Qualificação, investimento privado e legislação são principais desafios para inovar, dizem empresários

O desafios para inovar no Brasil, sob a perspectiva empresarial, foram discutidos em um painel que reuniu representantes da Vale, da Fibria e da Samarco, na segunda-feira (3/6). O debate ocorreu durante a Conferência Anpei, que se realiza em Vitória, entre os dias 3 e 5 de junho.

De acordo com Ricardo Vescovi de Aragão, diretor-presidente da Samarco – empresa de mineração –, a Educação é um dos principais gargalos para a inovação. Segundo ele, diversas melhorias educacionais estão ocorrendo no Brasil, mas em passos muito lentos. As empresas, no entanto, podem dar sua contribuição para superar o problema da baixa qualificação.

“No século passado, tínhamos uma qualificação muito baixa, quando existente. Quando havia funcionários diplomados, ainda assim tinham uma formação de qualidade aquém da desejada. Há 10 anos, criamos um programa de educação dentro da empresa e modificamos totalmente essa realidade”, disse Aragão.

Segundo ele, hoje, mais da metade dos funcionários da Samarco têm o segundo grau completo e o restante do pessoal tem curso superior. “Temos ainda alguns mestres e doutores fundidos no meio da nossa praça de trabalhadores. Isso gera um ambiente propício para que se possa obter boas ideias das pessoas, em todos os níveis e setores da empresa”, declarou.

Aragão afirmou que a iniciativa educacional reduziu o excesso de departamentalização da inovação na empresa e gerou o Programa Banco de Ideias, que gerou 18 mil propostas. Cerca de 50% delas foram implantadas. “Esse número demonstra o quanto conseguimos investindo em educação, estimulando a escolarização e pagando bolsas de mestrado e doutorado para os funcionários”, disse.

Para Paulo Silveira, diretor da Fibria – empresa que atua no mercado global de produtos florestais –, a Coreia do Sul é um exemplo de como a educação sistemática e contextual dá resultados em termos de competência inovativa. “Na década de 1980 os coreanos tinham o mesmo patamar de inovação que o Brasil. Eles avançaram muito e mostraram que a educação dá resultados a longo prazo”, disse.
Além da Educação, segundo Silveira, a relação entre investimento público e privado em inovação também é um desafio a ser superado. “No Brasil temos 50% de participação pública na pesquisa inovativa. No Japão essa cifra é de apenas 19%, na Coreia do Sul 27% e nos Estados Unidos, 34%”.

Os empresários brasileiros não têm conseguido maior participação nos investimentos em inovação por conta de fatores estruturais, segundo Silveira. “Fatores como juros, câmbio, carga tributária, regulamentação jurídica, infraestrutura e incentivos precisam ser mais acessíveis.”, declarou.

“Outro aspecto importante é a questão do apetite de risco. Sabemos que investir em inovação está associado ao risco financeiro e estratégico. A cultura brasileira não incorpora de forma adequada essa necessidade de incentivar o risco, nem enxerga a inovação como oportunidade”, opinou Silveira.

A má fase da indústria de transformação no Brasil também é considerada um desafio por Silveira, já que ela é responsável por 70% do investimento privado feito no Brasil em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

De acordo com Humberto Freitas, diretor da Vale, o Brasil enfrenta também um desafio de natureza cultural: “nossos cientistas têm um perfil fortemente acadêmico. Se formos comparar com países altamente inovativos, a presença de cientistas no setor privado é muito maior. Temos atualmente 750 doutores na área privada, contra 6 mil na Coreia do Sul”, afirmou.

Freitas afirmou que a Vale começou a desenvolver de forma sistemática seu setor de inovação em 2009. Como a empresa tem operações no Canadá e na Austrália, segundo Freitas, tornou-se evidente o contraste entre os incentivos à inovação no Brasil e nesses dois países.

“As leis que incentivam inovação nesses países já estão em um nível de maturidade que permitem tornar o ambiente favorável à inovação. No Brasil temos a Lei do Bem e a Lei de Inovação. Mas elas ainda estão muito novas e não conseguem cumprir plenamente sua função. Temos que ajudar a amadurecer essas leis de maneira que fiquem mais adaptadas à nossa realidade”, disse.

A legislação, segundo Freitas, deveria ter mais foco nas necessidades específicas do contexto brasileiro. “Hoje, especialmente no nosso ramo da mineração, a questão da sustentabilidade deixa de ser um desejo e passa a ser uma necessidade. Por isso, sabemos que não vamos conseguir sobreviver na mineração sem inovação. E se temos cada vez mais necessidade de inovar, precisamos cada vez mais aprimorar a legislação”.