11 jun Plataforma Solidariedade à Pesquisa
Software desenvolvido na Unicamp possibilita pesquisadores de todo Brasil a se comunicarem para trocar, emprestar ou doar insumos, equipamentos e serviços voltados à pesquisa científica
Texto: Kátia Kishi | Fotos: Pedro Amatuzzi
A crise no financiamento da pesquisa brasileira vem se intensificando no país inteiro desde 2017, quando o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) sofreu um corte de 44% do orçamento. Outros cortes seguiram esse, como a recente redução de 18,2% do orçamento do Ministério da Educação (MEC) em seu orçamento de despesas discricionárias prevista para o ano de 2021. Esta grave restrição de recursos para órgãos de fomento impactou tanto na infraestrutura de laboratórios quanto nas bolsas de pesquisas e pós-graduação cedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e por outros órgãos de fomento à pesquisa, que também foram afetados com outros cortes orçamentários.
Diante desse cenário “cujos cortes afetam de modo desigual pesquisadores de diferentes regiões do país, causando grande impacto negativo sobre a geração de conhecimento e a formação de recursos humanos na pós-graduação”, e buscando alternativas para evitar mais prejuízos, em 2017, o então coordenador da área de Medicina I da CAPES e atual professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM Unicamp), José Gontijo, teve a ideia de desenvolver uma plataforma colaborativa entre os pesquisadores espalhados pelo país para que as pesquisas não parassem.
O professor disse que se inspirou em programas de auxílio e colaboração que estavam acontecendo entre pesquisadores europeus promovidos pela European Molecular Biology Organization (EMBO), voltados a países afetados por crises financeiras ou conflitos armados como Grécia e Síria, que possibilitavam o compartilhamento de insumos e o acolhimento em laboratórios de pesquisas, situações similares, pela gravidade, àquelas que ainda afetam pesquisadores no Brasil:
“A ideia inicial que nos motivou foi possibilitar que, ao menos, as dissertações e teses em andamento fossem concluídas para evitar um prejuízo irreversível na formação dos alunos de Mestrado e Doutorado. Então, busquei ajuda da equipe de Tecnologia da Informação (TI) da FCM para conceber uma ferramenta, como um meio de comunicação e contato entre os pesquisadores, que permitisse doações, trocas ou empréstimos de equipamentos e insumos entre as universidades. Eles ficaram empolgados, desenharam e desenvolveram toda a plataforma”, lembra Gontijo sobre as motivações por trás do software.
Com o apoio de Cleusa Milani, Fabiana de Souza, Gabriel Ishizaki e Newton da Silva, que são funcionários de TI da FCM Unicamp e homenageados junto ao professor Gontijo no Prêmio Inventores na categoria de Tecnologia Licenciada, foi possível desenvolver o software, que funciona como um mural eletrônico com publicações de ofertas e procuras de insumos, além de buscar formas de viabilizar que a plataforma chegasse ao máximo de pesquisadores possível.
Parcerias para validar a tecnologia
A busca por parceiros que pudessem fazer com que a ideia fosse para além do código se encontrou com iniciativas já em andamento entre a CAPES e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
O diretor de serviços e soluções da RNP, Antônio Carlos Nunes, lembra que na mesma época de desenvolvimento do software da Unicamp, a RNP e a CAPES começaram a Iniciativa de Disseminação de Serviços e Soluções para Ciência nos Programas de Pós-Graduação, conhecida como Iniciativa PPGs, que tinha a intenção de entender pelos próprios pesquisadores quais eram suas necessidades tecnológicas e quais eram as ideias de soluções que seriam interessantes incentivar em prol dos Programas de Pós-Graduação do país.
“Conhecemos a solução desenvolvida pela Unicamp e ficou evidente o valor dela para a comunidade acadêmica e científica. Diante do cenário que tínhamos na época e ainda repercute, o de escassez de recursos para ensino e pesquisa, a criação da Unicamp visava consolidar uma rede de pesquisadores que poderiam colaborar entre si, trocando, emprestando, solicitando ou doando materiais, equipamentos e insumos para suas pesquisas. A plataforma aproxima quem faz ciência no país, amplia as redes de contatos entre esses pesquisadores e fortalece o desenvolvimento do ensino e pesquisa brasileiros”, defende Nunes sobre o valor da plataforma.
Mas antes que a RNP licenciasse gratuitamente a tecnologia para disponibilizar a solução em seu catálogo para os quase 200 mil pesquisadores espalhados pelo país, era necessário validar se a solução realmente era aderente aos usuários finais, bem como o modelo de negócio para oferecer o serviço.
E a tarefa foi realizada “a muitas mãos”: a RNP buscou estruturar e adequar a solução para ofertá-la em escala nacional, enquanto a CAPES colocou a plataforma em campo para testar, entre pesquisadores, sua usabilidade e coletar avaliações de melhorias para que fosse uma experiência fácil e intuitiva, conforme explica Manoel Siqueira, coordenador de Gestão da Informação da CAPES:
“Ter uma plataforma nacional de uma universidade pública, com apoio da CAPES e RNP, que visa o compartilhamento de recursos é muito importante e reforça o papel colaborativo da pesquisa. E nós, da Diretoria de Avaliação da CAPES, sempre procuramos estimular as iniciativas que fortaleçam a ciência, tecnologia e inovação do país. Recebemos feedbacks bem positivos dos pesquisadores sobre a plataforma”, justifica Siqueira.
Pesquisadores de todo Brasil já podem acessar
Com a solução do “mural eletrônico” validada e o entendimento sobre como oferecer acesso em escala nacional para pesquisadores, preparou-se o lançamento da plataforma, bem como o processo de licenciamento da RNP pelo software de titularidade da Unicamp, assinado em 2020 com apoio da Agência de Inovação.
Hoje, o Solidariedade à Pesquisa está disponível no catálogo do NasNuvens, que reúne outros serviços oferecidos pela RNP e seus parceiros com foco no segmento de Pesquisa e Educação, e organiza por macro áreas do conhecimento e tipo de publicação, como doação, empréstimos, ofertas ou pedidos.
Para acessar a plataforma, é necessário que os alunos, docentes e pesquisadores estejam com vínculo ativo em uma das 531 instituições de ensino superior do Brasil credenciadas na Comunidade Acadêmica Federada (CAFe), que integra e redireciona para autenticação automática com cada instituição. Por exemplo, a comunidade interna da Unicamp acessa o sistema com a senha única da Universidade, sem precisar criar um novo cadastro para reconhecer seu vínculo.
Segundo a equipe de TI da FCM Unicamp, desde o lançamento, a plataforma já recebeu 41 publicações, sendo 20 pedidos e 21 ofertas entre insumos e livros. Até o momento, houve duas combinações de demandas e doações efetivadas. Mas todos os parceiros esperam que com, cada vez mais divulgação, mais pesquisadores usem a plataforma para colaborarem com as pesquisas de colegas de outras instituições.
Solidariedade à força tarefa da pandemia COVID-19
Por conta da pandemia do novo coronavírus e em sintonia com a Força Tarefa Unicamp contra a Covid-19, foi lançado em 2020 uma plataforma derivada chamada Solidariedade à Força Tarefa da Pandemia Covid-19, que não é restrita ao público acadêmico, sendo que qualquer pessoa pode acessar para colaborar, doar ou solicitar materiais, equipamentos, insumos e outros itens, como máscaras, luvas e álcool em gel para o combate à COVID-19.
“São duas plataformas distintas, independentes e com objetivos diferentes. Ou seja, os anúncios feitos em uma plataforma não repercutem na outra e vice-versa. Por conta da pandemia, essa nova plataforma busca colaborar com instituições de saúde, ONGs e outras organizações solidárias”, esclarece Nunes sobre a plataforma derivada.
Também não é necessário se cadastrar para acessar a plataforma, basta que os interessados entrem com as credenciais já usadas em contas do Google ou Facebook.
Participe do webinar Prêmio Inventores
Com o objetivo de homenagear alunos, ex-alunos, pesquisadores e docentes envolvidos em atividades de proteção e transferência de tecnologia da Unicamp, a Agência de Inovação da Unicamp realiza anualmente o Prêmio Inventores com diversaso atividades, que neste ano terá conteúdo extra no formato webinar.
Durante o evento, é possível conhecer mais sobre outras inovações e participar das sessões de perguntas e respostas com o público. Entre os conteúdos, vamos abordar assuntos como oportunidades de negócios para softwares, conhecer algumas tecnologias da Unicamp absorvidas pelo mercado, sobre a proteção da propriedade intelectual e muito mais. Confira a programação completa aqui.
O evento acontece durante um dia inteiro. É possível assistir às mesas e aos blocos de interesse acessando o mesmo link para qualquer horário, que será enviado por e-mail após a inscrição.
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