1 de julho de 2021 Invenção transforma geladeira em secadora de alimentos
Os pesquisadores da Unicamp aproveitaram o calor dissipado na parte de trás do eletrodoméstico para construir um desidratador de ervas e condimentos termosensíveis.
Texto: Ana Paula Palazi | Foto de capa: Pixabay
O desidratador “a frio”, econômico e de pequeno porte foi desenvolvido na Unicamp a partir de uma geladeira doméstica de 250 litros. O protótipo funciona com faixas de temperaturas consideradas baixas – entre 40º e 50º -, se comparado a outros secadores, sendo indicado para a secagem de alimentos termosensíveis como condimentos, chás e plantas medicinais.
Nessa faixa, o aparelho minimiza as perdas nutricionais que ocorrem naturalmente pela exposição dos alimentos ao calor. Hortelã e manjericão são exemplos das ervas aromáticas que podem ser conservadas por mais tempo com o dispositivo construído por pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.
A invenção foi concebida pelo professor Vivaldo Silveira Junior, coordenador do Laboratório de Automação e Controle de Processos de Alimentos (LACPA), do Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos (DETA), da Unicamp, e pela engenheira de alimentos, Paula Lyra Falquetto, durante a pós-graduação dela.
O dispositivo opera em condições diferentes, proporcionando uma bomba de calor fácil de operar e com baixo consumo de energia. Os dois circuitos são similares, explica o docente. “Tem algumas pessoas que olham pelo lado frio e outras pelo lado quente. Nós olhamos os dois lados juntos, pensando na eficiência energética”, diz Vivaldo Silveira Junior.
O desidratador de ervas pode ser aplicado para uso doméstico ou em pequenos comércios, como restaurantes e pizzarias. “Uma das vantagens de se ter um secador em casa ou no restaurante está em evitar perdas mantendo a qualidade, o sabor e a aparência das ervas o mais próximo do alimento fresco”, comenta.
Prova de conceito
O desperdício é um dos grandes desafios mundiais. A ONU estima que 17% de todos os alimentos disponíveis para consumo vão parar no lixo. Enquanto, a fome extrema é uma realidade para 690 milhões de pessoas. O processo de secagem aumenta a vida útil dos produtos de forma econômica, reduzindo as perdas pós-colheita e garantindo o valor nutricional, quando feito de forma adequada.
“Nosso objetivo foi testar o conceito e mostrar que um aparelho doméstico podia ser adaptado. Usamos uma geladeira para isso, o que não seria a condição ideal, e demonstramos que é uma tecnologia válida”, comenta a cientista Paula Lyra Falquetto.
Os testes foram feitos com hortelã-pimenta (Mentha piperita L.). A erva aromática é muito apreciada como condimento, bem como para fins medicinais e cosméticos. Ela é produzida o ano inteiro, mas é altamente perene e estraga rapidamente depois de colhida.
Três ensaios foram realizados em diferentes condições de temperatura e umidade relativa do ar. As folhas ficaram entre três e quatro horas no desidratador de ervas. O resultado foi um produto seco por igual. A cor também foi mantida bem mais próxima do verde natural, se comparada à hortelã desidratada disponível no mercado.
“A característica da cor está diretamente ligada a presença de antioxidantes e bioativos, o que mostra que o processo preserva esses compostos de interesse”, relaciona Falquetto. A umidade na hortelã tratada também ficou mais baixa do que o indicado na literatura científica para que ocorra a inibição do crescimento de microorganismos que deterioram o alimento.
O dado mostra que o tempo de secagem empregado no desidratador de ervas poderia ser menor, reduzindo ainda mais o gasto energético. O dispositivo patenteado, com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, também permite o dimensionado do sistema para outros tamanhos de equipamentos e tipos de alimentos, como a secagem de grãos selecionados de café.
Reforçando a ventilação
A desidratação e o resfriamento são duas das técnicas mais antigas usadas pelo homem para a conservação dos alimentos. A primeira máquina para desidratar frutas, grãos e vegetais foi criada no século 18, enquanto o primeiro refrigerador só foi inventado no século seguinte.
A refrigeração acontece nas geladeiras a partir de um fluido que circula pelas serpentinas. Dependendo da pressão nos tubos, a temperatura pode cair ou aumentar. Isso é controlado por sensores e pelo compressor. Nesses ciclos, o equipamento transfere o calor de dentro para fora do gabinete. É por isso que as geladeiras costumam ser mais quentes na parte de trás.
O equipamento projetado usa a própria estrutura da geladeira com o gabinete e as prateleiras. O que os pesquisadores fizeram foi trabalhar o sistema para aproveitar as duas trocas de temperatura, canalizando o ar quente com a umidade reduzida para o alimento. “Nós não inventamos o resfriamento, o aquecimento ou o tratamento de ar, isso já existia, mas colocar tudo no mesmo lugar, num equipamento de pequeno porte, foi a novidade da patente”, resume Silveira Junior.
Saiba mais
Para mais informações sobre o perfil desta e de outras tecnologias da Universidade Estadual de Campinas acesse o site de patentes e softwares da Inova Unicamp. Empresas interessadas no licenciamento podem entrar em contato com a Inova na área Conexão com Empresas. O Relatório Anual completo da Agência de Inovação está disponível para download e consulta. Baixe também a Revista Prêmio Inventores e leia mais reportagens sobre patentes concedidas e tecnologias licenciadas da Unicamp.