30 de agosto de 2022 Dispositivo da Unicamp e Uniara reduz avanço do câncer de pele em animais
Complexo de prata com nimesulida incorporado a uma membrana de celulose bacteriana reduziu em 100% avanço do carcinoma de células escamosas em quatro de cada dez animais tratados.
Texto: Ana Paula Palazi | Foto de Capa: Pedro Amatuzzi/Inova Unicamp
Pesquisa publicada na revista Pharmaceutics mostra que uma membrana de celulose bacteriana, impregnada com um complexo de prata e nimesulida, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com a Universidade de Araraquara (Uniara), foi eficaz no combate à progressão do câncer de pele em modelo animal – especialmente carcinoma de células escamosas –, sendo um agente promissor para o tratamento de tumores, com potencial redução dos casos de ressecção cirúrgica (operação para retirada do tecido afetado).
Em fase pré-clínica, in vitro e in vivo, o trabalho forneceu evidências de que o dispositivo de liberação sustentada a base de biopolímeros e um metalofármaco (fármaco que contém metais na composição) afeta a proliferação do carcinoma (de camundongos). De acordo com os dados divulgados, o complexo de prata e nimesulida (AgNMS) pareceu afetar a proliferação celular por um mecanismo diferente da apoptose clássica – morte celular programada que ocorre para remoção de células lesadas e renovação celular.
Caminho promissor para o dispositivo anticâncer
O dispositivo foi aplicado em camundongos com câncer de pele com redução de quase 75% dos tumores. A remissão total (100%) dos tumores foi observada em quatro de cada dez camundongos tratados, enquanto animais não tratados com o dispositivo, que faziam parte do grupo controle, registraram aumento nas dimensões do câncer.
O adesivo colado à pele possibilita a liberação controlada do metalofármaco. O complexo de prata com o anti-inflamatório inserido na membrana atua inibindo a proliferação das células tumorais (atividade citostática) ou provocando a morte celular (atividade citocida), como um quimioterápico. Os pesquisadores, no entanto, ainda não têm claro os mecanismos moleculares de ação do curativo como agente anticancerígeno.
“O efeito anticâncer final observado muito provavelmente pode ser atribuído à combinação de efeitos antiproliferativo e anti-inflamatório observada para o complexo de prata com nimesulida. Dessa forma, o tratamento permitiu um controle da progressão do tumor por ação de diferentes alvos terapêuticos”, explica Ana Lúcia Tasca Gois Ruiz, pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp.
A tecnologia teve a patente depositada pela Inova Unicamp e passou pelo programa de aceleração ASTRo (Applied Science Trail Roche), da Roche e Biominas Brasil, em 2019. Os pesquisadores buscam, agora, novas parcerias para seguir com a pesquisa de forma a avançar no desenvolvimento complementar do adesivo anticâncer e validar se os efeitos serão os mesmos em humanos.
As empresas interessadas em firmar parcerias de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) com o grupo ou licenciar a tecnologia podem entrar em contato com a Agência de Inovação Inova Unicamp.
Tratamento não-invasivo
O carcinoma de células escamosas de pele é o segundo tipo mais frequente de câncer no mundo, segundo dados do Observatório Global de Câncer e do Instituto Nacional do Câncer (INCA) do Brasil. Ele pode ocorrer em todas as partes do corpo, embora seja mais frequente em áreas expostas à radiação solar. O sol induz um processo inflamatório na pele e a exposição à radiação ultravioleta prolongada pode modificar a estrutura do DNA de células da pele.
“A busca por novos compostos e novos tratamentos é uma necessidade premente, particularmente em um país tropical como o nosso, onde as pessoas se expõem muito ao sol”, diz Carmen Silvia Passos Lima, professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Os tratamentos atuais para pacientes com esse tipo de tumor de pele incluem medicamentos de alto custo ou que apresentam efeitos indesejáveis, como reações e irritações cutâneas, além das cirurgias. A ressecção cirúrgica, além de invasiva, pode causar mutilações e desfigurar os pacientes, com a perda da região afetada, sendo muitas vezes necessário o implante de próteses.
Com o adesivo anticâncer, os pesquisadores acreditam que seria possível diminuir as áreas a serem retiradas e até evitar operações, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Isso porque, nos ensaios laboratoriais, o dispositivo permaneceu ativo, liberando a medicação, por três dias.
“Com isso, podemos aumentar a adesão dos pacientes ao tratamento, evitando aplicações frequentes”, comenta Pedro Paulo Corbi, professor e pesquisador do Instituto de Química (IQ) da Unicamp.
O curativo também pode ser produzido em diferentes tamanhos e formatos para se ajustar aos tumores. A facilidade no preparo da membrana são vantagens adicionais para o desenvolvimento comercial do dispositivo. “Não existe, até onde sabemos, nenhum fármaco à base de prata aprovado para o tratamento tópico de pacientes com câncer de pele. Este pode ser o primeiro”, diz o pesquisador.
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