10 de julho de 2019 Mais conforto em exames
Conector uretral desenvolvido na Unicamp é lançado no mercado em benefício de pacientes
Texto: Carolina Octaviano
Foto: Thomaz Marostegan e divulgação
Um dos focos das pesquisas voltadas à medicina é a busca por técnicas menos invasivas e incômodas para os pacientes, quando o assunto são os procedimentos cirúrgicos e a realização de exames. Com isso em mente, pesquisadores do Centro de Engenharia Biomédica (CEB) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp desenvolveram um dispositivo, chamado de conector uretral, que é capaz de diminuir o incômodo de pacientes homens durante o exame urodinâmico. A tecnologia, que foi licenciada em 2016 para a empresa Dynamed, situada em São Paulo, chegou recentemente ao mercado e tem beneficiado pacientes.
A empresa forneceu, no último ano, sete equipamentos com este conector acoplado. Ou seja, a tecnologia desenvolvida na Unicamp já está em uso por médicos urologistas do país. De acordo com Manoel Soares, sócio da Dynamed, a expectativa é que novos equipamentos devam ser comercializados nos próximos meses. “As primeiras unidades foram vendidas em feiras e congressos de Urologia. Por enquanto, estamos comercializando o aparelho diretamente para médicos, mas acreditamos que, logo, vamos conseguir fornecer o dispositivo também aos hospitais”, conta.
Ele acredita que, mesmo que muitos hospitais e clínicas médicas demandem de editais ou licitações para aquisição de aparelhos médicos, o fato de não haver tecnologia semelhante e com registro de patente, atualmente, no mercado é um diferencial para a empresa. Vale mencionar ainda que, a partir da aplicação médica, Soares já obteve alguns feedbacks positivos quanto à tecnologia. “Alguns médicos que apostaram no conector relataram que, em testes comparativos com o sistema convencional, a tecnologia demonstrou ser bastante eficaz e compatível aos testes convencionais”, comenta. Soares comenta ainda que, com o método convencional, os pacientes podem apresentar efeitos adversos como sangramentos e posteriores infecções.
Por ser um método menos invasivo, o uso do dispositivo garante maior conforto aos pacientes na avaliação urodinâmica, estudo do armazenamento, transporte e esvaziamento da bexiga. Isto é possível porque o conector uretral não exige a utilização de sondas durante o procedimento. “Permite maior conforto e segurança ao paciente durante o exame clínico que visa medir a pressão vesical (bexiga urinária) no chamado estudo pressão-fluxo”, frisa o professor Carlos Arturo Levi D´Ancona, da FCM e um dos responsáveis pela tecnologia.
O professor D´Ancona conta que é comum que os pacientes se queixem sobre o desconforto causado pelos exames tradicionais e isso foi um fator de motivação para reunir esforços e expertises dos profissionais do CEB e do FCM no desenvolvimento conjunto de uma nova tecnologia. “A ideia era simplificar o exame urodinâmico. Então, fui consultar o professor Bassani com esse problema. Após várias reuniões, surgiu a ideia do conector uretral. Depois, foi feito um protótipo que funcionou muito bem e começamos a fazer estudos para avaliar o potencial desse método”, recorda.
Outro ponto relevante do uso do conector uretral, que é confeccionado em PVC e teflon, é que ele permite a diminuição de custos, a partir de um sistema mais simplificado para avaliação urodinâmica. “Quando começamos nossas pesquisas em conjunto com os pesquisadores da Unicamp, já tínhamos em mente um produto final com preço acessível. Nossa máquina custa 8 mil reais, enquanto a convencional custa cerca de 24 mil”, revela Soares. “O produto desenvolvido procura fazer a medição de forma mais natural possível e tem um custo de desenvolvimento relativamente baixo e construção mais simples que outro existente no mercado”, completa o José Wilson Magalhães Bassani, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), pesquisador do CEB e também inventor da tecnologia.
Para Bassani, o fato da tecnologia estar em utilização no mercado evidencia a importância do investimento em pesquisas realizadas na Universidade, demonstrando que os recursos financeiros foram revertidos em uma tecnologia de impacto para a saúde. “É parte do trabalho feito na Universidade propor novas ideias a partir da pesquisa básica e da formação de pessoal. É interessante ver que o investimento da universidade gerou resultados. Ver que o resultado pode beneficiar milhões de indivíduos é muito gratificante para as equipes de pesquisadores”, defende.
Originalmente publicado no Jornal da Unicamp.