Parceria prevê pesquisas sobre potencial energético do agave

Fotografia de sala da Unicamp com mesa longa onde estão várias pessoas sentadas ao redor. Sobre a mesa há vasos de agave e ao fundo o professor Gonçalo faz uma apresentação.Gonçalo é um homem branco, careca e veste terno. Fim da descrição.
Fase a ser desenvolvida na Unicamp será dedicada aos aspectos biológicos do agave
Texto: Felipe Mateus | Foto: Felipe Bezerra

A Unicamp, a Shell e o Senai Cimatec assinaram, nesta segunda-feira (7), uma parceria para a formação do Programa Brave – Brazil Agave Development. A iniciativa tem o objetivo de desenvolver e explorar o agave como fonte de energia limpa, renovável e com grande potencial de ganhos sociais em áreas como o sertão nordestino. Com duração prevista de cinco anos, o Brave contará com o investimento de R$ 30 milhões feito pela Shell para financiar pesquisas biológicas, agrárias e industriais. A assinatura ocorreu no Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE), do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, e contou com representantes das três instituições e de empresas e órgãos ligados à produção energética. A parceria foi formalizada com apoio da Inova Unicamp.

O acordo foi formalizado pelo reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, por Olivier Wambersie, gerente-geral de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Shell, e por Leone Andrade, diretor de Tecnologia e Inovação do Senai Cimatec. Também participaram do lançamento do programa o coordenador do LGE, professor Gonçalo Pereira, e Alexandre Breda, gerente de Tecnologia de Baixo Carbono da Shell Brasil.

“A Unicamp está fortemente comprometida com a transição energética”, ressaltou o reitor. “Temos imensa variedade de projetos na área de bioenergia e fontes renováveis de energia. Essa é uma agenda de nossa universidade que pode trazer ao país uma nova perspectiva de futuro.”

Uma planta, muitas possibilidades

O Programa Brave realizará pesquisas em três frentes: a primeira, desenvolvida na Unicamp, será dedicada aos aspectos biológicos do agave, como caracterização de suas variedades, sequenciamento e melhoramento genético, desenvolvimento de mudas por baixo custo, análise de seu potencial energético e processo de fermentação e análise do ciclo de vida da planta. “Queremos entender essas plantas por dentro, caracterizar e diferenciar uma da outra por meio de marcadores moleculares, conhecer sua microbiota, ou seja, os microorganismos que interagem com ela”, explica Gonçalo.

As outras frentes serão voltadas aos processos de mecanização e aperfeiçoamento do cultivo do agave, com estudos sobre a aplicação de técnicas agrícolas e manejo de colheitas, e à produção industrial de biocombustíveis do agave, desde a otimização da produção de bioetanois de primeira e segunda geração até a instalação de plantas-piloto para testes e validação de processos. Essas pesquisas serão feitas em parceria com o Senai Cimatec, instituição sediada na Bahia, estado responsável pela maior produção de agave no país. “Parabenizo e agradeço à Shell e à Unicamp pela parceria e pela confiança em nosso trabalho”, celebra Leone Andrade.

O agave é uma espécie de suculenta típica de regiões semiáridas, como o interior do México, onde é utilizado para a produção de tequila, e o sertão nordestino, área em que é cultivado para produção de sisal. O potencial energético de sua biomassa é comparável ao da cana-de-açúcar, com a vantagem de demandar 80% menos irrigação e uso de fertilizantes. Em cinco anos, a cultura do agave rende, por hectare, a produção de 880 toneladas de biomassa, armazena 617 toneladas de água e captura 385 toneladas de carbono.

Hoje, o Brasil é o maior produtor de fibra de sisal do mundo, com cerca de 80 mil toneladas por ano. No entanto, apenas 5% da planta é aproveitado. “Enquanto na Bahia apenas as folhas são utilizadas para a produção das fibras de sisal, no México só se usa a pinha para produção de tequila. Nossa estimativa é que, em um hectare de agave, seja possível produzir 7,4 mil litros de etanol de primeira e segunda gerações por ano. Com esses dados, pensamos na dinâmica de uma biorrefinaria ao propormos utilizar tudo o que o agave oferece, desde a pinha até as folhas”, detalha o coordenador do LGE.

Construindo um novo futuro

Outro potencial que o Brave pretende estimular é o de impactar de forma positiva o sertão nordestino por meio da geração de renda e manutenção de comunidades no campo. Só na região, há cerca de 105 milhões de hectares onde o agave pode ser produzido. Para Olivier Wambersie, este é um objetivo importante almejado pela Shell. “Grandes empresas multinacionais, que têm poder de investimento, devem também ter objetivos sociais em seu trabalho. Não é apenas sobre lucro, há outros pilares que também são essenciais. Com este projeto, a Shell mostra seu compromisso contínuo de fornecer energia para a sociedade”, celebra.

“Queremos ajudar a criar tecnologia para um novo conceito de produção de bioenergia no país, que pode viabilizar o surgimento de uma nova cadeia industrial, colocando o sertão brasileiro como potencial polo produtor de biocombustíveis para o mundo, ao mesmo tempo em que ajudamos a desenvolver uma das áreas de maior vulnerabilidade socioeconômica do Brasil”, pontua Alexandre Breda. Segundo o gerente, o programa partiu de uma ideia simples e atingiu um patamar elevado de sofisticação. “Sua genialidade está justamente na simplicidade da ideia.”

Presente no lançamento do programa, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) destacou o potencial do Brave para fortalecer o papel do país na vanguarda das economias de baixo carbono e manifestou o apoio da Câmara dos Deputados para a iniciativa. “Temos defendido políticas públicas de apoio à inovação, à pesquisa e aos biocombustíveis. Eu e os deputados que apoiam essas causas desejamos contribuir para que haja políticas públicas de incentivo.”

Segundo o reitor da Unicamp, é a sinergia de saberes e esforços que torna a universidade capaz de construir o futuro. “O entusiasmo de pensarmos em um novo Brasil é o que vemos na apresentação deste programa”, finaliza.

 

Texto original publicado no Portal da Unicamp.

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