15 de dezembro de 2021 Farinha de mandioca com alta biodisponibilidade de ferro
A farinha de mandioca enriquecida possui três vezes mais ferro que outros alimentos vegetais. A tecnologia pode beneficiar pessoas em dietas deficientes ou restritivas de carne.
Texto: Caroline Roxo | Foto de capa: Pedro Amatuzzi
A mandioca é um alimento muito popular no Brasil, contudo, nem tudo do tubérculo costuma ser aproveitado e acaba sendo descartado pelos produtores como resíduo. Para agregar valor a este alimento tão presente na mesa dos brasileiros, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Instituto Agronômico (IAC), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e com participação de pesquisador independente desenvolveu uma tecnologia para enriquecer as folhas de mandioca. O resultado é uma farinha rica em ferro, com finalidade nutritiva capaz de reduzir uma das deficiências de minerais mais frequentes na população adulta e infantil.
“Essa tecnologia enriquece a folha da mandioca e faz com que o alimento ofereça a biodisponibilidade de ferro quase três vezes a mais em comparação aos alimentos vegetais, que possuem baixa biodisponibilidade de ferro”, explica o professor Mário Maróstica, pesquisador da Unicamp e responsável pela tecnologia.
O processo de biofortificação das folhas secas da mandioca utiliza apenas três matérias-primas, sendo a mandioca, uma fonte de ferro e água, os únicos elementos necessários para colocar em prática a tecnologia. Isso permite que qualquer produtor de mandioca possa gerar a farinha enriquecida com ferro dentro de uma cooperativa e comercializá-la, seja como produto final para o consumidor ou na forma bruta para indústrias de alimentos.
A tecnologia teve pedido de patente depositado pela Agência de Inovação Inova Unicamp no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e está disponível para licenciamento pelo setor privado e público. “Focamos no desenvolvimento de um produto para fácil aplicação industrial. Além disso, a farinha biofortificada é um alimento seco e menos suscetível à contaminação microbiana, com longa durabilidade” expõe Maróstica.
Farinha de mandioca como alternativa para minimizar os efeitos da fome oculta
A fome oculta configura como a carência de micronutrientes (vitaminas e minerais) essenciais para processos básicos do corpo humano. A anemia ferropriva é uma dessas carências nutricionais, por resultar em problemas cognitivos, de crescimento, baixo rendimento escolar e profissional, sendo uma das mais reportadas no mundo. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a fome oculta afeta uma em cada quatro pessoas.
As recomendações de ingestão de nutrientes são diárias, é necessário que as pessoas possam se alimentar bem todos os dias para seguirem com uma dieta favorável à saúde. No entanto, como mostram os dados, 25% da população mundial se encontra em situação de vulnerabilidade nutricional. Além disso, ao analisar o consumo de ferro na população, uma pesquisa feita no país, concluiu que uma em cada três crianças brasileiras sofrem de anemia ferropriva, o que sugere 20% do público infantil do Brasil.
“Quando ofertamos um alimento rico em ferro, conseguimos melhorar a alimentação do indivíduo que não consome carne ou até mesmo que não pode consumir carne suficiente naquele dia, é a ciência em prol da população”, afirma o pesquisador.
Outros benefícios da farinha
O processo de biofortificação de ferro na folha seca da mandioca também ocasionou um aumento na biodisponibilidade de proteínas do alimento. “Analisamos que após o processo de enriquecimento a disponibilidade de proteínas na folha seca da mandioca aumentou. Não aumentou a quantidade presente no alimento, mas sim a biodisponibilidade, em outras palavras, o consumidor dessa farinha de mandioca terá uma maior absorção de proteína em comparação a uma folha mandioca não tratada ”, explica Maróstica.
Outra questão que o pesquisador pontua como importante no processo de biofortificação da folha da mandioca é o fato da tecnologia não apresentar melhoramento genético, ou seja, o alimento não se caracteriza como transgênico. “Muitas pessoas são relutantes com alimentos transgênicos, mas o nosso processo não resulta em qualquer alteração na genética do alimento”, conta.
O público para consumo desse alimento é diverso, sejam pessoas carentes de recursos financeiros para a ingestão de uma alimentação balanceada, pessoas que buscam fontes alternativas de alimentos ricos em ferro, além da população vegana ou vegetariana, que podem ser afetadas pela baixa ingestão de ferro, por conta do não consumo da carne animal, maior fonte desse mineral para o organismo. O setor agroindustrial também pode se beneficiar do produto para suplementação da alimentação animal.
Da universidade para a população
Para que a farinha de mandioca tecnológica chegue na mesa do consumidor, é necessário que o setor privado ou público licencie a tecnologia. O processo de negociação é feito por intermédio da Inova Unicamp. A tecnologia pode ser aplicada em empresas interessadas tanto na produção da farinha bruta como no seu uso em outros alimentos, a exemplo de pães de mandioca. Para saber mais sobre o licenciamento, empresas ou produtores interessados podem entrar em contato com a Inova na área Conexão com Empresas.
Saiba mais
- Para mais informações sobre as tecnologias da Universidade Estadual de Campinas acesse o Portfólio de Patentes e Softwares da Unicamp.
- O Relatório Anual completo da Agência de Inovação está disponível para download e consulta.
- Baixe também a Revista Prêmio Inventores e leia reportagens sobre tecnologias licenciadas da Unicamp para o mercado.
- Empresas interessadas no licenciamento podem entrar em contato com a Inova na área Conexão com Empresas.