Unicamp desenvolve aditivo para tintas que inativa o coronavírus

Tinta anti-covid: Mãos com luvas de proteção azul seguram amostras da pesquisa

A tecnologia à base de cobre reduziu em 99,99% a atividade viral após duas horas. As micropartículas para tinta anti-covid também podem ser incorporadas na fabricação de peças plásticas e metálicas.

Texto: Ana Paula Palazi | Fotos: Pedro Amatuzzi/ Inova Unicamp

Um aditivo antiviral e antibacteriano para tintas à base de micropartículas de cobre (pó de cobre) desenvolvido pela Unicamp inativou em 99,99% o coronavírus, causador da Covid-19. O resultado foi observado a partir de duas horas de exposição do microrganismo por contato na superfície recoberta com a pintura aditivada. A tecnologia virucida pode ser misturada em tintas comuns de parede e até incorporada na fabricação de objetos metálicos e plásticos, como maçanetas, barras de apoio de ônibus do transporte público e botões de elevadores. 

A composição foi desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e caracterizada em testes conduzidos no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. O invento teve o pedido de patente depositado pela Agência de Inovação Inova Unicamp e já pode ser licenciado para usos da indústria enquanto o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) analisa a documentação.

“Utilizamos micropartículas de 20 a 60 micrômetros. O tamanho facilita a incorporação nos produtos finais, pois não necessita de outros equipamentos industriais, não afeta as propriedades físicas, como cor e textura, além disso, a tecnologia é mais segura na comparação com o uso de nanopartículas de cobre, que são mais difíceis de dispersar e incorporar”, diz a professora e pesquisadora da Unicamp Laís Pellizzer Gabriel.

Menor que um grão de areia

O processo de produção do pó de cobre, explica o engenheiro Éder Sócrates Najar Lopes, professor e pesquisador da Unicamp, possui rotas simples que não alterariam processos já conduzidos pela indústria. O pó metálico resultante apresenta partículas dez vezes menores que as de um grão de areia. Além do formato, a natureza e o tamanho do cobre são controlados para alcançar o efeito antiviral.

“Percebemos que o óxido de cobre é melhor do que o cobre na forma pura, porque ele tem um formato menos homogêneo de partículas e isso favorece a desativação dos vírus. A rota de produção e a aplicação também tem fácil capilaridade comercial, pois não precisaria de preparação prévia ou mudança no processo de diluição da tinta que os pintores já fazem na forma tradicional”, explica.

As micropartículas de cobre podem ser obtidas por moagem tradicional, com jatos de gás e de água (atomização) ou com uso de processo eletroquímico (eletrodeposição). Nos testes, o cobre moído foi adicionado a tinta branca à base de água, sem a necessidade de misturadores ou equipamentos especiais e não alterou a aparência original do produto. A tecnologia também permite o uso de cobre reciclado, reduzindo os custos de produção com a reciclagem do metal. 

Outra vantagem é que o aditivo apresenta uma concentração baixa de óxido de cobre, entre 5% e 15%, o que torna a tecnologia mais competitiva. “Em todas as concentrações testadas de óxido de cobre obtivemos resultados iguais na inativação do coronavírus, o que nos leva a pensar que uma diminuição desse percentual, importante para o custo final de um produto, também não alteraria o efeito”, comenta Lopes.

Tinta anti-covid: Os três pesquisadores estão lado a lado de camisas claras, ao fundo corredor da universidade

Profa. Laís Pellizzer Gabriel, Prof. Éder Sócrates Najar Lopes e Profa. Clarice Arns (da esq. para dir.)

Como funciona a tinta anti-covid?

As partículas de óxido de cobre funcionam como um desinfetante natural. As tintas e superfícies enriquecidas com o aditivo desencadeiam um processo que destrói a capa protetora do vírus e torna a superfície insustentável para ele se manter vivo. Assim, quando uma pessoa espirra ou tosse próximo com uma parede ou um corrimão, por exemplo, e o coronavírus se deposita nessa superfície aditivada, ele interage com as partículas de cobre e é destruído.

A solução tecnológica foi pensada para hospitais e locais com grande circulação de pessoas, como terminais de passageiros, escolas e áreas comuns em condomínios. Outra possibilidade é a incorporação em embalagens, para reduzir o risco de contágio de pessoas em superfícies contaminadas, como explica a professora do Instituto de Biologia, Clarice Arns, que coordenou os testes com vírus e a toxicidade.

“O cobre é um metal bastante estável, mais barato que a prata e reconhecido há muito tempo por sua atividade antiviral e bactericida. O óxido de cobre testado não foi tóxico às linhagens de células, que são extremamente sensíveis, nos testes in vitro, assim, o aditivo apresenta potencial amplo de aplicação, como em embalagens plásticas para alimentos”, aponta a virologista. 

Os estudos conduzidos por Arns se limitaram a avaliar o efeito do cobre por um tempo máximo de vinte e quatro horas, o que não significa que após esse período o efeito passe, ao contrário, os resultados preliminares indicam permanência e constância. 

“Quanto mais o tempo passou, maior foi o poder virucida do aditivo. A partir de duas horas de contato houve a estabilização e o efeito de inativação se manteve igual ao longo das vinte e quatro horas”, comenta a pesquisadora. 

O aditivo pode ser um aliado no combate às infecções virais e bacterianas por contato em superfícies contaminadas, mas não elimina outras medidas sanitárias, como o uso de máscaras e a lavagem das mãos, uma vez que não é efetivo no controle da transmissão aérea de doenças e por contato entre as pessoas.

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