16 de outubro de 2024 Spin-off da Unicamp, hospedada no Parque, desenvolve soluções inovadoras em impressão 3D
Instalada no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, a empresa 593iCAN fornece equipamentos e software próprios que auxiliam pesquisas e empresas no uso da impressão 3D e no desenvolvimento de medicamentos com dosagens específicas
Esta matéria compõe a série Prêmio Inventores 2024 | Texto: André Gobi – Inova Unicamp | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp
A impressão 3D é um processo que tem se consolidado cada vez mais, impactando a manufatura moderna devido à sua contínua evolução e expansão de aplicações, tanto no campo da pesquisa quanto nas mais diversas áreas industriais, como nos setores automotivo, aeroespacial, moda, construção civil e medicina. Embora já venha se desenvolvendo desde os anos 1980, foi a partir da década de 2010 que a tecnologia se popularizou na indústria e na pesquisa, o que resultou no nascimento de diversas empresas que atuam no setor.
Nesse cenário, vem se destacando no Brasil a 593iCAN, uma spin-off da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que está hospedada no prédio Núcleo do Parque Científico e Tecnológico, gerenciado pela Agência de Inovação Inova Unicamp. A empresa foi fundada pelo casal José Luis Dávila e Bruna Manzini, ambos ex-alunos da Unicamp, e tem como proposta facilitar o processo de impressão 3D tanto em pesquisas quanto em aplicações diversas, atendendo a uma grande demanda por hardwares e, especialmente, por software. O próprio nome da empresa faz alusão a essa proposta: enquanto o 593 é uma referência ao código telefônico do Equador, país de origem de Dávila, o complemento iCAN ilustra a acessibilidade de seus equipamentos, a ideia de que, com o seu uso, qualquer pessoa pode realizar a impressão 3D (o termo em inglês I can traduzido para o português significa Eu posso).
A semente para o nascimento da empresa foi plantada em 2013, quando Dávila identificou uma carência de mercado enquanto usava a impressão 3D para estudos no campo da Engenharia Tecidual. Na época, ele cursava o mestrado em Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – onde também concluiu o doutorado.
NECESSIDADE NA PÓS-GRADUAÇÃO GEROU OPORTUNIDADE PARA EMPREENDER
Foi devido à escassez de equipamentos para impressão 3D e de softwares específicos no mercado nacional, além do alto custo de importação, que Dávila decidiu mudar a direção do seu trabalho de mestrado na Unicamp e, em parceria com o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, focou em desenvolver os próprios equipamentos.
“Ao invés de focar na aplicação, o que eu fiz foi focar nas ferramentas para chegar nessa aplicação. Comecei a desenvolver as próprias ferramentas, desenvolvi algumas impressoras e senti a necessidade de softwares. Neste tipo de aplicação, existe uma carência de programas de computador específicos”, comenta Dávila.
Dessa outra necessidade foi desenvolvida a primeira versão do software BIOSCAFFOLDS, ainda em 2013, com o intuito de auxiliar na pesquisa desenvolvida no mestrado. Os resultados dessa primeira versão resultaram em artigos científicos que começaram a ser publicados em periódicos a partir de 2015. Uma das coautoras dos artigos é a pesquisadora Bruna Manzini, que desenvolveu pesquisas de mestrado e doutorado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Enquanto realizava seu doutorado na FCM, Manzini buscou também na FEM Unicamp conhecimentos sobre biomateriais para desenvolver sua pesquisa na área de engenharia de tecidos e foi peça fundamental nos rumos que os desenvolvimentos tomariam a partir de 2015, trazendo contribuições da área médica para as pesquisas que estavam sendo conduzidas.
“Como meu background é em cultivo celular de células-tronco, precisei buscar na engenharia conhecimentos sobre biomateriais para desenvolver a pesquisa na área de engenharia de tecidos, e quando conheci o José Luis surgiu a parceria. Essa é uma área multidisciplinar com ampla aplicabilidade, então a união de diferentes conhecimentos possibilitou traçar novos objetivos após o término da pós-graduação”, conta a empreendedora.
UMA EMPRESA SPIN-OFF ACADÊMICA DA UNICAMP
Os artigos publicados sobre os resultados obtidos por Dávila se destacaram na comunidade acadêmica e chamaram a atenção para a qualidade do trabalho. Até 2022, os esforços de aprimoramento de software e impressora eram voltados somente para pesquisa, porém o reconhecimento dos resultados abriu caminho para a comercialização desses produtos, dando origem à 593iCAN.
“Várias pessoas começaram a entrar em contato conosco perguntando se podíamos fabricar a impressora e se não tínhamos interesse em comercializar. Um professor nos fez um pedido e, então, a gente abriu a empresa e fez essa primeira máquina e esse professor começou a recomendar para outras pessoas, então fomos ficando mais conhecidos. Isso é uma parte interessante, nossos clientes geralmente acabam nos indicando para mais pessoas, pela qualidade do equipamento”, comenta Dávila.
A 593iCAN é uma empresa spin-off acadêmica da Unicamp, ou seja, é uma empresa que nasceu a partir de um conhecimento ou tecnologia desenvolvido na Universidade. Desde 2023 ela está instalada no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. A empresa contou com aporte do programa de fomento de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (PIPE FAPESP) e, atualmente, está na fase 2 do programa.
DIFERENCIAIS DA TECNOLOGIA DESENVOLVIDA NA UNICAMP
Uma das vantagens produtivas da 593iCAN é sua capacidade de desenvolver, com suas próprias impressoras 3D, peças para fabricar outras impressoras, otimizando o processo em termos de custos, uma vez que não são necessários moldes, como num processo de injeção. Com a praticidade da impressão 3D, basta desenhar a peça e imprimi-la.
Entre os motivos para este êxito está o software BIOSCAFFOLDS: o grande diferencial da empresa, segundo Dávila. “Geralmente as impressoras 3D usam o mesmo software usado para impressoras de filamento, que são impressoras usadas convencionalmente. Em pesquisa, isso acaba dificultando porque o usuário precisa fazer adaptações”, explica. “No nosso caso, nosso software não precisa de um desenho 3D, digital. O usuário coloca os parâmetros e é gerado o que chamamos de Código G, que é enviado para a impressora realizar a impressão”.
Segundo o empreendedor, o software funciona como um aplicativo, que pode ser usado na plataforma Windows, onde o usuário escolhe como quer imprimir. Além disso, o software conta com ferramentas adicionais que permite fazer impressão em placas de petri e placas de cultura de células, que são muito utilizadas em bioimpressão, assim como a possibilidade de impressão em lâminas de microscopia.
TECNOLOGIA COM AMPLA APLICAÇÃO NA MEDICINA
Uma das áreas que tem se beneficiado com o uso da impressão 3D é a medicina, uma vez que o avanço da tecnologia tem contribuído com uma variedade de aplicações que vão desde a geração de tecidos biológicos personalizados até órgão e próteses, entre outros usos que ampliam as possibilidades de pesquisas e desenvolvimento de soluções médicas.
“As possibilidades são bem amplas e podem envolver a produção de modelos biológicos tridimensionais para testes, dispensando assim o uso de animais experimentais. Esses modelos também podem auxiliar na elucidação de processos fisiopatológicos ainda não bem esclarecidos ou descobrir novas vias de tratamento para algumas doenças, além da testagem de drogas. Outro exemplo de aplicação é na engenharia de tecidos, na produção de tecidos biomiméticos, para reparar ou regenerar órgãos e tecidos lesionados”, explica Manzini.
Outro importante ganho para a medicina com esta tecnologia é o desenvolvimento de medicamentos específicos e com dosagens personalizadas, contemplando pacientes como crianças, idosos e enfermos em condições especiais cuja dosagem padrão é difícil de ser ajustada para suas necessidades particulares.
“A tecnologia pode ser aplicada na produção de medicamentos, permitindo atingir pacientes de públicos específicos (como pediátrico e o geriátrico), além de poder melhorar aspectos como palatabilidade de medicamentos, formulações multifármacos e graus de liberação de drogas diferentes”, ressalta a pesquisadora e empreendedora.
PRÊMIO INVENTORES 2024
SPIN-OFF PREMIADA:
A 593iCAN é premiada na categoria Spin-off Acadêmica, que reconhece empresas criadas a partir dos resultados de uma pesquisa ou conhecimentos desenvolvidos na Unicamp, com propriedade intelectual protegida ou não. A empresa atua no ramo da impressão 3D, com foco em materiais semissólidos e desde 2023 está instalada no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. A startup fundada pelos ex-alunos da Unicamp, José Luis Dávila e Bruna Maria Manzini, desenvolve impressoras 3D, software e hardwares que possibilitam impressões 3D de formas mais simples e eficientes para diversas aplicações.
PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS
Esta reportagem integra a série de matérias elaboradas pela Inova Unicamp que abordam algumas das tecnologias licenciadas, absorvidas pelo mercado e empresas spin-offs acadêmicas da Universidade Estadual de Campinas. Você pode acessar esses conteúdos pelo site da Inova e, em breve, em formato de ebook na Revista Prêmio Inventores. A programação do Prêmio Inventores da Unicamp 2024 também incluiu o webinar “20 anos da Lei de Incentivo à Inovação e casos de sucesso de tecnologias da Unicamp absorvidas no mercado”, que aconteceu em 10 de setembro. Saiba mais sobre o webinar aqui!
Não deixe de conferir todos os premiados no site Prêmio Inventores da Unicamp.
Os patrocinadores do Prêmio Inventores 2024 são: ClarkeModet e FM2S.