolli de Oliveira, do IQ, além de Vidal, Lireny e Grimaldi, foram homenageados na categoria Tecnologia Licenciada, pelo licenciamento do resultado de suas pesquisas no ano de 2010.
De acordo com a diretora de propriedade intelectual e transferência de tecnologias da Inova Unicamp, Patricia Magalhães de Toledo, os resultados das pesquisas acadêmicas podem ter um impacto positivo e abrangente na sociedade: “Diversos produtos que beneficiam milhares de pessoas são resultados de tecnologias originadas na pesquisa acadêmica, que foram licenciadas para empresas e lançadas no mercado”, afirmou a diretora.
Já o reitor da Unicamp, professor Fernando Costa, finalizou a cerimônia comentando sobre o próximo desafio da Unicamp relacionado ao trabalho de pesquisa e inovação: “O que produz grandes inovações é a realização de um trabalho conjunto, geograficamente próximo, entre pesquisadores de diversas áreas. Uma universidade como a Unicamp possui potencial para contribuir com o progresso da sociedade, especialmente quando se trabalha em áreas conjuntas”, completou.
O Prêmio Inventores Unicamp é realizado anualmente e a Agência disponibilizou um blog com a memória do evento em: www.inova.unicamp.br/premioinventores.