Empresa-filha da Unicamp lança no mercado nutracêutico feito com casca de jabuticaba

Composto feito da jabuticaba em pó sendo espalhado em cima da mesa

Texto: Caroline Roxo | Foto de capa: Arquivo pessoal Eduardo Aledo

Dois anos após o licenciamento, em caráter não exclusivo, de uma patente que revelou o poder do extrato de jabuticaba para a saúde, o nutracêutico MetaBody, feito a partir da fruta nativa do Brasil, chega ao mercado. A startup Rubian Extratos, empresa-filha da Unicamp, em parceria com a Herbaltec e com a farmacêutica Infinity Pharma, desenvolveu um composto que oferece soluções para distúrbios metabólicos, além de ser um aliado no controle do peso e na prevenção de comorbidades. 

Os nutracêuticos são nutrientes específicos e naturais presentes em um alimento. Eles oferecem diversos benefícios à saúde, como é o caso dos compostos, antocianinas e taninos, encontrados na casca da jabuticaba. Essas substâncias apresentam características antioxidantes e anti-inflamatórias, auxiliando na redução do colesterol ruim (LDL), no controle do ganho de peso, na prevenção da inflamação da próstata e, ainda, podem melhorar os níveis de açúcar no sangue.

A patente é fruto dos estudos do professor Mário Roberto Maróstica Júnior, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), da Unicamp, e da professora Valéria Helena Alves Cagnon Quitete que iniciaram um projeto pioneiro a partir da casca da jabuticaba. Com o auxílio da Agência da Inovação da Unicamp, as pesquisas desenvolvidas na Universidade geraram a patente que foi registrada no Instituto de Propriedade Intelectual e está disponível para licenciamento desde 2016.

O principal objetivo da empresa-filha foi transformar a tecnologia em estágio embrionário em um composto capaz de oferecer benefícios à sociedade.

“O propósito da Rubian é atuar como ponte entre o conhecimento acadêmico e a necessidade do mercado. A Universidade possui muita produção científica que pode ajudar as pessoas, mas [o mercado] necessita de produtos prontos que atendam o consumidor”, conta Eduardo Aledo, fundador da Rubian Extratos. 

Da Universidade para o mercado 

O composto está sendo comercializado no segmento magistral, que engloba as farmácias de manipulação, pela distribuidora Infinity Pharma na condição de insumo nutracêutico, chamado MetaBody. Os nutracêuticos são compostos que podem ser encapsulados e usados como matéria-prima de suplementos alimentares. De acordo com uma pesquisa do Euromonitor, o consumo de suprimentos alimentícios no Brasil está decolando, e o país já lidera o mercado latino de Suplementos, apresentando um crescimento de 3% ao ano. Em 2021, a previsão é que o setor atinja 1,4 bilhão de dólares. 

No entanto, a fabricação desses compostos leva tempo. É preciso realizar todo o processo de pesquisa com a comprovação dos resultados. Depois, adequar o produto às demandas do mercado consumidor, além de traçar um plano estratégico de comércio para que as pessoas tenham acesso aos benefícios do composto. Todas essas etapas foram vencidas pelo MetaBody, que já está sendo comercializado como matéria-prima para a preparação de fórmulas personalizadas e, posteriormente, busca entrar no setor industrial.

Uma das estratégias da Infinity é a valorização de produtos brasileiros. “Baseado em alguns compostos que trabalhamos, afirmo que mais de 90% são desenvolvidos em empresas do exterior”, conta Bruna Possebon, coordenadora de P&D na Infinity Pharma. O professor Mário Maróstica também observa essa dificuldade de inserção de tecnologias brasileiras no mercado nacional . “Ainda existe muita dificuldade em materializar as pesquisas da universidade, inserindo ciência no mercado consumidor.”, conta o docente.

O lançamento do produto aconteceu no dia 11 de fevereiro e o trabalho agora é de fortalecimento da marca. “O MetaBody já está sendo apresentado em eventos online para clientes e prescritores, através de treinamentos e materiais exclusivos para explicar os benefícios do produto”, diz a coordenadora. O foco da divulgação é ampliar o conhecimento sobre o nutracêutico em todas as regiões do Brasil. “Geralmente, um produto demora cerca de um ano para se fortalecer no mercado e atingir o número de clientes esperados”, expõe Possebon. 

Sustentável e regulamentado 

O produto apresenta baixo impacto ambiental, uma vez que os bioativos naturais são obtidos por meio de processos limpos. Além disso, o composto traz benefícios sustentáveis, já que a casca de jabuticaba, principal material para a produção do MetaBody, será fornecida por indústrias que, anteriormente, descartavam esse material. “Estamos fazendo parcerias com indústrias de sucos e geleias e com fazendas de jabuticabas, que irão fornecer os resíduos de casca de jabuticaba, fonte de matéria-prima para o processo extrativo”, defende Aledo.

A respeito da autorização dos órgãos regulatórios, os nutracêuticos se enquadram na categoria de alimentos e também devem obedecer a critérios regulamentados para serem considerados aceitáveis mediante a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“O produto comercializado pela Infinity Pharma, como matéria-prima, é destinado apenas para farmácias de manipulação, mediante prescrição e, por isso não necessita de registro; agora, em relação às regulamentações para comércio, já passamos por todas”, afirma Possebon.

Além da jabuticaba, outros suplementos feitos de frutas nativas do país e voltados à saúde e ao bem-estar estão entre as apostas da Rubian Extratos. Em outra patente licenciada com o auxílio da Inova Unicamp, a startup desenvolve um produto à base de urucum (Bixa Orellana). A tecnologia consiste em um complexo oleaginoso extraído da semente do fruto originário da América tropical, que também pode ser aplicado em tratamentos de emagrecimento e na prevenção de comorbidades.

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