26 de julho de 2023 Sementes de empreendedorismo na Amazônia
Ex-aluno da Faculdade de Educação Física da Unicamp funda negócio de consultoria que conecta empresas a iniciativas socioambientais na Amazônia e em outras regiões do país, com ênfase no estímulo ao empreendedorismo local.
Esta matéria faz parte da série de reportagens produzidas pela Inova sobre as empresas que compõem o ecossistema empreendedor da Unicamp. Saiba que tipos de empresas podem integrar esse ecossistema e como se cadastrar na página de Vivência Empreendedora
Texto: Christian Marra | Fotos: Felipe Martins / GoMartins / ISAS / Carol Brenck
Das piscinas da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF Unicamp) para projetos de consultoria na Amazônia: a trajetória de Felipe Martins, fundador da GoMartins, pode parecer inusitada. Mas ela faz todo sentido.
A formação em Educação Física levou Martins a aventurar-se pelo Brasil em experiências junto à natureza nas mais diversas regiões. E esse contato com os ecossistemas despertou nele alguns sinais de alerta: em suas andanças, ele foi se deparando com a poluição de plásticos em rios e mares, recifes de corais quebrados pela ação humana, comunidades indígenas sem assistência de saúde, populações em situação de insegurança alimentar, entre outros problemas.
Seu contato com lideranças locais, sobretudo em regiões da Amazônia e do Cerrado, foi essencial para conectá-los a um setor ávido por projetos com objetivos socioambientais: as numerosas empresas brasileiras que desejam incorporar o selo ESG às suas práticas. ESG vem da sigla em inglês Environmental, social and corporate governance, um conceito que atesta que uma empresa procura trabalhar em prol de objetivos sociais que vão além de maximizar os lucros dos acionistas. Um conceito que é hoje muito apreciado no mercado.
Empresa-filha da Unicamp GoMartins conecta empresas a comunidades
Foi assim que, em 2015, Felipe e seu irmão Henrique criaram a GoMartins, uma empresa-filha da Unicamp com o objetivo de conectar corporações interessadas em projetos socioambientais a comunidades espalhadas pelo país – especialmente indígenas, ribeirinhos e quilombolas –, sempre com o apoio de lideranças, especialistas e ONGs locais. “Costumo dizer que meu trabalho é conectar quem quer fazer a diferença com quem sabe fazer a diferença”, explica Martins.
Na GoMartins, cada projeto leva em conta não apenas ações ambientais, mas também uma componente social, visando capacitar as comunidades. Cada projeto é elaborado sob medida conforme a realidade de cada região, mesmo que os objetivos possam ser semelhantes:
“O Brasil tem uma biodiversidade gigantesca, com biomas bem diferentes. O desafio é trabalhar com projetos desenhados para cada local. Por exemplo, se eu tenho um projeto de preservação da onça pintada no Parque Nacional do Iguaçu, não posso simplesmente levar esse mesmo projeto para o Jalapão, onde também há onças pintadas. Eu preciso pensar nas características de cada região e em todas elas contar com um time de especialistas locais”.
Estimular a cultura de empreendedorismo pelo Brasil
A principal meta da empresa, segundo Martins, é fomentar um empreendedorismo que vai além da simples capacitação das comunidades. Segundo ele, é essencial prepará-las para serem autossustentáveis economicamente:
“Não basta apenas capacitá-las a executar tarefas específicas, como por exemplo, ensinar a escoar a sua produção ou dar aulas de gestão e marketing. Porque se ocorrer alguma mudança no cenário econômico que limite essa ação, tudo isso fica perdido e inutilizado. Na GoMartins, nós buscamos criar uma cultura de empreendedorismo nas comunidades, que inclui a capacitação dos professores locais e dos jovens, para que eles ganhem autonomia para contornar dificuldades que surjam no meio do caminho e encontrem soluções para qualquer situação.”
Para isso, ele defende a criação de uma cultura de empreendedorismo nessas localidades para que as populações possam ter mais independência frente às dificuldades. “Muitos projetos patrocinados por empresas apenas dão certo enquanto elas estão por lá. Elas saem, e o projeto desaparece. Nosso desafio é fazer com que eles se mantenham vivos mesmo após o término dos projetos. Para isso, é essencial semear a cultura empreendedora”.
Martins também sugere que, para isso, desde cedo os estudantes das comunidades aprendam noções sobre empreendedorismo, gestão financeira, bioeconomia, as possibilidades que a floresta oferece etc. “Feito isso, nosso trabalho estaria mais completo: eu poderia sair e a comunidade seguiria com autonomia. Esse é nosso grande desafio hoje.”
Projetos que beneficiam o meio ambiente
Martins acredita que um maior estímulo às atividades econômicas sustentáveis, a partir do empreendedorismo, traria benefícios não somente às comunidades, mas também ao meio ambiente. Ele afirma que, com meios de se autossustentarem economicamente, muitas pessoas deixariam as atividades ilegais:
“A gente sabe que grande parte das ilegalidades que acontecem na Amazônia, e em outros lugares, vêm de pessoas que não têm uma fonte renda e acabam indo parar no garimpo, na pesca ilegal, na devastação da floresta etc. É muito sofrido trabalhar na ilegalidade, ninguém gosta. O que falta são melhores oportunidades. Se elas forem criadas, acredito que isso iria favorecer tantos às comunidades quanto aos nossos ecossistemas”.
Conexão e parceria com a Unicamp
A GoMartins já desenvolveu projetos em várias partes do país, como no território do Xingu, no vale do Javari no oeste da Amazônia, na região de Manaus junto ao Rio Negro, junto a comunidades quilombolas no Jalapão, no Cerrado, com indígenas Xavantes do Mato Grosso, entre outros locais.
Mesmo assim, Martins decidiu manter a sede da GoMartins em Campinas. “Meus anos universitários criaram laços fortes com a Unicamp, mesmo tendo feito pós-graduação em outros lugares. Meu sonho é aplicar essa experiência da cultura empreendedora em cursos ou em pesquisas a serem realizadas na Unicamp. Ainda estou estudando uma maneira de concretizar isso”, finaliza.
Ecossistema empreendedor da Unicamp
Um dos ecossistemas empreendedores que a GoMartins faz parte é o Unicamp Ventures, fomentado pela Agência de Inovação Inova Unicamp, que produz conteúdo (como esta matéria) e eventos reunindo as empresas-filhas da Universidade.
Podem compor ao ecossistema os empreendimentos fundados por pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Universidade, tais como alunos, ex-alunos, docentes e funcionários ou ex-funcionários. Além de startups que foram incubadas na Incamp ou criadas a partir de uma tecnologia desenvolvida na Universidade, as chamadas empresas spin-off.
A Inova Unicamp está com o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. O cadastro é gratuito, acesse e faça parte em: https://www.inova.unicamp.br/cadastro-filhas/