Aplicativo usa inteligência coletiva para ajudar professores da Educação Básica

Fonte: Fapesp

A Mupi Tecnologia e Serviços de Informação, empresa spin-off da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), está desenvolvendo um aplicativo que usará inteligência coletiva para ajudar os professores da Educação Básica a preparar aulas e avaliações. Trata-se de uma biblioteca virtual inteligente que aprimorará filtros para facilitar a busca de materiais didáticos na rede, além de promover o compartilhamento dos materiais produzidos pelos próprios professores, incluindo desde textos, exercícios, questões de avaliações, slides, vídeos até planos completos de aulas.

A ferramenta também trará avaliação de qualidade dos materiais e facilitará sua adaptação às necessidades de cada docente, além de trazer sugestões de acordo com o perfil de cada usuário. O aplicativo prevê ainda que os professores que compartilharem seus materiais serão remunerados cada vez que um colega utilizá-los.

O produto em desenvolvimento pela Mupi – empresa criada em 2015 voltada à formação continuada de professores para uso de tecnologia em sala de aula – é resultado do estudo de viabilidade do projeto “Sistema Educacional Online Para o Ensino Híbrido”, que teve apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP e resultou no primeiro protótipo. Seu objetivo é sanar gargalos da educação básica, abrindo caminho para avançar na implementação do ensino híbrido, no qual os professores usariam tecnologias digitais em atividades presenciais e a distância com seus alunos.

“As tecnologias digitais podem melhorar o nível da educação num ritmo muito mais acelerado do que faríamos sem elas”, diz Paula Furtado, sócia da empresa. As possibilidades de incrementar a educação básica com as modernas tecnologias digitais são quase ilimitadas. Combinar o uso de textos, vídeos, games interativos, trechos de filmes, reportagens de jornal e TV com a interação presencial e a distância entre os alunos e destes com os professores são formas muito eficientes de motivar e melhorar a aprendizagem.

Ela destaca que essas ferramentas também possibilitam um ensino sob medida para cada criança: cada uma pode evoluir no seu ritmo, usando os recursos mais adequados à sua forma pessoal de aprender e se aprofundando mais nos temas de seu interesse. E mais: o ensino híbrido desenvolve habilidades de autoaprendizagem vitais para a sociedade do século XXI, tendo se tornado por isso uma tendência internacional irreversível.

O desafio é, segundo Furtado, articular o uso desses materiais de forma a cobrir todos os conteúdos, desenvolver todas as habilidades previstas no currículo e ainda customizar a forma como cada aluno vai usá-los.

Ela fala com a autoridade de quem é mestre em linguística aplicada a novos letramentos e tecnologia, já produziu materiais interativos de e-learning e também deu aula no ensino fundamental. Sua sócia na empresa, Ana Rute Mendes, desenvolvedora e web designer, é responsável pela parte de programação e desenho do modelo de negócio.

Mesmo limitações estruturais das escolas brasileiras parecem contornáveis. Afinal, 80% dos brasileiros entre 9 e 17 anos já estão conectados à internet (a imensa maioria pelo celular), dois terços deles acessam a rede mais de uma vez por dia e a maioria já a usa para trabalhos escolares. O estudo, feito pelo Cetic.br – organismo vinculado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil –, mostra que a proporção de crianças e adolescentes com acesso à internet triplicou entre 2014 e 2016.

A despeito do otimismo, as pesquisadoras não desconsideram as dificuldades. Ao contrário: no estudo de viabilidade apoiado pela FAPESP – Fase I do PIPE –, elas identificaram, analisaram e definiram como superá-las. O protótipo da ferramenta usada nessa fase trazia alguns formatos de aulas pelo ensino híbrido, que foram testados por um grupo de cerca de 60 professores já usuários dos cursos a distância da Mupi.

As aulas mesclavam estratégias expositivas, de trabalho em grupo, de sala de aula invertida, vídeos, textos e questionários. Os professores podiam usar materiais que a ferramenta trazia prontos ou elaborar os seus próprios, dividiam a classe em grupos e faziam os alunos se revezarem em quatro daquelas modalidades de atividade.

Os nove meses de interação contínua com o grupo levou as pesquisadoras a concluir que, sem um apoio sólido para dar conta da preparação das aulas, será impossível levar o ensino híbrido para a sala de aula. “Por isso repensamos a ferramenta com esse foco, a partir das demandas dos professores”, explica Furtado.

As empresárias pretendem agora desenvolver um novo protótipo da ferramenta que está pensado como uma biblioteca virtual, não só com atividades para trabalhar em classe e questões para provas, como também com planos de aula prontos, mas facilmente adaptáveis às necessidades de cada docente.

Uma biblioteca virtual que poderá incluir não só textos e exercícios, mas, pouco a pouco, também imagens, vídeos e games interativos. A ferramenta irá progressivamente incorporar materiais já disponíveis na internet e se enriquecer continuamente com novos materiais e planos de aula produzidos pelos seus usuários.

“A ideia é que seja uma ferramenta inteligente, que aprenda com o uso. Por exemplo, que seja capaz de sugerir materiais de acordo com o perfil de cada professor, que o aplicativo conhecerá pelas escolhas de materiais e planos de aula que ele fizer”, explica Furtado.

Além disso, os usuários vão poder ver a avaliação que os outros docentes fizeram de cada material didático ou planos de aula. “Em vez de contar apenas com o seu senso crítico e com o pouco tempo que têm para selecionar e adaptar materiais da internet, os professores terão à sua disposição uma inteligência coletiva, muito mais eficiente. O objetivo é melhorar a qualidade dos materiais usados em classe”, diz Furtado.

A Mupi já desenvolveu e oferece cursos on-line, entre pagos e gratuitos. Em parceria com a Unicamp, onde suas duas sócias estudaram, a startup desenvolveu um curso de português para estrangeiros, disponíveis na plataforma Coursera.

A empresa encabeçou também um projeto de baixo custo para a criação de uma escola on-line de ensino de tecnologia para população de baixa renda. O projeto foi um dos 20 selecionados entre 400 de startups do mundo todo para participar do programa de aceleração Lisbon Challange.

Texto originalmente publicado pela Fapesp e disponível aqui.

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