Empresa-filha da Unicamp exporta soluções para produção de hidrogênio

Empresa-filha da Unicamp exporta soluções para produção de hidrogênio

Empresa-filha da Unicamp exporta soluções para produção de hidrogênio

Texto via FAPESP 

Foto de capa: Reprodução FAPESP

Em 2003, um grupo de cinco estudantes de pós-graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) decidiu abrir uma empresa para tentar transformar em produto o que pesquisavam no Laboratório de Hidrogênio da universidade paulista. No longo prazo, o objetivo dos pesquisadores era oferecer soluções tecnológicas que envolvessem o fornecimento de hidrogênio (H2) para uso industrial e como combustível para automóveis.

“O Laboratório de Hidrogênio da Unicamp já tinha mais de 30 anos naquela época e havia muito conhecimento acumulado. Passamos a investir na produção de hidrogênio gasoso para uso industrial, em célula combustível para aplicação em mobilidade e em fontes estacionárias, além de geração distribuída e armazenamento de energia”, diz Daniel Gabriel Lopes, ao Pesquisa para Inovação.

O pesquisador, que é engenheiro mecânico, trocou o Ceará pelo interior paulista e fundou, junto com outros colegas que conheceu durante a pós-graduação na Unicamp, a Hytron, empresa-filha da Unicamp e pioneira no Brasil na área de engenharia e integração para sistemas de energia e gás com foco em hidrogênio.

Por meio de um projeto apoiado pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a empresa desenvolveu um sistema montado em contêiner que produz hidrogênio a partir de etanol.

O equipamento tem várias aplicações, desde na indústria alimentícia, para produção de gordura hidrogenada, por exemplo, até em produção de semicondutores e nos setores de metalurgia e vidro. “Hoje, normalmente, o hidrogênio é entregue por meio de carretas, mas o nosso equipamento dispensa essa necessidade”, explica Lopes.

Os contêineres produtores de hidrogênio também poderão abastecer os veículos à hidrogênio diretamente nos postos de combustíveis se essa demanda se consolidar no país. “Conseguimos produzir hidrogênio de forma modular, eficiente e oferecer um produto com a pureza adequada para aplicações industriais e automotivas”, afirma Lopes.

Além da rota da produção de hidrogênio a partir do etanol (reforma de etanol), desenvolvida com o apoio da FAPESP, a Hytron também domina a produção do H2 a partir do metano, biometano e da eletrólise da água. Versatilidade necessária para atender as demandas e os insumos disponíveis próximos aos seus clientes.

“Nossa intenção sempre foi fornecer tecnologias para o mercado de hidrogênio, inclusive usando etanol como um dos insumos”, expõe Lopes.

Internacionalização

Ao contrário do que ocorre no Brasil, por uma série de fatores, o hidrogênio como combustível para veículos movidos a célula a combustível já é uma realidade em países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Por isso, segundo Lopes, a estratégia da empresa sempre foi buscar a internacionalização para atender as demandas do mercado, em vez de esperar o surgimento de oportunidades no Brasil.

Com o objetivo de fortalecer a pulverização global do uso do hidrogênio, a empresa passou a fazer parte, a partir do final de 2020, do grupo alemão Neuman & Esser (NEA), um dos líderes mundiais na fabricação de compressores de pistão e diafragma.

“Continuamos sendo uma empresa brasileira, que gera inovação no Brasil e exporta para outros países. Vamos fornecer tecnologia para produção de hidrogênio, mas também podemos oferecer soluções completas. E não focamos apenas em uma tecnologia de produção. É possível fazer hidrogênio a partir do etanol, do gás natural, de biometano ou da água”, exemplifica Lopes.

Um dos ganhos tecnológicos obtidos pela empresa, sediada em Sumaré, no interior paulista, está na escala de produção do hidrogênio. Como 98% do produto costuma ser produzido no Brasil em grandes refinarias de forma centralizada, a partir do gás natural, um dos desafios foi alterar essa rota.

“Conseguimos viabilizar a geração distribuída, produzindo hidrogênio diretamente onde é consumido, eliminando a necessidade do transporte a partir da refinaria”, afirma Lopes.

De acordo com o pesquisador, apesar de todo o avanço tecnológico obtido desde 2003, ainda existem barreiras para serem rompidas na produção de hidrogênio a partir de etanol. O próximo desafio, segundo ele, está relacionado com o acesso a linhas de financiamento que viabilizem a aquisição dos equipamentos pelos clientes e, consequentemente, reduzam os custos de operação.

“Uma das fronteiras, agora, é conseguir o barateamento da produção do hidrogênio pela rota do etanol, além de demonstrar o uso em diversas aplicações e em condições industriais”, diz Lopes.

Segundo ele, o fato de a empresa estar localizada na região de Campinas é fundamental para a inovação seguir em frente. “Em um raio de 50 quilômetros, conseguimos fabricar praticamente qualquer componente de que precisamos. Quando isso não é possível, é pouco provável que o item possa ser produzido no Brasil”, avalia.

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