Texto: Edimarcio A. Monteiro – Correio Popular | Foto: Rodrigo Zanotto – Correio Popular

A Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que tem o papel de identificar oportunidades e promover atividades de estímulo à inovação e ao empreendedorismo, incorpora os padrões de boas práticas de consciência social, sustentabilidade e governança, conceitos conhecidos pela sigla ESG, em inglês. As ações envolvem todos os atores participantes de seu ecossistema, entre eles funcionários, prestadores de serviço e empresas incubadas, de forma conjunta e em projetos individuais dependendo de seus objetivos e amplitude.

“O nosso interesse é alinhar a nossa missão com o ESG”, diz o diretor-executivo da Inova, Renato da Rocha Lopes. Os conceitos são suscitados desde os trabalhos desenvolvidos com estudantes do ensino médio até estimular a adoção pelas 60 empresas instaladas ou incubadas Parque Científico e Tecnológico da Unicamp.

É um escopo amplo de atuações, como o recolhimento de lacres de latinhas de alumínio para que se “transformem” em cadeiras de rodas e a entrega de cupons fiscais para uso dos créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Há, ainda, a adoção das práticas de consciência social, sustentabilidade e governança no dia a dia das empresas.

Os resultados aparecem a partir dos mais simples hábitos e comportamentos. A Inova faz, por exemplo, a distribuição de canecas de porcelana para funcionários beberem água, o que resultou na redução de 85% no consumo dos copos de plástico no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2023. O uso dos utensílios descartáveis fica restrito basicamente às visitas, mas o cafezinho é servido em xícaras reutilizáveis.

Integração

Já o lixo orgânico gerado vai para compostagem para ser usado como adubo natural da horta existente próximo à sede da agência. Além de proporcionar verduras e hortaliças frescas, a ação é uma semente de fraternidade. Os produtos são consumidos em saladas comunitárias pelos usuários do refeitório. Os funcionários e prestadores de serviços também são doadores dos lacres de latas, dos cupons fiscais e das tampas plásticas de garrafas, e sabem a destinação que é dada aos materiais.

As pecinhas de alumínio fazem uma viagem de 580 quilômetros de Campinas até Belo Horizonte-MG, onde fica a sede da associação Lacre do Bem. A entidade faz o beneficiamento do material e encaminha para indústria de reciclagem. A cada 105 quilos vendidos, uma cadeira de rodas nova é adquirida e entregue para pessoas carentes ou entidades filantrópicas. “O projeto social promove a inclusão de pessoas com mobilidade reduzida nos diversos setores da sociedade”, resume a fundadora da associação, Juliana Macedo.

Cada 352,8 mil lacres, o suficiente para encher 140 garrafas plásticas de 2 litros, equivale a uma cadeira de rodas, com o Inova sendo mais um elo nessa corrente de comprometimento, cooperação, empatia, ética e mentalidade de transformação social. Juliana começou a juntar os lacres em 2013, quando tinha 9 anos de idade. O trabalho cresceu e hoje tem o apoio de voluntários, escolas e empresas parceiras espalhados por todo o país. “O todo é maior que a soma das partes”, diz o mantra da entidade.

Já os cupons fiscais e as tampas plásticas vão para a organização não governamental (ONG) Associação Amigos dos Animais de Campinas (AAAC), que desde 1983 promove o recolhimento, cuidado veterinário de animais e castração de cães. Em uma área de cerca de 100 mil metros quadrados, a entidade mantém cerca de 2,5 mil animais de diversas espécies. Depois de cuidados, eles são encaminhados para adoção. Somente entre janeiro e julho deste ano, a Inova encaminhou 54 quilos de tampas, que são vendidas e os recursos destinados para esse trabalho.

Outros trabalhos

A Agência de Inovação da Unicamp também realiza campanha de doação de alimentos e agasalhos voltada para pessoas carentes e entidades assistenciais. Neste ano, foram coletados 105 quilos de roupas e 1,2 tonelada de alimentos. Outra ação desenvolvida são as campanhas de descarte correto de pilhas, baterias e aparelhos elétricos e eletrônicos, estimulando a circulação da economia. Esse é um conceito estratégico voltado à redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Ele se baseia em três pilares: eliminação de resíduos e poluição, manutenção de produtos e materiais em uso e regeneração dos sistemas naturais. Até julho, a Inova recolheu 220 quilos de equipamentos eletroeletrônicos.

A empresa que recolhe possibilita o rastreamento do material até seu destino final, o que permite ter garantia do uso adequado. A agência promove ainda a capacitação nos conceitos de ESG entre as empresas e startups do Parque Tecnológico, além de adotar práticas em busca da inclusão social. “Os nossos eventos têm intérpretes de Libras, enquanto as transmissões e vídeos contam também com legenda. São alternativas de acessibilidade para que as pessoas com deficiência auditiva participem dos eventos e possam contribuir com os nossos trabalhos”, explica Renato Lopes.

Criada em 2003, a Inova tem um papel importante dentro da Unicamp, uma das principais universidade do país e do mundo. Em 20 anos, até setembro passado, foi responsável pelo registro de cerca de 1,3 mil patentes vigentes e o fechamento de 194 contratos de licenciamento. Ela tem 1.387 empresas-filhas da Unicamp cadastradas, empreendimentos fundados por alunos, ex-alunos, pessoas com vínculos empregatícios com a universidade ou negócios incubados/ graduados no Parque Tecnológico. O número inclui ainda as chamadas empresas spin-offs acadêmicas, aquelas geradas a partir de um conhecimento da instituição.

Esse universo tem um papel econômico representativo na economia brasileira. As empresas- filhas somam um faturamento de R$ 25 bilhões e geração de 47,1 mil empregos. O número de vagas proporcionadas por elas é maior do que a população de cinco cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), uma das mais ricas do Estado de São Paulo e do país. Para ter uma representação dessa proporção, é equivalente à soma de todos os moradores de Holambra, Morungaba e Engenheiro Coelho.

Entre os 5.565 municípios do país, cerca de dois terços têm no máximo 20 mil habitantes. Ou seja, o número de empregos gerados pelas empresas- filhas é mais do que o dobro dos moradores de 3.935 cidades brasileiras, de acordo com o Censo 2022.

A agência busca promover os conceitos de empreendedorismo e ESG em benefício da sociedade antes mesmo de uma pessoa se tornar um estudante de faculdade. Ela mantém o Programa Inova Jovem, uma competição de modelagem de negócios para alunos do ensino médio regular e do técnico de todo o país.

Os participantes recebem treinamento com especialistas e empreendedores parceiros da Unicamp para transformação de suas ideias em negócios de impacto social, baseados em um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidades (ONU). O desafio é criar um produto real com potencial de geração de renda para os idealizadores. As 17 ODS buscam promover a prosperidade em conjunto com a preservação ambiental.

🌐 Matéria orginalmente publicada no Correio Popular.