12 de setembro de 2019 Inova Unicamp tem nova diretora de propriedade intelectual
Raquel Moutinho Barbosa, nova Diretora de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp.
Raquel Moutinho Barbosa é a nova Diretora de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp. Desde 2016, ela atua como Gerente de Projetos na Rede Inova São Paulo, rede que reúne os Núcleos de Inovação Tecnológica de 37 instituições do Estado.
Raquel tem quinze anos de experiência em Propriedade Intelectual e Inovação, com foco nos segmentos farmacêuticos, biotecnológico e agrícola. Confira a seguir a entrevista concedida por Raquel, onde ela comenta os principais desafios da área, como: implementar procedimentos mais estratégicos para a proteção da propriedade intelectual, com foco na missão empreendedora da universidade e na ampliação do impacto da Unicamp no ecossistema de inovação nacional.
A Unicamp tem um dos maiores portfólios de patentes do país. Quais são os principais desafios à frente da gestão deste portfólio?
Gerenciar um portfólio de cerca de 1000 patentes ativas já é por si só um desafio diário, que requer pessoas talentosas e processos eficientes. Para manter isso, além de precisar alocar recursos significativos, a Universidade precisa ter clareza do foco e do papel desses ativos no processo de inovação e na geração de riqueza.
Depositar um pedido de patente pode ser mais barato do que mantê-lo. Considerando apenas taxas do INPI, por exemplo, há casos onde um pedido de exame pode custar cerca de 10 mil reais, enquanto que o depósito não passa de 200 reais. Em média, mais de três quartos das patentes universitárias nunca chegam ao mercado ou são licenciadas para empresas para uso comercial. Portanto, a decisão de internacionalizar uma patente ou abandoná-la deve ser realizada com base em critérios e metodologias muito sólidos. Esse será um dos desafios, estruturar diretrizes claras de manutenção, internacionalização, cessão e abandono de patentes, focadas na missão empreendedora da Inova e da Unicamp. No dia a dia, o desafio está em modernizar os processos, para que eles sejam eficientes e gerem indicadores que possam alimentar as tomadas de decisões.
Outro grande desafio está relacionado a recursos humanos. Apesar de se reconhecer que o volumoso portfolio atual abrange diversas áreas do conhecimento e aumenta o potencial da Universidade de gerar tecnologias para os mais diferentes mercados, manter uma equipe grande e altamente especializada de profissionais, para defender o portfólio vigente, tem sido um gargalo frente aos orçamentos restritos, às características de governança de nossa Agência e ao competitivo mercado por esses profissionais. Por isso, a estruturação de uma equipe sólida de especialistas com um plano de carreira e desenvolvimento, atrelada a novos processos e rotinas será crucial para atender a demanda crescente de exigências.
Outro grande desafio que temos está relacionado ao que vem pela frente: melhorar o processo de análise das tecnologias e aperfeiçoar o olhar multidisciplinar sob a invenção. O objetivo é extrair não somente as informações sobre a patenteabilidade, mas também dados sobre mercado, aplicação e valoração daquela invenção ainda no início do funil de inovação.
Precisamos trabalhar a cultura ultrapassada de que o número de patentes continua sendo uma métrica central de desempenho em inovação de muitas universidades.
Assim, a patente precisa impactar positivamente o nosso ecossistema de inovação, e um dos desafios será manter a capacidade de gerar novas patentes que estejam alinhadas com a missão e estratégia da universidade, e façam parte de um modelo de negócio robusto com potencial de licenciamento ou criação de spin-offs.
A maior parte do portfólio de patentes da Unicamp está em análise, como parte do backlog do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Quais mecanismos vêm sendo usados pela Unicamp para acelerar o processo de concessão para patentes mais estratégicas?
A Unicamp, desde o lançamento do programa de exames prioritários de patentes, vem utilizando dos mecanismos disponíveis para acelerar os exames de seus pedidos de patentes. Entre eles, está o pedido de exame prioritário para patentes verdes e patentes de ICT (Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação). Outro exemplo, é que mais recentemente a Unicamp foi uma das primeiras universidades a fazer o registro de softwares totalmente digital, cujo certificado é emitido em até 5 dias úteis.
Temos visto com otimismo as ações de melhoria do INPI, que vem sistematicamente melhorando seus processos, modernizando sua interação com os usuários e recentemente formalizou seu Plano de Combate ao Backlog. A nova cultura e as mudanças do INPI alinhadas com o que estamos implementando em nossa Agência de Inovação, irão corroborar com a missão empreendedora e inovadora da Unicamp, pois os efeitos na redução do tempo de exame aumentarão o potencial de licenciamento e geração de negócios de nossas patentes.
Porém, é importante ressaltar que toda essa movimentação positiva do INPI requer também uma revisão de nossas rotinas internas de exames de patentes e de nossa cultura, que trará os inventores para mais perto do processo de exames das patentes de suas invenções.
Como você vê o trabalho da área de propriedade intelectual articulado com as outras áreas da Inova?
A Inova está entrando em seu 16º ano de vida, além de outras décadas de experiências acumuladas na instituição antes da sua criação. É natural que sua maturidade cresça a cada ano. Hoje temos uma clareza maior daquilo que funcionou bem ou mal e do que precisa ser resgatado ou mudado. O acúmulo de conhecimento e boas práticas na Agência ao longo desses anos é impressionante. Comecei minha carreira em Propriedade Intelectual há exatos 15 anos aqui a Inova. É motivador poder estar de volta depois de um longo caminho no setor privado e público para dirigir novas estratégias apoiadas pelo conhecimento acumulado em cada área e membro da Inova.
Outro fator importante nesse processo de melhoria é o espírito de colaboração que está presente na academia e no mundo empreendedor e que contaminou a equipe da Inova, que a cada dia vem trabalhando de forma mais unificada, coesa e eficiente. Um dos exemplos dessa unidade é nossa iniciativa recente de criar um time multidisciplinar para desenhar uma nova metodologia de análise de tecnologia, visando não somente a revisão do portfólio atual com critérios robustos e claros alinhados com a missão da Universidade, mas também uma nova forma de analisar a tecnologia com foco em seu potencial de criar novos negócios.
O acúmulo de patentes em universidades é uma consequência não intencional do nosso modelo atual de transferência de tecnologia universitária. A Inova está pronta para sair desse modelo, saltar mais um patamar e quebrar alguns paradigmas como historicamente vem fazendo.