Agência Fapesp | Tecnologia obtém corante natural mais estável a partir de resíduos da uva

Pesquisador, um homem branco e sem barba, que veste jaleco branco, segura tubo transparente contendo o corante. Fim da descrição.

Corantes orgânicos podem substituir versões sintéticas e já contam com aplicabilidade em diversas indústrias, incluindo têxtil e alimentícia. Mas um corante natural pode ser instável de acordo com as condições de luz e temperatura do meio em que é aplicado, sendo um desafio estabilizar suas características – processo que, muitas vezes, exige maior gasto de energia e de recursos orgânicos, provocando impactos ao meio ambiente.

Para resolver esse problema, pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), ambas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveram uma alternativa mais rápida e natural para a criação de corantes a partir da casca de uva, que contém o componente antocianina, responsável pela cor da fruta.

Maurício Ariel Rostagno, professor da FCA-Unicamp e um dos inventores da tecnologia, destaca que a proposta da tecnologia é 100% ecológica, já que a resina aplicada na purificação pode ser reutilizada por oito ciclos diferentes sem que ocorra a perda de sua eficiência.

“Temos uma proposta que é muito mais saudável para o meio ambiente e para as pessoas. Afinal, corantes sintéticos provocam grande preocupação pelos riscos de alergia e impactos à saúde. E as empresas começam a ser cobradas sobre isso, o que nos leva a ter uma grande demanda de mercado. Procuramos formas mais eficientes e mais verdes para purificar esses compostos, com menor impacto ambiental e custo mais baixo”, comenta Rostagno.

A nova tecnologia é fruto de três projetos apoiados pela FAPESP (18/14582-519/13496-0 e 20/08421-9) e teve pedido de patente depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pela Agência de Inovação Inova Unicamp, além de um depósito de patente internacional da tecnologia.

Resultados dos estudos foram detalhados em artigos publicados nos periódicos Green Chemistry e Food Chemistry.

Segundo os artigos, o processo é rápido, não emprega solventes orgânicos de alta volatilidade e apresenta resultados muito mais estáveis do que os pigmentos obtidos com a extração de etanol ou água. Além disso, o processo não demanda equipamentos sofisticados ou mão de obra especializada.

“Um ponto importante desse processo é a estabilidade. Conseguimos ter alto rendimento e pureza ao mesmo tempo em que aumentamos a estabilidade dos compostos, tornando-a maior que a dos processos convencionais. Temos uma recuperação acima de 90% dos solventes”, enfatiza o professor da Unicamp.

Cores vivas

Com o novo processo, os corantes naturais atingem uma pureza de 90%, garantindo uma cor viva e mais estável. Os solventes também permitem o uso dos corantes em altas temperaturas, o que amplia as possibilidades de uso pela indústria.

Rostagno também destaca como benefício da nova tecnologia o aproveitamento de resíduos da uva que, muitas vezes, são descartados pelo setor agrícola e que, com o uso para os solventes eutéticos, podem ser aproveitados como matéria-prima industrial, contribuindo para o melhor aproveitamento dos recursos naturais.

“Recuperar esses compostos, que seriam descartados como adubo, gera muito mais valor agregado à produção da uva”, afirma o pesquisador.

O artigo Combining eutectic solvents and pressurized liquid extraction coupled in-line with solid-phase extraction to recover, purify and stabilize anthocyanins from Brazilian berry waste pode ser lido em: pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2023/gc/d2gc04347e.

Já o estudo Combining eutectic solvents and food-grade silica to recover and stabilize anthocyanins from grape pomace pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308814622030552.

*Matéria publicada na Agência Fapesp com informações da Inova Unicamp.

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