21 de maio de 2014 Metodologia utilizada no Desafio Unicamp estimula a transferência de tecnologia
Uma pesquisa a partir da metodologia Business Model Canvas (em português Modelo de Negócios de Canvas) resultou num modelo barato, escalável e de fácil replicação para capacitar alunos de graduação e de pós-graduação em empreendedorismo de base tecnológica. O seu autor, Virgilio Ferreira Marques dos Santos, coordenador técnico do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica, chegou a essa conquista em sua tese de doutorado, que foi defendida na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e que já se projeta como um novo modelo de estímulo à criação de spin-offs a partir da pesquisa universitária.
O modelo estimula a transferência de tecnologia por meio da criação de ‘spin offs acadêmicos’ – empresas criadas para explorar uma propriedade intelectual gerada por meio de um trabalho de pesquisa de uma instituição acadêmica. “O estudo encontrou o caminho para transformar alunos em empreendedores de uma maneira prática e aplicada”, descreve.
Ele foi testado por três anos consecutivos na Unicamp por meio do programa Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica, competição que visa capacitar alunos empreendedores e estimulá-los a abrir uma empresa de base tecnológica.
O resultado foi que, somadas as três edições do Desafio, houve mais de 500 participantes, 70 tecnologias e 200 modelos de negócios, sendo criado um spin off acadêmico e dois que estão em processo final de implementação.
Tal iniciativa contempla quaisquer interessados em empreendedorismo tecnológico de todo Brasil, com ou sem vínculo com a Unicamp, que, ao longo de três meses, frequentam workshops, palestras e mentorias.
A ideia é que, ao tirar dúvidas específicas, as equipes se sintam mais motivadas a marcar reuniões com os mentores acadêmico e empresarial e, assim, montar corretamente o modelo de negócios da tecnologia selecionada para a competição. Ao final, a equipe vencedora é premiada como forma de estimular a participação e o engajamento dos alunos. “Os campeões do Desafio ganharam diversos prêmios mundiais de empreendedorismo e abriram empresas”, menciona.
O modelo em questão foi implementado pela Agência de Inovação Inova Unicamp, que é o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Universidade, instituído em 2003, combinando as funções de gestor da propriedade intelectual, de parcerias e projetos colaborativos em P&D com empresas, de transferência de tecnologias e de estímulo ao empreendedorismo tecnológico.
“Devemos continuar estimulando os alunos por meio desse Desafio. Devemos criar um fundo de prova de conceito (uma ferramenta para provar a viabilidade técnica do invento) para apoiar financeiramente os projetos e devemos montar uma equipe de apoio a estas iniciativas. Este apoio acontecerá por meio do compartilhamento da rede de contatos e auxílio para fazer as mudanças necessárias”, reflete.
Virgilio, que escreveu a tese “Modelo de transferência de tecnologia por meio do estímulo à criação de spin offs acadêmicas” e é profissional da área de Melhoria de Processos, abordou nesse texto como encorajar os alunos a criarem empresas a partir de tecnologias depositadas pela Unicamp em seu banco de patentes. O trabalho teve orientação do professor da FEM Antonio Batocchio.
Esse assunto foi escolhido pelo doutorando ao notar que há nesta Universidade mais de mil tecnologias depositadas e apenas sete empresas formadas a partir delas até o momento, de 2009 a 2014.
O objetivo do estudo foi estimular a criação de empresas de base tecnológica por meio do uso de tecnologias e com alunos da própria instituição. Por isso foi criado o Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.
Um grande diferencial ao adotar o Desafio Unicamp é que os modelos de negócio devem ser desenvolvidos a partir das patentes e programas de computador registrados pela Unicamp. Os resultados obtidos atestam o êxito do modelo em capacitar e motivar alunos a empreender e a ampliar o uso de propriedade intelectual da Universidade.
Esse êxito se torna mais relevante considerando-se a cultura, o estágio incipiente do empreendedorismo tecnológico e a legislação de inovação do país. Sua aplicabilidade é em empresas e em instituições que queiram fomentar a criação de novas empresas de base tecnológica ou explorar novas tecnologias criadas. Há várias universidades estudando a utilização da metodologia criada.
Incentivo
De acordo com o pesquisador, o grande problema de pesquisa está na dificuldade de criar casos de sucesso, uma vez que o período do estudo é curto. A média de tempo esperado para o surgimento deste tipo de empresa é de 4,5 anos, o que ultrapassa o tempo da pesquisa de doutorado, que é de quatro anos. Por esse motivo é que se espera que muito dos resultados ainda estejam por aparecer.
Virgilio comenta que o método proposto seguiu como etapas a formação de equipes, o treinamento, a escolha da tecnologia, a mentoria, o desenvolvimento do modelo de negócio, a seleção dos finalistas e opitching final (apresentação de ideias em tempo restrito em que o apresentador tenta convencer sobretudo potenciais financiadores de que sua proposta merece receber apoio).
Na metodologia, utilizou-se como ferramenta de auxílio à construção do modelo de negócio, para a exploração comercial das tecnologias, o Business Model Canvas. Esta ferramenta consiste em um mapa visual no qual se esboçam (mediante blocos) os pontos-chaves de um modelo de negócio, que é o responsável por delinear o caminhar de uma empresa.
Um obstáculo hoje, para que haja transferência de tecnologia, está em encontrar empreendedores capacitados para enfrentar o longo e caro ciclo até atingir sucesso na exploração comercial da tecnologia.
“Empreendedorismo de base tecnológica é diferente do pregado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Há poucas iniciativas que preparam os alunos para este desafio e os professores não possuem interesse em abrir empresas, mas sim em pesquisar”, compara.
Diante de seus achados, o pesquisador ressalta que é possível capacitar os alunos em empreendedorismo de base tecnológica em menos de quatro meses. Contudo ele acrescenta que, para que as empresas deem certo, é preciso que a Universidade crie um fundo de prova de conceito para que os alunos consigam recursos a fim de desenvolverem uma aplicação comercial. “Sem dinheiro e apoio, é muito difícil que as iniciativas dos alunos saiam do papel”, admite.
Fonte: Jornal da Unicamp