16 jun A energia que move a transferência de tecnologia
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp conquista, pela terceira vez, o título de “Unidade Destaque” ao levar resultados de pesquisas para o mercado
Texto: Ana Paula Palazi | Fotos: Pedro Amatuzzi
Da qualidade do filme ou série que assistimos na internet ao controle de ervas daninhas no campo. Qual a relação que essas atividades, tão distintas, poderiam ter com o gerenciamento de equipamentos num hospital? Todas fazem parte de uma lista de inventos de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), da Unicamp, que foram licenciados para o setor público e privado em 2020. Ciência e tecnologia desenvolvidas na universidade pública que estão mais próximas do nosso dia-a-dia.
A FEEC registrou um aumento de 90% no número de licenciamentos nos últimos três anos. Ocupa a 1ª posição no ranking da Inova Unicamp, tendo pesquisadores, alunos, ex-alunos e docentes envolvidos num total de 37 dos 48 contratos firmados pela Unicamp no ano passado. Esse é o mais alto índice de licenças de uma única unidade e da universidade, desde 2003, após a criação da Agência de Inovação da Unicamp que passou a consolidar os dados anualmente.
Do total de contratos assinados, 35 são do GETS. Um software que faz o gerenciamento de equipamentos médico-hospitalares, capaz de gerar grande impacto na vida das pessoas, principalmente de quem depende do SUS. Uma negociação que levou cinco anos com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares permitiu que os hospitais universitários federais públicos da rede Ebserh recebessem contratos individuais de uso. Dessa forma, mesmo que a unidade de saúde seja desvinculada do grupo nos próximos dez anos, por qualquer motivo, não perde a licença de acesso.
O resultado positivo nos licenciamentos conferiu à FEEC o título de “Unidade Destaque em Transferência de Tecnologia” do Prêmio Inventores da Unicamp que homenageia quem esteve envolvido em atividades de proteção, inovação e empreendedorismo na universidade. Essa é a terceira vez que a Faculdade vence a categoria. As outras duas foram em 2018, quando seis patentes envolvendo inventores na FEEC foram transferidas para o setor empresarial, e 2019, quando quatro patentes foram licenciadas.
O diretor da FEEC, professor José Alexandre Diniz, diz que a conquista é o resultado de um trabalho conjunto e permanente da unidade. “Eu me sinto muito honrado de controlar uma equipe sensacional com profissionais muito competentes e reconhecidos pelo mercado que trabalham focados no que fazem”, disse. O currículo multidisciplinar da FEEC é apontado como um diferencial que estimula a inovação, formando alunos com aprendizados técnicos e específicos. Segundo Diniz, 20% das disciplinas oferecidas são laboratoriais possibilitando aliar teoria e prática.
Celeiro de profissionais
A infraestrutura e competência para gerar tecnologias e difundir inovações no mercado está presente nas bases da FEEC. A unidade sempre teve estreitos vínculos com instituições renomadas como o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). A proximidade com outras instituições que produzem pesquisas de ponta, como o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e o Instituto Eldorado, fazem da FEEC um polo formador de profissionais com amplo conhecimento.
O diretor associado da Agência de Inovação e docente da FEEC, Renato Lopes, destaca o pioneirismo da unidade no ensino, pesquisa e extensão. Ele lembra que a capacidade de captação de recursos das pesquisas é levada em conta para a promoção dos docentes da FEEC, mostrando que a faculdade valoriza fortemente as interações com a indústria. Outro ponto citado está na participação dos estudantes, desde muito cedo, em disciplinas de pós-graduação e atividades de empreendedorismo. “O fato dos alunos participarem dessas atividades mostra que a cultura da inovação é forte entre eles, e leva a casos de sucesso que realimentam um círculo virtuoso”, frisa Lopes
Centros de inovação
A Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp sempre esteve envolvida em grandes projetos nacionais como a modernização do sistema de comunicação digital na década de 1970 ou o debate que definiu o padrão digital da TV brasileira no início dos anos 2000. A unidade também lidera projetos ligados ao Campus Sustentável e o Laboratório Vivo de Barão Geraldo, em parceria com a CPFL Energia, e participa do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (CEPID Brainn) e do Centro Brasileiro de Pesquisas sobre a Água (BRWC, na sigla em inglês), atuando em pesquisas de ponta.
Recentemente, a FEEC foi aprovada para sediar um dos seis Centros de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial do país, anunciados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em maio deste ano. O projeto do Brazilian Institute of Data Science (BI0S) envolve outras unidades como a Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI) e o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (CEPAGRI) para o desenvolvimento de pesquisas voltadas às áreas de saúde, agronegócio e cidades inteligentes.
A contribuição da FEEC não se restringe apenas à formação de engenheiros altamente qualificados. A inovação estimulada pelos professores e entre os próprios alunos cria uma vitrine que garante a aproximação de grandes empresas em busca de parcerias. “As indústrias vêm aqui na faculdade buscando soluções e consequentemente isso também estimula a transferência de tecnologia para o mercado”, conta Diniz.
Pesquisas de impacto
Um exemplo da interação que beneficia a sociedade está num novo método para transmissão de vídeo digital. A partir de um convênio de P&D firmado com a Samsung, a equipe do professor Christian Rodolfo Esteve Rothenberg desenvolveu uma forma de contornar a sobrecarga dos canais de streaming sem precisar aumentar a capacidade de banda larga. A nova metodologia é baseada no protocolo MMT (MPEG Media Transport) e permite à maior fabricante de smartphones e televisores do mundo melhorar a qualidade da transmissão com o uso de multipercursos de streaming de mídia.
Outro projeto colaborativo alinhado com as demandas do mercado, que foi licenciado em 2020, é uma máquina de capina elétrica para o controle de ervas daninhas e outras plantas indesejadas no campo. O equipamento, mais eficiente que a capina manual e com menos impacto ambiental que o uso de herbicidas, foi desenvolvido pela equipe do professor José Antenor Pomilio em parceria com a Zasso Group AG, empresa especializada em soluções não químicas de gerenciamento rural.
“A transferência de tecnologia é uma forma importante de mostrar o que a gente faz. Mostrar que vale a pena investir na universidade. É um retorno para a sociedade”, explica Lopes.
Proteção como cultura
A FEEC tem uma grande atuação na produção e difusão de conhecimento aplicado. A faculdade firmou 72 contratos de licença de tecnologia com o setor público e empresarial desde 2004, uma média de quatro por ano – sendo responsável por 36% dos 176 contratos ativos da universidade. Esses contratos contribuem para a entrada de recursos que mantêm os laboratórios equipados e impulsionam novas pesquisas.
Os pesquisadores da unidade também estiveram envolvidos num total de 168 pedidos de patentes nos últimos 34 anos, desde 1987 quando o primeiro pedido de proteção da então Faculdade de Engenharia Elétrica (FEE) foi depositado. Nas últimas duas décadas a FEEC realizou depósitos consecutivos, sem falhar em nenhum ano. Em 2020, foram depositados três novos pedidos de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Ao olhar a série histórica, o número de depósitos é o menor desde 2008, ainda assim celebrado, diante da situação do país. Segundo o diretor da FEEC, as pesquisas produzidas na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, como em outras unidades, foram impactadas pela pandemia. A crise sanitária levou ao fechamento de laboratórios por medida de segurança. “Uma boa parte dos nossos professores conseguem trabalhar remotamente, mas existem pesquisas que dependem do trabalho presencial. Do outro lado, a questão de financiamento de bolsas para os alunos têm caído e nos preocupado bastante”, comenta Diniz.
Empreendedorismo aquecido
Diante dos desafios, a FEEC tem trabalhado juntamente com a Inova para manter e gerar oportunidades. Nesse cenário, o empreendedorismo pode ser o combustível para a retomada. A competência da FEEC em atrair parcerias e formar talentos também apresenta um ambiente propício para incentivar o ecossistema empreendedor. De todas as mil empresas-filhas cadastradas da Unicamp, 18% têm em seu quadro de fundadores empreendedores oriundos da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação.
A proximidade com a estrutura e as tecnologias desenvolvidas na Unicamp dão suporte à criação de startups e spin-offs que geram empregos diretos e indiretos, movimentando a economia. Entre as empresas-filhas da Unicamp surgidas a partir da FEEC está a NeuralMind, fundada pelo professor aposentado e colaborador Roberto Lotufo. Após três décadas de docência, o pesquisador decidiu aplicar a expertise reunida nos projetos com a indústria para empreender. Hoje, a NeuralMind é referência na área de processamento de linguagem natural, emprega trinta pessoas e tem em seu quadro quatro alunos de pós-graduação que desenvolvem pesquisas na área de inteligência artificial.
“Eu acredito muito que a universidade, como fator de transformação, tem o papel de fomentar os pesquisadores, e vejo cada vez mais essa possibilidade do aluno também ser empreendedor. Essa é uma contribuição muito grande da Unicamp e o papel da Agência de Inovação é fomentar esse ciclo de oportunidades, para que as pesquisas feitas na universidade possam chegar à sociedade também por meio de startups”, avalia Lotufo.
Participe do webinar Prêmio Inventores
Com o objetivo de homenagear alunos, ex-alunos, pesquisadores e docentes envolvidos em atividades de proteção e transferência de tecnologia da Unicamp, a Agência de Inovação da Unicamp realiza anualmente o Prêmio Inventores com diversaso atividades, que neste ano terá conteúdo extra no formato webinar.
Durante o evento, é possível conhecer mais sobre outras inovações e participar das sessões de perguntas e respostas com o público. Entre os conteúdos, vamos abordar assuntos como oportunidades de negócios para softwares, conhecer algumas tecnologias da Unicamp absorvidas pelo mercado, sobre a proteção da propriedade intelectual e muito mais. Confira a programação completa aqui.
O evento acontece durante um dia inteiro. É possível assistir às mesas e aos blocos de interesse acessando o mesmo link para qualquer horário, que será enviado por e-mail após a inscrição.
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