Correio Popular | Unicamp desenvolve clareador dental à base de cogumelo

Foto colorida mostra duas mulheres e um homem em ambiente de laboratório. As mulheres são brancas e loiras. O homem também é branco de cabelos castanhos. Todos vestem jaleco e seguram nas mãos recipientes de vidro contendo o extrato de cogumelo usado como clareador dental. Fim da descrição.
Pesquisas da formulação natural foram realizadas em parceria com a Unifesp

Reprodução | Correio Popular

Cogumelos comestíveis do tipo shimeji poderão ser usados para desenvolver clareadores dentais naturais mais sustentáveis e com menos efeitos adversos aos usuários. A formulação inovadora para produção desses clareadores foi desenvolvida em pesquisas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo os pesquisadores, o tratamento para remoção de manchas nos dentes pode ser feito de forma natural, sem o uso de produtos químicos abrasivos e com menos efeitos adversos, em comparação aos métodos disponíveis no mercado.

A tecnologia foi desenvolvida nos últimos três anos, a partir de um estudo interdisciplinar que envolveu pesquisadores de três faculdades da Unicamp — de Ciências Farmacêuticas, Engenharia de Alimentos e Faculdade de Odontologia de Piracicaba — e da Universidade Federal de São Paulo. O invento já está protegido estrategicamente pela Agência de Inovação Inova Unicamp e foi licenciado no final do ano passado para a startup Webbe.

A professora e pesquisadora da Faculdade de Odontologia, Débora Alves Nunes Leite Lima, destacou que o clareamento dental é um dos procedimentos clínicos mais utilizados nos consultórios odontológicos e o novo extrato feito por meio do cogumelo atende à maior procura por produtos naturais, que tem se intensificado nos últimos anos. “O diferencial da tecnologia está na forma natural de clareamento, que tem potencial para reduzir reações adversas, como irritação na polpa, na gengiva, na mucosa oral ou a sensibilidade temporária dos dentes, quando comparada com as tecnologias existentes no mercado”, afirmou.

O extrato usado para o clareamento é obtido do chapéu ou do talo do cogumelo shimeji (preto e branco) e requer apenas o cogumelo com um mínimo de tratamento, sendo considerada uma tecnologia “verde”. A invenção também não exige o uso de substâncias isoladas, que requerem processos mais complexos e caros de produção.

Débora disse que as características naturais do extrato permitem um resultado mais agradável aos usuários. “Os outros clareadores dentais convencionais são conservadores e cumprem bem o papel de clarear os dentes, sem prejudicar a dentição, porém algumas pessoas sofrem com a sensibilidade na polpa do dente ou tem alergia aos produtos da composição dos clareadores, principalmente quando há uma concentração alta no tratamento”, exemplificou.

A nova formulação desenvolvida vem para agregar. “É um extrato que não vem para substituir os atuais, mas poderá atender este público que não pode usar os clareadores tradicionais. Pode até ser usado em conjunto com os demais clareadores para diminuir a concentração de produtos químicos no tratamento”, sugeriu Débora. “Além disso, os pacientes alérgicos e aqueles que têm sensibilidade aos clareadores atuais poderão ser atendidos com este novo extrato de cogumelo”, disse.

O extrato de cogumelo foi considerado seguro nos testes laboratoriais feitos in vitro (em placas) e em amostras de blocos dentários bovinos doados à pesquisa. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Unicamp. O próximo passo da pesquisa prevê testagens de concentração e aplicação técnica para que o clareador à base de cogumelo shimeji possa seguir para a fase de testes clínicos em humanos.

Três tipos de produtos

A startup Webbe tem como objetivo acelerar a criação de três produtos comercialmente viáveis em um modelo de negócios escalável a partir da propriedade intelectual protegida da Unicamp. Dayse Alexia, biotecnologista, pesquisadora e empreendedora que criou a startup, disse que a Webbe pretende testar o produto em três formulações diferentes: um gel para clareamento com uso de moldeira para os dentes, um creme dental e um enxaguatório bucal. Para avançar no desenvolvimento do modelo comercial, a empresa-filha da Unicamp vai contar com recursos do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Dayse explicou que a previsão é disponibilizar os produtos nas prateleiras do mercado no período de um ano e meio a três anos. “Estamos finalizando os trâmites burocráticos para avançar no processo. Vemos um potencial muito grande nessa tecnologia. Os resultados de clareamento são muito próximos aos dos tratamentos atuais, mas com potencial redução de impacto no meio ambiente e maior conforto para os pacientes a partir do uso de um produto 100% natural”, disse Dayse.

Algumas ações já estão em andamento. “Existem diversas propostas de apresentação do clareador bucal. O gel dental é o que está mais próximo de acontecer. Porém, o produto deve passar por uma série de etapas de validação antes de chegar no mercado. Por mais que seja natural e não apresente reações adversas, é necessário fazer testes. É avaliado no momento também qual tipo de clareador é o mais necessário para os usuários, antes de ser lançado no mercado”, disse.

Sustentável

O aproveitamento do talo do cogumelo que a indústria descarta em suas linhas de produção é outro fator de destaque nesta pesquisa. “O método com patente depositada possibilita o reaproveitamento de partes descartadas na produção de cogumelos, reduzindo a geração de resíduos da indústria. Por outro lado, gera valor à cadeia produtiva ao dar um destino nobre para partes que iam para o lixo”, exemplificou Dayse.

Juliano Lemos Bicas, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, reforçou também esse aspecto da pesquisa. “O clareador dental à base de extrato de shimeji foi desenvolvido pensando na sustentabilidade que mantém o tripé ambiental, econômico e social. Podemos dispor de uma quantidade grande de matéria-prima de baixo custo sem precisar, por exemplo, aumentar a produção de cogumelos, e com apoio aos pequenos produtores que se beneficiariam da agregação de valor de um resíduo”, avaliou.

Matéria original publicada no jornal impresso e site do Correio Popular em 07/05/2022.

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