Correio Popular | Campinas é a cidade do interior de SP com a maior quantidade de startups

É possível ver na imagem duas pessoas posicionadas para a foto. Trata-se de um home e de uma mulher, ambos estão utilizando camisetas polo pretas. Eles estão centralizados em um stand que contém destaques do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp ao fundo. Fim da descrição.

Publicado originalmente pelo Correio Popular

 

Campinas é a cidade do interior paulista com a maior quantidade de startups, 174. O número faz parte do Sebrae Startups Report 2024, plataforma do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas que agrega iniciativas de capacitação, conexão e fortalecimento de negócios em early stage (fase inicial) para fomentar o empreendedorismo. O estudo mapeou 4.038 startups instaladas em 214 municípios, o equivalente a um terço das 645 cidades paulistas.

Na Região Metropolitana de Campinas (RMC) estão instaladas 289 empresas, o equivalente a 7,15% do total paulista. Campinas sozinha tem mais startups do que a soma de todas as outras 12 cidades regionais onde há esse tipo de negócio. Para o consultor de empresas Rafael Piemonte, esse setor tem forte impacto e gera ganhos para a economia. “As startups emergem como catalisadoras de inovação, impulsionando mudanças significativas em diversas indústrias. Elas têm um seu papel fundamental no desenvolvimento econômico, na criação de empregos e na introdução de soluções inovadoras para desafios globais.”

O relatório do Sebrae apontou que as 10 primeiras cidades em número de startups, entre as 214 ranqueadas, têm seus ambientes integrados ao Sistema Paulista de Ambientes de Inovação (Spai), programa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI), que atualmente tem 50 ambientes credenciados. O Parque Científico e Tecnológico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tem 60 empresas incubadas e startups, atingindo sua capacidade máxima. O faturamento delas cresceu 19,25% em 2023 e chegou aos R$ 82 milhões, apontou o relatório de atividades divulgado em junho passado.

 

CRESCIMENTO

Para o diretor-executivo da Agência de Inovação da Unicamp, Renato Lopes, os números refletem o ambiente propício para o desenvolvimento de tecnologias disruptivas e para o empreendedorismo cultivado no ecossistema da universidade. “Os indicadores positivos demonstram que o ambiente e as ações do Parque Científico e Tecnológico e da Incubadora da Unicamp promovem conexões que estimulam novos negócios e parcerias. Em 2023, as startups e as incubadas relataram terem atingido 16 mil novos clientes em 48 mercados espalhados por mais de 360 cidades do Brasil e do exterior.”

O aumento do faturamento foi acompanhado de recordes. O grupo de startups instaladas no parque fechou o ano com o maior faturamento já registrado, um montante de R$ 79,7 milhões (97% do total). Já o segmento de empresas incubadas teve a maior alta em relação ao ano anterior, 130%, com um faturamento de R$ 2,3 milhões. A Unicamp é um dos principais agentes no ecossistema de inovação do Estado. É considerada a segunda universidade mais empreendedora do país, segundo o Ranking Universidades Empreendedoras (RUE) de 2023, se destacando pela sua integração entre pesquisa e setor empresarial, além da geração de negócios focados em inovação.

A Bioprocess Improvement é uma startup focada em processos biotecnológicos industriais (bioprocessos) incubada na Unicamp, onde encontrou o ambiente ideal para desenvolver suas pesquisas e conseguir recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para levar adiante seus projetos dentro do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe).

Fundada há seis anos por três ex-alunos de doutorado da Unicamp, ela já conquistou prêmios importantes. A startup foi vencedora na categoria inovação no Prêmio Empreendedor da Unicamp de 2024 e em 2021 ganhou o Prêmio Brasil Bioeconomia, na categoria Ideia, com o desenvolvimento do controle biológico de processos fermentativos industriais. A premiação é organizada pela Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) e tem como objetivo divulgar novas ideias, facilitar novas parcerias e proporcionar uma plataforma para celebrar os empreendedores do biofuturo.

A Bioprocess atua principalmente na produção de bioprodutos renováveis usados na produção de etanol, controle biológico de fermentações industriais, acompanhamento de contaminantes e no uso de um sensor virtual baseado em inteligência artificial. “Nós desenvolvemos tecnologias novas para substituir o uso de antibiótico, que é um produto químico, por uma alternativa biológica. Fazemos um coquetel de microrganismos para atacar as bactérias que contaminam o processo de produção. Com isso, substituímos o uso de antibiótico e tornamos o processo mais sustentável, mais natural. Além disso, melhoramos a eficiência do processo”, destacou um dos sócios-fundadores da startup, Marcelo Ventura Rubio.

De acordo com ele, o uso dos bioprodutos pode resultar em um ganho de produtividade de até 5% com a aplicação na mesma quantidade de etanol produzido em relação ao uso de produtos químicos. A taxa pode parecer baixa, mas ganha uma dimensão enorme ao se considerar o volume do mercado de um setor ávido pelo ganho na casa de 0,5% a 1%. Como um exercício de projeção, as exportações paulistas de etanol em 2024 somaram US$ 829,44 milhões (R$ 5,19 bilhões) até novembro, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta), vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. O ganho de 5% representaria um incremento de US$ 41,47 milhões (R$ 259,89 milhões), isso sem contar o combustível comercializado no mercado nacional.

NOVOS MERCADOS

Marcelo Ventura contou que a startup trabalha no desenvolvimento de bioprodutos para o etanol feitos a partir do milho com a recente chegada de um investidor, abrindo a possibilidade de conquista de novos mercados na América do Sul e de outros países. “Vamos dizer que 2025 é um ano que tem prometido muitas coisas para a gente”, comentou. Outra empresa de olho na conquista do mercado internacional é a Noviga, que nasceu na Unicamp.

Ela patenteou a microcap, um ingrediente inovador para deixar os alimentos mais saudáveis. O produto microencapsulado tem a função de ser aplicado na produção de biscoitos, sorvetes, margarinas, chocolates e outros produtos livres da gordura trans, maléfica para o organismo humano e que contribui para o desenvolvimento de aterosclerose e problemas cardiovasculares. “A nossa tecnologia garante a cremosidade, textura, estabilidade, redução da separação óleo e cristalização rápida”, explicou a sócia fundadora da Noviga, Maria Cristina Nucci Mascarenhas.

Ela também é a coautora da pesquisa de desenvolvimento do novo produto, criado durante seu doutorado na Unicamp. O benefício trazido para a indústria e aos consumidores fez a startup ganhar no ano passado a medalha de prata entre Os Ingredientes Mais Inovadores da Food Ingredients South America Innovation Awards. Cristina Nucci criou a Noviga após passar 12 anos trabalhando na indústria de alimentos, saindo para fazer o mestrado e doutorado.

Ao terminar a pós-graduação, não sentiu vontade de voltar para a fábrica. O espírito empreendedor nasceu ao participar do Desafio Unicamp, ação realizada pela Inova para estimular os estudantes a criarem um modelo de negócio viável a partir de seus projetos. A startup sublicenciou a produção da microcap para uma multinacional de alimentos instalada em Campinas e com unidades em outras cidades brasileiras. Hoje, ela fatura com royalties, termo em inglês para uma taxa paga pelo direito de usar, explorar ou comercializar um bem ou tecnologia.

A microcap hoje está em fase de teste para ser utilizado também em países da América Latina e Estados Unidos, em alguns deles em estágio avançado. Porém, a Noviga não para. “Vamos entrar também para o segmento de cosméticos, pois a patente abrange este segmento. Já estamos trabalhando para auxiliar a indústria a obter produtos cosméticos mais naturais e de qualidade”, revelou Cristina Nucci.

 

A PESQUISA

De acordo com o Sebrae Startups Report 2024, 97% das startups paulistas integrantes dos ambientes participantes do Spai prestam serviço para o setor público, um perfil diferente do ambiente encontrado em Campinas. O Sistema Paulista de Ambientes de Inovação engloba parques tecnológicos, centros de inovação e incubadoras de empresas de base tecnocientífica. Além das dez primeiras colocadas no ranking, há outras 18 cidades participantes, totalizando 28, que concentram 3.052 empresas.

Produzido pelo Observatório Sebrae Startups, o estudo mostra ainda que os principais segmentos de atuação das startups paulistas são Saúde e Bem-Estar (15,43%), Tecnologia da Informação (15,09%) e Educação (13,41%). Agronegócio vem na sequência (11,22%), “O panorama das startups paulistas evidencia um ecossistema vibrante e diversificado, que reflete a complexidade e a dinâmica da capital e do interior do estado de São Paulo”, apontou o diretor superintendente do Sebrae for Startups, Nelson de Almeida Prado Hervey Costa, que assina o relatório.

 

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