1 de agosto de 2024 Formulação desenvolvida na Unicamp mostra eficácia na cura da ceratose actínica e de outras doenças da pele
Fórmula dermatológica à base de diclofenaco de sódio e ácido retinóico, desenvolvida por pesquisadores das Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCF) e Médicas (FCM) da Unicamp, apresenta resultados promissores no tratamento de uma série de afecções cutâneas.
Texto: Christian Marra – Inova Unicamp | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp
As ceratoses actínicas são lesões de pele que podem afetar pessoas submetidas a uma excessiva e prolongada exposição ao sol. Ela se caracteriza pelo surgimento de manchas escamosas e ásperas na pele, geralmente de coloração marrom ou avermelhada, e é considerada uma lesão pré-maligna, ou seja, pode evoluir a um câncer de pele caso não seja tratada tão logo se manifeste. No Brasil, seu diagnóstico é um dos mais numerosos em termos dermatológicos, situação que se repete em muitos países.
Em virtude do elevado risco à saúde que a ceratose actínica pode provocar, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que reuniu especialistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), desenvolveu uma formulação dermatológica à base de uma associação de diclofenaco de sódio e ácido retinóico capaz de tratar, de forma eficaz, a ceratose actínica. A composição ainda oferece benefícios para condições como acne, melasma, foliculite, psoríase e dermatites, por exemplo.
O diclofenaco de sódio é um medicamento com propriedades anti-inflamatórias, comumente usado para aliviar dores e inflamações. O ácido retinóico, por sua vez, é um derivado da vitamina A amplamente empregado na dermatologia devido à sua capacidade de renovação celular e sua ação antienvelhecimento. Combinar ambos em uma formulação parecia ser uma solução natural, mas o trabalho dos pesquisadores esbarrou em um obstáculo desafiador: os dois possuem baixa solubilidade em água, o que limitaria a possibilidade de se criar emulsões para uso tópico nos tratamentos de tais doenças.
Desafios para compor a formulação dermatológica
A baixa solubilidade em água dificulta que um ingrediente possa compor, por exemplo, emulsões ou géis – cremes ou pomadas, como são popularmente chamadas. Por isso, para reunir os dois componentes em uma formulação voltada à aplicação diretamente na pele, a pesquisa exigiu identificar outros agentes que assegurassem a sua estabilidade.
A professora da FCF, Gislaine Leonardi, que participou do grupo de pesquisa, explica que “era preciso encontrar agentes emulsionantes que garantissem a estabilidade de ambos, especialmente do ácido retinóico, cuja estabilidade é menor, o que diminui a vida útil de um fármaco, ou seja, seu prazo de validade fica reduzido. Boa parte dos esforços desta pesquisa concentraram-se na busca desses agentes para contornar o problema da baixa solubilidade em água do diclofenaco de sódio e do ácido retinóico”, comenta a pesquisadora.
Testes clínicos e primeiros resultados da formulação da Unicamp
Ainda segundo Leonardi, a equipe conseguiu chegar a uma formulação com uma boa estabilidade química e com a questão da solubilidade equacionada. O passo seguinte foi iniciar os testes clínicos para avaliar a sua eficácia. A professora da FCM, Renata Ferreira Magalhães, que também participou da pesquisa, promoveu uma parceria com o Hospital de Clínicas da Unicamp para a testagem dos pacientes.
Magalhães ressalta que, de forma rotineira, já são feitos vários tratamentos com produtos tópicos para ceratoses actínicas, incluindo ácido retinóico e diclofenaco, de forma separada: “O protocolo de tratamento com a nova formulação foi uma ótima oportunidade para o estudo. Essa pesquisa teve aprovação no Comitê de Ética da instituição e seguiu todos os requisitos para boas práticas em pesquisa clínica”, completa a professora.
Mas esta etapa sofreu um imprevisto que atrasou a evolução da pesquisa: “a pandemia atrapalhou bastante os nossos testes clínicos. Eles costumam ser demorados, cada paciente precisava ser acompanhado por mais de um mês. E nesse meio tempo, sempre surgia algum problema ligado à pandemia que interrompia os testes e nos levavam à estaca zero. Foi preciso esperar que ela fosse controlada para que pudéssemos avançar”, acrescenta Leonardi.
Passada a pandemia e realizado o protocolo de avaliação clínica do produto, os efeitos alcançados pela formulação no tratamento dos pacientes acometidos pela ceratose actínica foram positivos. “Os primeiros resultados e indícios são de que esta formulação é bastante eficaz. A testagem foi executada junto a um número maior de pacientes. Nós esperamos divulgar, até o final deste ano, os números finais dos resultados desta formulação, que vem apresentando resultados robustos até o momento”, detalha Leonardi. Ainda segundo ela, a pesquisa encontra-se atualmente em seu estágio final e não estão sendo feitos novos testes clínicos em pacientes.
Apoio da Inova Unicamp na proteção da tecnologia
Em virtude dos resultados promissores obtidos na primeira sequência de testes clínicos, a equipe de pesquisadores decidiu avançar no processo de proteção intelectual do invento. “Os números dos testes iniciais mostraram que a formulação alcançou uma ótima estabilidade e solubilidade. Por isso decidimos já iniciar a tramitação do depósito de sua patente”, afirma Leonardi.
Para isso, a Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp) forneceu a sua assessoria para executar a proteção de sua propriedade intelectual. A formulação desenvolvida pelos pesquisadores tem potencial de aplicação na indústria farmacêutica, sobretudo no desenvolvimento de novos medicamentos para tratamento de doenças de pele.
Leonardi conclui com um importante alerta: “Esta formulação é destinada especificamente para o tratamento de doenças como a ceratose actínica, entre outras enfermidades cutâneas, com boa possibilidade de sucesso. Mas vale lembrar que a ceratose actínica é uma doença que pode ser evitada e a prevenção é o melhor a se fazer. Para isso, é preciso evitar a exposição excessiva e duradoura da pele ao sol e adotar medidas de proteção solar. Nossa formulação pode auxiliar na cura da doença. Mas o ideal é não chegar a esse ponto”, alerta a pesquisadora.
Como licenciar uma tecnologia na Unicamp
A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato e negociação é realizado diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp pelo formulário de conexão com empresas. A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias para as empresas, com a intenção que o conhecimento gerado na Universidade chegue ao mercado e à sociedade. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova.