14 de outubro de 2024 Neurolocalizador para aplicação de anestesia criado na Unicamp está prestes a entrar no mercado
Tecnologia inédita foi licenciada para empresa graduada na Incubadora da Universidade e deve entrar em linha de produção até o final de 2024; produto será comercializado para o setor veterinário
Esta matéria compõe a série Prêmio Inventores 2024 | Texto: Redação Inova Unicamp | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp
Uma tecnologia desenvolvida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está prestes a entrar em linha de produção e ser inserida no mercado, no início de 2025. Trata-se de um neurolocalizador inovador, para aplicação de anestesia, que foi licenciado para a SDAMed, uma empresa-filha da Universidade localizada em Paulínia (SP). A empresa se graduou no programa de incubação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) da Unicamp e tem se destacado pelo desenvolvimento de equipamentos para uso veterinário.
O neurolocalizador é um aparelho utilizado para localizar o nervo de um paciente para aplicação de anestesia por bloqueio de nervos. Os equipamentos disponíveis no mercado dependem de um ajuste manual, em que o anestesista diminui progressivamente a corrente elétrica até saber onde está o nervo e, assim, aplicar o anestésico. Já a tecnologia desenvolvida na FEEC é capaz de diminuir a corrente elétrica de forma automática.
O neurolocalizador foi desenvolvido pelo pesquisador Carlos Alexandre Ferri, em 2012 durante o seu mestrado na FEEC, e pelo seu orientador, o professor da mesma Faculdade Antônio Augusto Fasolo Quevedo.
A invenção foi protegida e licenciada em 2022, por meio da Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp), à SDAMed que agora trabalha no desenvolvimento complementar do equipamento para viabilizá-lo para o mercado, isso inclui a atualização do hardware, a criação de um invólucro e da interface com o usuário, a produção da placa impressa e dos transdutores, além de testes que ainda serão feitos.
A proposta inicial da empresa é oferecer o equipamento para profissionais da medicina veterinária. A SDAMed se destaca por desenvolver produtos para esse setor com valores mais acessíveis e que atendam as necessidades desses profissionais que, normalmente, têm de adaptar os equipamentos da saúde humana e têm dificuldade em adquiri-los pelo alto custo.
De acordo com Glauco José Rizzanti Pereira, sócio e diretor de desenvolvimento da SDAMed, o neurolocalizador custará um terço do preço de um equipamento similar, que possui funcionamento manual. “Nossos produtos, e assim será também com o neurolocalizador, têm valor similar aos equipamentos mais simples da medicina veterinária, porém com um desempenho muito superior“, afirma.
Até o final do ano, a empresa espera também obter autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar os produtos do seu portfólio para o mercado da saúde humana. Segundo Pereira, com base na resposta que a empresa obtiver do setor veterinário e do feedback de médicos, para quem o neurolocalizador deverá ser apresentado, será avaliada a possibilidade de comercialização também para a medicina humana. “Isso nós iremos decidir mais adiante”, acrescentou.
Unicamp desenvolveu o “coração” da tecnologia
A empresa obteve o licenciamento de um protótipo do hardware pronto e validado pelos pesquisadores da FEEC. Segundo Pereira, que também é ex-aluno FEEC, onde teve aulas com o professor Quevedo na graduação em Engenharia Elétrica, licenciar o uso dessa tecnologia acelerou de forma significativa o desenvolvimento do produto e o prazo para inseri-lo no mercado. “Posso dizer que o coração do projeto já estava pronto”, afirmou.
A tecnologia foi criada em meados de 2012, mas Quevedo já tinha o desejo de desenvolver esse equipamento muito antes. “Meus pais são anestesistas e sempre me falaram da necessidade de um equipamento com ajuste automático. Os anos se passaram, formei-me na Unicamp e tornei-me professor, mas essa ideia sempre permaneceu na minha cabeça”, contou o docente.
A possibilidade de materializar essa ideia surgiu quando Ferri entrou para o mestrado. Pelo conhecimento que ele tinha em hardware, Quevedo viu ali a chance de, enfim, tirar seu projeto do papel. Na época, a FEEC participava de um programa universitário da multinacional Freescale, que cedeu os microprocessadores para o projeto.
A invenção foi desenvolvida em menos de dois anos, durante o mestrado de Ferri, que hoje é professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A invenção foi comunicada à Inova Unicamp e a tecnologia teve o pedido de patente depositado com estratégia da Agência de Inovação da Unicamp na sequência.
No hardware desenvolvido na FEEC já estavam prontas a distribuição e controle de corrente elétrica, além do algoritmo para controle, que é o ajuste automático da corrente com base na resposta do sensor.
“Havíamos chegado no limite de onde uma Universidade consegue ir, por isso, a parceria com a empresa foi fundamental para que o produto fosse viável e entregue à sociedade. A SDAMed está trabalhando para que o neurolocalizador seja realmente funcional e atenda as necessidades dos profissionais da área”, disse o professor.
Os modelos existentes no mercado atualmente oferecem baixa precisão e exigem que um técnico acompanhe o anestesista para calibrar o aparelho, além de terem valores pouco acessíveis. Com isso, muitos médicos anestesistas deixam de usar um equipamento para localizar o nervo e aplicar o anestésico, utilizando apenas seu conhecimento em anatomia e sua experiência. Sem a precisão exata, utilizam doses mais elevadas de anestésicos, o que pode causar efeitos colaterais e desconfortos aos pacientes.
Reta final de desenvolvimento do produto
Neste momento, a empresa está finalizando a placa de circuito impresso, em que reúne e organiza todos os circuitos que foram validados. Também trabalha na definição do layout desta placa, além de sua montagem e fabricação. Os próximos passos serão a realização de testes e a fabricação, por um fornecedor especializado, dos transdutores, que são os cabos que irão conter o sensor de movimento e uma agulha por onde o medicamento será injetado no paciente. Também serão realizados testes clínicos em animais.
“Nos testes iremos analisar pedaço por pedaço do equipamento, fazer os ajustes necessários e validar”, afirmou Pereira.
A fase inicial da produção prevê a fabricação de 10 a 20 peças para alguns clientes. Na sequência, deverá ser iniciada a produção em massa do primeiro lote, com 100 ou 200 peças. “Vai depender muito da resposta que teremos com esse lote inicial e com a pré-venda, mas estamos bem otimistas”, finalizou o professor.
PRÊMIO INVENTORES 2024
INVENTORES PREMIADOS:
Antônio Augusto Fasolo Quevedo (FEEC Unicamp) e Carlos Alexandre Ferri (FEEC Unicamp) foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2024.
PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS
Esta reportagem integra a série de matérias elaboradas pela Inova Unicamp que abordam algumas das tecnologias licenciadas, absorvidas pelo mercado e empresas spin-offs acadêmicas da Universidade Estadual de Campinas. Você pode acessar esses conteúdos pelo site da Inova e, em breve, em formato de ebook na Revista Prêmio Inventores. A programação do Prêmio Inventores da Unicamp 2024 também incluiu o webinar “20 anos da Lei de Incentivo à Inovação e casos de sucesso de tecnologias da Unicamp absorvidas no mercado”, que aconteceu em 10 de setembro. Saiba mais sobre o webinar aqui!
Não deixe de conferir todos os premiados no site Prêmio Inventores da Unicamp.
Os patrocinadores do Prêmio Inventores 2024 são: ClarkeModet e FM2S.