Hora Campinas | Pesquisadores da Unicamp transformam subproduto do etanol em fonte lucrativa

Imagem parcial de rosto de pesquisador olhando para tela de um computador. Fim da descrição.
Resíduo resultante conhecido como óleo fúsel, pode ser transformado em álcool isoamílico

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um sistema com potencial inovador para solucionar um desafio ambiental decorrente do processo de produção do bioetanol nas usinas sucroenergéticas. O resíduo resultante, conhecido como óleo fúsel, cuja grande parte é descartada pelas indústrias, agora pode ser completamente transformado em um subproduto valioso e comercializável: o álcool isoamílico.

Essa tecnologia foi licenciada, com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, para a empresa Newpro Engenharia e tem potencial de ser aplicada em diferentes setores industriais.

Atualmente, as indústrias já realizam a transformação do óleo fúsel em álcool isoamílico, mas em quantidades mínimas, enquanto o restante é destinado para queima.  O grande problema desse modelo reside no fato de que esse resíduo é poluente e não é possível saber como está sendo feito seu descarte pelas indústrias, o que gera preocupações ambientais.

De acordo com Eduardo Augusto Caldas Batista, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e um dos inventores da tecnologia protegida, o mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar contém majoritariamente água e etanol, mas também compostos minoritários que interferem na purificação do etanol.

Alguns desses minoritários são os álcoois superiores que precisam ser retirados durante o processo de destilação para não comprometer a pureza desejada de etanol. Esta corrente constitui o resíduo conhecido como óleo fúsel, que é um líquido viscoso, de cor amarela e com cheiro desagradável que apresenta pouco valor agregado, tanto para comercialização quanto para utilização direta.

“O resíduo que é gerado pode ser transformado em um produto com alto valor agregado e interesse para outras indústrias, que é o álcool isoamílico. Além disso, o sistema recupera o etanol que está solubilizado no óleo fúsel e que também é descartado, aumentando, mesmo que em baixa quantidade, a produção do etanol”, afirma o pesquisador.

Os benefícios desse sistema integrado abrangem diversos setores envolvidos no processo. As usinas sucroenergéticas, por exemplo, poderão comercializar o subproduto concentrado em álcool isoamílico a um valor agregado significativamente maior do que o do óleo fúsel.

Além disso, serão capazes de recuperar o etanol perdido nesse resíduo, maximizando sua produção, como explica o professor. As indústrias compradoras do subproduto também se beneficiarão com uma matéria-prima de qualidade, além do destaque principal, que é a redução dos impactos ao meio ambiente ao evitar a contaminação pelo descarte inadequado desse resíduo.

Tecnologia

A linha de pesquisa que resultou nessa tecnologia presente no Portfólio de Tecnologias da Unicamp, cuja patente foi concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), começou em 2010 e continuou em 2012 com o projeto de doutorado de Magno José de Oliveira, orientado por Eduardo Batista. Em 2022, a tecnologia foi licenciada para a NEWPRO Engenharia com apoio da Inova Unicamp.

A empresa demonstrou interesse em comercializar o equipamento por ser um sistema barato, compacto e de fácil aplicação, bastando uma integração com o processo existente, de nível operacional para que seja utilizado. Além de apresentar um forte apelo de sustentabilidade ambiental, contribuindo para práticas mais responsáveis.

“Queremos vender o equipamento para o tratamento do óleo fúsel tendo em vista que uma usina que produz cerca de 1 milhão de litro de álcool por dia, gera por volta de 200 litros de óleo fúsel, ou seja, é uma quantidade considerável deste subproduto”, explica Claudemir Ribeiro, sócio-fundador e engenheiro de processo da NEWPRO.

Levando em consideração a relevância do Brasil como grande produtor de bioetanol a partir da cana-de-açúcar e do milho, conforme evidenciado pelos números de produção de 27,53 bilhões de litros de etanol nos anos de 2021 e 2022, de acordo com dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a porcentagem de geração de óleo fúsel, estimada pelo Sócio-Fundador e engenheiro da empresa, gera uma forte preocupação em relação à quantidade de etanol produzido e de subproduto gerado.

“Em termos ambientais, esse subproduto gerado é uma preocupação. Quando pensamos na utilidade do sistema, temos um forte mercado para escalar, com potencial de gerar ganhos econômicos já que agrega valor e ainda ajudar o meio ambiente”, diz Ribeiro.

Matéria publicada em Hora Campinas.

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