Empresários planejam criar “Vale do Silício” flutuante no Pacífico

A região conhecida como Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, é tida como o centro da inovação e radicalismo tecnológico no mundo. Ali se concentram empresas estabelecidas e também os iniciantes do setor.

Frustrados com a quantidade limitada de vistos que o governo dos Estados Unidos concede a cientistas e técnicos estrangeiros, uma dupla de empresários acredita ter encontrado uma alternativa para o problema: transferir os laboratórios e oficinas de empresas de tecnologia para o alto mar.

Dessa ideia nasceu Blueseed, um barco colônia no meio do Oceano Pacífico, em frente à Califórnia, onde não vigoram restrições legais vigentes no território americano.

“Muitas pessoas dizem que querem vir ao Vale do Silício para trabalhar, têm boas ideias e até dinheiro para investir, mas não conseguem porque não têm permissões de trabalho”, disse Max Marty, um dos idealizadores do projeto, à BBC.

Uma estrutura flutuante, a cerca de 25 km da costa, em águas internacionais, poderia então servir de escala no caminho, um espaço que abrigaria empresas novatas que precisam contratar especialistas, qualquer que sejam seus países de origem.

“Como estão a meia hora de barco do Vale do Silício, o que é fundamental para reuniões e contatos, os ocupantes do barco poderiam ir e vir com vistos de visitantes, de negócios ou outro tipo”, explicou. “A ideia é que se beneficiem da vida em comunidade, o que fomentaria a criatividade e o intercâmbio de informação”. Marty disse esperar que o barco esteja em operação no segundo trimestre de 2014.

As empresas de tecnologia passaram anos fazendo pressão sobre Washington para conseguir a suspensão do limite de 65 mil vistos anuais para trabalho temporário especializado.

Cada ano, os vistos que o governo federal distribui se esgotam em questão de semanas – em 2012, eles se esgotaram dez dias após a abertura das inscrições, segundo o Instituto Brookings.

Marty e seu sócio Darío Mutabdzija basearam seu Blueseed em uma ideia do TSI (sigla em inglês do Instiuto Seasteading), uma organização que promove o desenvolvimento de cidades inteiras no oceano.

Os pesquisadores do instituto se inspiram na filosofia libertária e dizem acreditar que os territórios do futuro ficarão em águas internacionais e serão autossustentáveis e autogovernados.

Blueseed deverá ser, portanto, a primeira materialização das ideias do TSI. Seus idealizadores afirmaram que a localização da colônia – a 20 quilômetros a sudoeste da baía de São Francisco – será uma vantagem estratégica para manter a instalação conectada com o Vale do Silício. Eles esperam abrigar cerca de mil trabalhadores de 360 empresas e 65 países distintos.

Para resolver as questões técnicas, o grupo usará as experiências de outros projetos flutuantes, como plataformas de petróleo, porta-aviões ou cruzeiros transoceânicos – nos quais uma comunidade tem que conviver em um ambiente isolado por períodos longos.

Os idealizadores do projeto ainda precisam arrecadar entre US$ 10 e US$ 30 milhões em investimentos até seu lançamento. Eles disseram que ter o apoio do fundador da PayPal é um passo-chave para isso.

Mas o plano de viver em alto mar custará caro para os empreendimentos tecnológicos que se tornarem inquilinos do complexo – cerca de US$ 2 mil por mês por pessoa. “A vida no oceano é cara se comparada à vida em terra. É preciso levar comida e há questões de segurança, energia e comunicação”, afirmou Marty.

Contudo, o maior desafio pode ser um eventual confronto com autoridades americanas. Isso porque o projeto é uma espécie de atalho para evitar leis federais dos EUA – na medida em que deixaria uma comunidade de estrangeiros vivendo próximo da costa californiana com a clara intenção de trabalhar, ainda que indiretamente, na indústria tecnológica. O Escritório de Alfândegas e Proteção Fronteiriça não comentou o projeto.

Há ainda a possibilidade de que a reforma migratória americana – um tema urgente na política do país – forneça uma solução antecipada. O presidente Barack Obama declarou em fevereiro que uma “reforma real” deveria considerar “os trabalhadores altamente qualificados e engenheiros que ajudarão a fazer crescer a economia”.

Os idealizadores do projeto dizem não acreditar que uma reforma acabe com o complexo antes mesmo de sua construção. “Não temos muitas esperanças de que isso (o aumento de vistos) ocorra no nível que falta. Mas se ocorrer, muitas empresas se sentem motivadas pelo conceito de compartilhar e trocar ideias em uma comunidade flutuante”.

(Com informações da BBC Brasil)