14 de agosto de 2024 Agroboard se consolida em um nicho do agronegócio e capta investimentos de 1,8 milhão de reais
Empresa-filha da Unicamp desenvolve soluções de gestão de risco no mercado de commodities agrícolas e ocupa um filão livre de concorrentes diretos, tornando-se atraente a investidores.
Esta matéria faz parte da série de reportagens produzidas pela Inova sobre as empresas que compõem o ecossistema empreendedor da Unicamp. Saiba que tipos de empresas podem integrar esse ecossistema e como se cadastrar na página de Vivência Empreendedora.
Texto: Christian Marra – Inova Unicamp | Fotos: Leonardo Laporte – Agroboard
O mercado de commodities agrícolas tem um enorme peso no Brasil, mesmo sendo um setor repleto de riscos. Afinal, negociar contratos futuros desses tipos de mercadorias é uma tarefa bastante complexa, com preços sujeitos a numerosas flutuações, como impactos climáticos, eventos naturais, variações de câmbio e da inflação, riscos políticos e regulatórios, oferta e demanda, impactos tecnológicos, oscilações no mercado internacional etc.
Apesar dessa grande volatilidade na formação dos preços, um ex-aluno da Unicamp, com experiência no setor, percebeu que não existia no mercado uma plataforma tecnológica que monitorasse todas essas variáveis e permitisse reduzir os riscos na gestão das commodities. Com essa visão, Danilo Lombardi, formado no Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fundou em 2020 a Agroboard, uma empresa-filha da Universidade que se estabeleceu em um filão do mercado inexplorado e com imenso potencial. O resultado: em poucos anos, sua solução de gestão de risco de commodities agrícolas conquistou clientes gigantes do setor e atraiu investidores que injetaram, até o momento, cerca de R$ 1,8 milhão na AgTech, termo usado para designar startups que atuam com tecnologias para o agronegócio.
“Importantes empresas, até há alguns anos, gerenciavam suas commodities em planilhas do Excel”, comenta Lombardi. “Eu tinha uma consultoria para estruturar processos internos de negócios de commodities e me surpreendi com isso. Não existia um sistema para fazer essa gestão, e a gente perdia mais tempo nas reuniões discutindo se os dados das planilhas estavam certos ou errados. Ficou evidente que havia aí uma imensa oportunidade de negócio”, afirma o economista.
Como nasceu a empresa-filha da Unicamp Agroboard
Percebendo que o seu trabalho como consultor ficava limitado por essa restrição tecnológica, e sem poder escalar a sua consultoria a mais empresas, Lombardi apostou no desenvolvimento de uma plataforma que organizasse todo o fluxo de informações que o negócio de commodities requer, conforme ele explica:
“Era preciso ter uma única estrutura, com uma base de dados unificada, onde todos na empresa pudessem visualizar informações completas do processo, desde a alta gestão até o time operacional. Assim partimos para o desenvolvimento da plataforma da Agroboard. A nova empresa assim se tornou uma spin-off da minha consultoria”, conta o ex-aluno da Unicamp sobre o novo negócio criado a partir de uma necessidade da empresa já existente.
Ele comenta que precisou ser persistente até encontrar o melhor caminho: “contratei desenvolvedores e tentei três vezes até achar a fórmula certa”, conta Lombardi. Hoje a plataforma da Agroboard roda em um sistema de Software as a Service (SaaS), que permite atender a vários clientes simultâneos. Segundo ele, mais de 20 empresas, dos mais variados portes, já foram atendidas pela AgTech desde a sua fundação.
“Temos três gigantes do setor em nossa carteira, sendo duas delas listadas na B3 e outra na Nasdaq, e estamos presentes em quatro das dez maiores cooperativas de grãos do Brasil. A maioria dos nossos clientes são desse setor. Outros clientes atuam com operações conhecidas como barter (troca de insumos por grãos), outros são indústrias que processam grãos e há também grandes produtores”, comenta Lombardi.
Como a empresa-filha da Unicamp Agroboard atraiu investidores
Com a carteira de clientes se expandindo e uma maior visibilidade no mercado, Lombardi passou a reunir ao redor da Agroboard um grupo qualificado de especialistas do setor. “Montei um conselho de administração com especialistas da área de commodities, alguns deles com passagens pela XP, B3 e JBS”, detalha o economista.
Segundo ele, o apoio do conselho facilitou a abertura da primeira rodada de captação de recursos no final de 2022. O objetivo era atrair um montante de R$ 1,5 milhão. “Chegamos a R$ 1,8 milhão”, acrescenta Lombardi. Desse total, R$ 1,1 milhão foi aportado pela Rural Ventures, uma empresa de venture capital (capital de risco) voltada a startups ligadas ao agronegócio. Os outros R$ 700 mil foram arrecadados por meio da Arara Seed, uma plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo) para empresas do setor de agrifood.
Lombardi acrescenta que, indiretamente, tem recebido um robusto apoio de big techs do setor de tecnologia. “Também obtivemos importantes créditos para explorar soluções de grandes empresas. A Microsoft nos concedeu créditos de US$ 25 mil para usar os seus produtos, escalável a US$ 125 mil no ano que vem; a Google nos concedeu R$ 700 mil em crédito e a NVIDIA US$ 25 mil”, detalha o CEO da startup.
Todos esses aportes têm contribuído para um faturamento crescente, ano a ano. Como Lombardi informa, em 2021 a AgTech faturou um total de R$ 700 mil, valor que subiu a R$ 1,7 milhão em 2022, e atingiu R$ 5 milhões em 2023. “Esperamos duplicar esse patamar neste ano”, projeta o economista.
Ligação com a Unicamp começou no Ensino Médio
Comandar uma empresa de tecnologia aplicada a um setor financeiro do agronegócio faz todo o sentido com a formação de Lombardi. Natural de Limeira (SP), antes de chegar à Unicamp ele cursou Desenvolvimento de Sistemas no Colégio Técnico de Limeira (COTIL), uma escola integrada à Unicamp, que é responsável pela sua administração, currículo e diretrizes educacionais.
Segundo ele, “a formação no COTIL forneceu um instrumental valioso para minha carreira e me mostrou a importância de tentar me formar pela Unicamp”, comenta o fundador da Agroboard. Nesse sentido, ele acrescenta:
“Eu sabia que estudar na Unicamp mudaria a minha vida, e realmente mudou. A Unicamp agregou uma chancela peculiar no currículo. Sem a Unicamp talvez eu não tivesse conseguidos os estágios que fiz no começo da carreira, e que abriram horizontes nos anos seguintes. A Unicamp foi um divisor de águas em minha vida”, diz o economista.
Ele complementa destacando a metodologia proporcionada pela Universidade: “O método da Unicamp favorece o espírito de iniciativa. Meus professores me estimularam a buscar conhecimento, a caminhar com minhas próprias pernas. Eles não forneciam uma cartilha que ensinava os passos. Quando somos alunos, não reparamos no benefício disso. Hoje eu vejo como essa metodologia é valiosa”, diz Lombardi.
A Agroboard e sua relação com o ecossistema da Unicamp
Contando com o estímulo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp), a AgTech passou a compor, em 2024, o conjunto de empresas-filhas da Unicamp. E seu CEO esclarece os motivos que o levaram a reatar o vínculo com a Universidade, passados tantos anos após formar-se pelo IE:
“A Unicamp é uma referência em inovação, e inovação de ponta. Além disso, é também uma formadora de talentos. Nós temos três profissionais que saíram da Unicamp (um estatístico e dois engenheiros da computação). Os talentos da Universidade são ótimos. Por tudo isso, queremos nos relacionar mais com a Unicamp, explorar futuras parcerias e desenvolver estudos em conjunto”, afirma Lombardi.
Ele finaliza explicando que, atualmente, a Agroboard conta com um time de 20 profissionais. “E sempre temos demanda para gente nova”, conclui.
Ecossistema empreendedor da Unicamp
Um dos ecossistemas empreendedores que a Agroboard faz parte é o Unicamp Ventures, fomentado pela Agência de Inovação Inova Unicamp, que produz conteúdo (como esta matéria) e eventos reunindo as empresas-filhas da Universidade. A Inova Unicamp também é a porta de entrada para empresas que desejem se conectar com grupos de pesquisa para projetos em cooperação com a Universidade.
Podem compor o ecossistema os empreendimentos fundados por pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Universidade, tais como alunos, ex-alunos, docentes e funcionários ou ex-funcionários. Além de startups que foram incubadas na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) ou criadas a partir de uma tecnologia ou conhecimento desenvolvido na Universidade, as chamadas empresas spin-off.
A Inova Unicamp está com o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. O cadastro é gratuito e pode ser feito aqui.