Alunos, pesquisadores e docente da Unicamp empreendem para transformar tecnologias em desenvolvimento sustentável

Foto de cinco pessoas adultas sorridentes posando juntos em frente a uma parede roxa. Eles estão em um ambiente interno. À esquerda, um homem usando uma camisa amarela está sorrindo e com o braço ao redor de uma mulher que usa uma camisa listrada de azul e com detalhes florais. No centro, uma mulher com uma blusa branca e óculos está sorrindo com o braço em volta de um homem de barba e óculos, que está usando uma camisa polo escura. À direita, há outro homem sorrindo, usando uma camiseta cinza com o logo "LEMA". Todos estão próximos uns dos outros e pousando para a foto. Fim de descrição.
Cientistas ultrapassam os muros da Universidade e fundam, na Bahia, a Arrakis Bioenergia, empresa-filha da Unicamp com foco em soluções para a produção de bioenergéticos

Texto: Adriana Arruda – Inova Unicamp | Foto: Arquivo – Arrakis Bioenergia

Transformar tecnologias em desenvolvimento sustentável. Esta é a principal missão da Arrakis Bioenergia, empresa-filha da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fundada em 2024, em Camaçari, na Bahia. A empresa é uma spin-off acadêmica da Unicamp oriunda de projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Universidade em parceria com o Senai Cimatec e a Shell, focado no potencial energético do agave, planta utilizada para a produção de biomassa e bioenergia, especialmente em regiões semiáridas.

“Com esta iniciativa, pudemos ir além e identificamos uma oportunidade de criar uma empresa para explorar o uso da biomassa para a geração de energia, área em que o Brasil tem grande capacidade de crescimento, mas é, ainda, pouco explorada”, destaca Fabiane Moreira Vieira, sócia da startup e aluna de doutorado em Bioenergia pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.

Nesse contexto, a Arrakis assessora empresas interessadas em desenvolver soluções ambientalmente sustentáveis para a produção de bioenergéticos a partir da biomassa, que envolve matéria orgânica de origem vegetal ou animal. “A empresa trabalha com culturas adaptadas às mudanças climáticas, como o agave, e desenvolve plataformas multipropósito e flexíveis para biorrefinarias, oferecendo alternativas eficientes e inovadoras”, contextualiza.

Essas soluções abrangem desde a produção de biogás (gerado por resíduos orgânicos, como esterco, restos de alimento e resíduos agrícolas) até processos como a pirólise, uma técnica que consiste na decomposição térmica de materiais orgânicos em altas temperaturas na ausência de oxigênio, resultando em produtos como bio-óleo e carvão vegetal, usados como alternativas de combustíveis. “Nós apoiamos empresas dos mais diversos setores – de energia e biocombustíveis até insumos agrícolas – por meio de consultorias especializadas, auxiliando na identificação de investimentos e no desenvolvimento de projetos em variados processos de engenharia”, detalha a pesquisadora.

O fato de a sede da empresa estar localizada na Bahia é estratégico para apoiar projetos em uma região de clima semiárido, ideal para a utilização da biomassa na geração de energia. “Queremos inovar o sertão do país: levar tecnologia, compartilhar saberes e explorar novas oportunidades”.

Além disso, a empresa segue com atuação em Campinas (SP), na Unicamp, e negocia, com suporte da Agência de Inovação Inova Unicamp, um projeto de pesquisa e desenvolvimento com a Universidade. Segundo Vieira, a proximidade com a instituição e o acesso aos laboratórios, ao corpo docente e aos pesquisadores são fundamentais para o desenvolvimento do negócio.

Atualmente, a Arrakis é composta por uma equipe diversa de seis colaboradores, incluindo biotecnólogas, engenheiros químicos e biólogo. Todos têm ligação com a Unicamp e passaram por unidades como o Instituto de Biologia (IB), a FEA e as Faculdades de Engenharia Agrícola (FEAGRI) e Engenharia Química (FEQ).

“Um dos nossos diferenciais é justamente a interdisciplinaridade do time. Isso é crucial para o tipo de serviço que oferecemos: projetos diversificados, individualizados e que demandam expertises em várias áreas, preenchendo lacunas de conhecimento e de mercado”, relata Vieira.

Também compõem a equipe Maiki Soares de Paula, doutorando em Genética e Biologia Molecular, pelo IB; Oscar Herrera Adarme, Maria Paula Cardeal Volpi e Jean Constantino Gomes da Silva, pesquisadores em estágio de pós-doutorado na FEAGRI; e Gustavo Mockaitis, docente na FEAGRI.

Coexistência entre academia e mercado

Um dos grandes desafios relatados por Vieira ao gerenciar uma startup é a adaptação da equipe, predominantemente acadêmica, ao ambiente empresarial. “Precisamos ajustar nossa linguagem ao perfil de cada cliente, e às vezes ainda somos técnicos demais. Além disso, alinhar o tempo da universidade com o do mercado é fundamental. Temos aprendido, dia após dia”.

Apesar dos obstáculos, a Arrakis é a prova prática de que os ambientes acadêmico e empresarial não são excludentes – pelo contrário, podem e devem, sempre que possível, coexistir.

“Este é o verdadeiro significado de inovação. É quando conseguimos aplicar o conhecimento teórico para além dos muros de instituições de ensino superior. É quando ele se materializa em uma solução dentro de uma empresa; quando promove um ambiente sustentável; quando consegue, aos poucos, plantar uma semente para um mundo melhor de se viver”, reforça Vieira.

Para o futuro, a empresa-filha da Unicamp almeja se consolidar como uma organização de referência em desenvolvimento sustentável no Brasil. “Nós só ‘sossegamos’ quando encontramos uma solução. Nesse ritmo e com esse foco, daqui a cinco anos, queremos que a Arrakis seja reconhecida como a empresa capaz de fornecer soluções tecnológicas pelo País”, afirma a empreendedora. 

Conexão e sinergia com a Unicamp

Para que essa coexistência aconteça, Vieira destaca que o fato de serem alunos da Unicamp já trouxe grandes vantagens.

A Unicamp é uma universidade diferenciada no que diz respeito ao empreendedorismo. Concluí formações anteriores em outras instituições públicas, mas quando cheguei na Unicamp, eu me impressionei com o tanto de estímulo que recebemos para ‘entrar como alunos’ e ‘sair como startups’. Ainda somos cientistas, mas também nos sentimos empreendedores”, registra.

Foi justamente por conta desse diferencial que a Arrakis realizou seu cadastro como empresa-filha da instituição, iniciativa coordenada pela Inova Unicamp. Vieira conta que o time já conhecia o trabalho da Inova, especialmente no escopo da proteção de tecnologias, pois parte da equipe já teve depósitos de pedidos de patentes realizados com o apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Universidade.

“Ao sabermos sobre o mapeamento das empresas-filhas, prontamente decidimos fazer parte dessa rede. Identificamos inúmeras vantagens, que envolvem desde o contato mais próximo com a academia até o contato com outros líderes de negócios. A participação ativa em uma comunidade empreendedora, com a possibilidade de networking, troca de conhecimentos e experiências, é essencial para prosperarmos. Com o cadastro, também temos acesso a eventos exclusivos e informações fundamentais para nos sentirmos pertencentes a esse ecossistema tão rico e acolhedor”.

Diversidade e coragem para empreender e fazer a diferença

Além de contar com uma diversidade de formações, o time da Arrakis busca a igualdade de gênero em sua gestão, com sócias em posições de liderança. “Ver mulheres em cargos de gestão realmente me emociona. Temos competência e oportunidades, mas talvez nunca tenhamos sido suficientemente estimuladas a isso antes. É impactante alcançar posições que costumam ser majoritariamente ocupadas por homens, como na administração de empresas e na ciência, especialmente nas Engenharias. Estamos mudando esse paradigma e, sem dúvida, abrindo caminhos para as próximas cientistas e empreendedoras que virão”, enfatiza a pesquisadora.

Para estudantes e pesquisadores que pensam em embarcar no universo do empreendedorismo, Vieira é enfática ao encorajá-los a seguir este caminho.

“É totalmente viável empreender. Não há motivos para temer; é essencial começar com cautela e buscar pessoas que possam te ajudar e te estimular, alguém que acredita no projeto. Pode ser, inclusive, com os resultados de uma pesquisa de mestrado ou doutorado. É preciso enfrentar os desafios com disposição: estudar, aprender e experimentar. Olhar para fora e buscar oportunidades é o caminho; só assim conseguiremos levar o impacto de uma inovação para o mundo”.

A Inova Unicamp dá todo o suporte aos docentes, alunos e pesquisadores da Unicamp na proteção da propriedade intelectual, na transferência de tecnologias e no estímulo ao empreendedorismo. Uma das iniciativas é a oferta da disciplina “Propriedade Intelectual, Inovação e Empreendedorismo: Temas Contemporâneos”, oferecida semestralmente para alunos da Universidade e para a comunidade externa. A ideia é sensibilizar sobre o universo do empreendedorismo e da inovação, além de capacitar os alunos em temas e metodologias atuais, tornando o empreendedorismo uma opção de carreira.  Também oferece oportunidades no Parque Científico e Tecnológico da Universidade, com ambientes que fomentam um trabalho conjunto de alunos e pesquisadores com empresas incubadas, startups e laboratórios de P&D, e gerem conhecimento aplicado a práticas emergentes de tecnologia em diversos segmentos e indústrias. Mais informações estão disponíveis no site do Parque.

Ecossistema empreendedor da Unicamp

Um dos ecossistemas empreendedores que a Arrakis Bioenergia faz parte é o Unicamp Ventures, fomentado pela Agência de Inovação Inova Unicamp, que produz conteúdo (como esta matéria) e eventos reunindo as empresas-filhas da Universidade. A Inova Unicamp também é a porta de entrada para empresas que desejam se conectar com grupos de pesquisa para projetos em cooperação com a Universidade.

Podem compor ao ecossistema os empreendimentos fundados por pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Universidade – alunos, ex-alunos, docentes e funcionários ou ex-funcionários –, além de startups que foram incubadas na Incamp ou criadas a partir de uma tecnologia desenvolvida na Universidade, as chamadas empresas spin-off.

A Inova Unicamp está com o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. O cadastro é gratuito; acesse e faça parte em: Cadastro de Empresas-filhas e atualização dos dados

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