27 maio Monitoramento de amarras usadas na ancoragem de plataformas marítimas
Tecnologia desenvolvida em uma colaboração entre pesquisadores da Unicamp e a empresa BR2W permite monitorar carga a que são submetidas amarras de sistemas de ancoragem em plataformas de petróleo
Texto: Karen Canto | Foto de capa: Pedro Amatuzzi
Um dos mecanismos responsáveis pela ancoragem das plataformas de petróleo em grandes profundidades são as amarras, que se caracterizam por grandes correntes, com elos que podem chegar a 70 cm de comprimento, e longas o bastante para tocar o leito do mar. As amarras conferem estabilidade às plataformas, permitindo que permaneçam no mesmo local, ainda que expostas ao movimento causado pelas correntes marítimas. Devido à sua importância, é necessário o monitoramento constante das cargas às quais as amarras estão submetidas, a fim de evitar o rompimento dos elos.
Na Unicamp, um grupo de pesquisa liderado pelo professor Milton Dias, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), em colaboração com a empresa BR2W, desenvolveu uma solução voltada justamente para o monitoramento dessas cargas.
“Os métodos existentes atualmente para esse tipo de controle são muito caros. Já os que têm preços acessíveis, são imprecisos. Nós desenvolvemos uma metodologia de monitoramento fácil de ser aplicada e que fornece um nível de precisão interessante, sobretudo se considerarmos suas vantagens”, explica o docente.
A tecnologia desenvolvida no Laboratório de Dinâmica de Estruturas e Máquinas (LDEM) envolve um método para determinação da carga axial aplicada às amarras por meio da medição da resposta vibracional desses sistemas. A tecnologia consiste de um mecanismo de aquisição e processamento de sinais que registra a vibração na amarra, de maneira que suas frequências naturais sejam estimadas. Conhecendo-se a relação entre essas frequências naturais e a carga axial à qual a amarra está submetida, é possível determinar a carga que atua sobre a amarra.
O processamento dos dados é realizado com algoritmos de inteligência artificial e pode ser executado à distância, o que, segundo o pesquisador, também é uma vantagem, pois dispensa o embarque de pessoal especializado para fazer a aquisição e análise dos dados in loco – o que é sempre um problema devido à dificuldade de acesso em plataforma de águas profundas e ao espaço de alojamento limitado disponível nestas instalações –, permite o monitoramento contínuo das cargas nas amarras e, como consequência, possibilita a identificação, de forma rápida, de possíveis danos no equipamento ou da ocorrência de cargas excessivas aplicadas às amarras, ressalta Dias.
Em função do potencial de mercado internacional desta tecnologia, foi realizado um pedido de proteção internacional via PCT (Tratado de Cooperação de Patentes), que funciona de forma simultânea em vários países. O contrato de licenciamento com a empresa BR2W foi celebrado em 2020.
Olhos num mercado sustentável
E, se o mercado para o uso desta tecnologia com foco nas plataformas de petróleo é grande, os inventores destacam novas oportunidades de aplicação em um setor em franca expansão: o da energia eólica offshore, que aproveita a força do vento que sopra em alto-mar. “Ainda não temos parques offshore no Brasil, sendo que as primeiras iniciativas ainda estão em fase inicial de licenciamento ambiental. Entretanto, é uma tendência do mercado mundial a expansão do mercado eólico para parques eólicos offshore”, avalia Layse Boere, pesquisadora no LDEM e uma das inventoras da tecnologia.
Segundo Boere, essa expansão para o mercado offshore já está ocorrendo e vamos ter uma produção significativa também no cenário offshore porque temos um dos melhores recursos eólicos do mundo. Além disso, ao contrário do potencial eólico onshore brasileiro que se restringe a poucas áreas do território nacional, toda a costa brasileira apresenta alto potencial para a instalação de parques eólicos offshore. Sobre a aplicação da tecnologia neste novo cenário, a inventora explica que nas turbinas eólicas offshore, as amarras também são utilizadas para conferir estabilidade. Nesse caso, as torres são conectadas a cabos submarinos de alta tensão que transportam eletricidade, formando um sistema que exige pouca mobilidade.
“Em alto mar, há maior eficiência na produção de energia pois os ventos atingem velocidades maiores e são mais constantes, o que torna a produção de energia por meio offshore competitiva economicamente”. conta Boere.
Participe do Prêmio Inventores
Com o objetivo de homenagear alunos, ex-alunos, pesquisadores e docentes envolvidos em atividades de proteção e transferência de tecnologia da Unicamp, a Agência de Inovação da Unicamp realiza anualmente o Prêmio Inventores, que neste ano será no formato webinar.
Durante o evento, é possível conhecer mais sobre outras inovações e participar das sessões de perguntas e respostas com o público. Entre os conteúdos, vamos abordar assuntos como oportunidades de negócios para softwares, conhecer algumas tecnologias da Unicamp absorvidas pelo mercado, sobre a proteção da propriedade intelectual e muito mais. Confira a programação completa aqui.
O evento acontece durante um dia inteiro. É possível assistir às mesas e aos blocos de interesse acessando o mesmo link para qualquer horário, que será enviado por e-mail após a inscrição.
Fique por dentro das novidades e inovações da Unicamp. Inscreva-se e participe!
Karen Canto é graduada e mestre em química pela UFRGS, doutora em Ciências pela Unicamp, especialista em jornalismo científico pelo Labjor/Unicamp e redigiu a matéria enquanto bolsista Mídia Ciência (Fapesp).