24 de junho de 2019 Por um ar mais puro
Ex-aluna da Unicamp cria empresa a partir de tecnologia desenvolvida no doutorado
Texto: Carolina Octaviano
Foto: Pedro Amatuzzi
Na respiração, inalamos uma série de compostos orgânicos voláteis que, embora invisíveis aos olhos humanos, acarretam uma série de malefícios à saúde. São exemplos destes compostos o benzeno, presente na fumaça do cigarro, e o clorometano, encontrado no spray aerosol. Com foco neste problema, Ursula Luana Rochetto Doubek desenvolveu, sob a supervisão do professor Edson Tomaz e durante o seu doutorado na Unicamp, um sistema mais eficiente para a purificação do ar.
Luana é um dos exemplos de inventoras oriundas da Universidade. Além de dominar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, a pesquisadora se voltou para a atividade empreendedora montando uma empresa para desenvolver e comercializar a tecnologia criada durante o seu doutorado na Unicamp. Nasceu, assim, em 2018, a CleAir, uma empresa spin-off da Unicamp, criada não somente por uma ex-aluna da Universidade, o que já garantiria o título de empresa-filha da Unicamp, mas também a partir de uma tecnologia criada nos laboratórios da Faculdade de Engenharia Química (FEQ).
Com a proposta de desenvolvimento de um produto que faz o tratamento de poluentes tóxicos, ou até mesmo cancerígenos, liberando apenas gás carbônico e água como produto final, a CleAir foi contemplada no Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). A empresa está incubada na Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp) e planeja entrar no mercado nacional a partir do fornecimento de reatores de purificação de ar para casas e estabelecimentos comerciais.
“Nosso foco inicial era fornecer a tecnologia para a indústria. Contudo, no Brasil, a legislação e a fiscalização ainda são incipientes quando o assunto é emissão de compostos orgânicos voláteis, o que dificulta nossa inserção no mercado industrial, por isso a opção inicial foi começar pelas casas e estabelecimentos comerciais”, afirma Luana. A empreendedora já pensa, entretanto, no próximo passo: o mercado internacional. “No Exterior, o mercado industrial é bastante promissor para nosso produto”, revela Luana.
A tecnologia, que é base para o desenvolvimento do reator, foi objeto de pedido de patente feito pela Unicamp junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e licenciada para a empresa recém-fundada. Ela utiliza um tubo de quartzo recoberto com catalisador em uma configuração que proporciona uma distribuição de luz UV ideal. O resultado é a melhora do desempenho de reatores fotocatalíticos. “Esse tipo de tratamento já existe e é comum em laboratórios e no meio acadêmico. Porém, a inovação está na criação de uma peça capaz de deixar a reação ainda mais eficiente. Em testes de bancada, obtivemos resultados superiores a 99% na degradação destes compostos”, destaca a empreendedora.
Entre os desafios da empresa para a entrada no mercado vislumbrado, está a necessidade do desenvolvimento de um reator menor, visando sua utilização em clínicas médicas, spas, hotéis e restaurantes, por exemplo, além de residências. Luana prevê ainda uma característica adicional para o uso da tecnologia em menor escala. “Com a luz ultravioleta presente no componente, é possível ainda inativar vírus, bactérias e organismos patógenos presentes no ar”, defende. Contudo, novos testes deverão ser conduzidos pela startup para comprovação deste benefício adicional. A previsão é a de que a startup lance seu protótipo no ano de 2020.
Originalmente publicado no Jornal da Unicamp.