Com incubadoras universitárias, alunos se formam com diploma e empresa própria

Texto postado originalmente por O Estado de S. Paulo.

Núcleos de incentivo ao empreendedorismo nas universidades ganham força entre alunos de Administração e de outras carreiras

Juliana Diógenes, O Estado de S.Paulo

No fim deste semestre, a universitária Helena Jorgino vai se graduar em Administração e sairá do ensino superior não somente com um diploma. Com 22 anos, Helena vai levar para o mercado de trabalho a própria empresa, que já está em operação.

A iniciativa nasceu individual, da própria cabeça da estudante, mas na incubadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie ganhou tutoria, estrutura e corpo. Esse tipo de espaço tem conquistado alunos de Administração e também de outras carreiras.

Pensadas para ser um ambiente para criar empresas de verdade, com consultorias e tutorias profissionais, as incubadoras têm selecionado alunos de diversas áreas para fomentar o empreendedorismo e a inovação. O espaço é uma forma de conectar alunos ao mercado de trabalho, por meio de contato até com grandes empresários.

Helena teve a ideia do Okay Car, plataforma de estética automotiva para serviços como lavagem externa e higienização de carros, antes mesmo de saber o que era uma incubadora. “Fui pedir ajuda para um professor e acabei assinando contrato com a incubadora. Nem sabia o que era”, conta.

Para a jovem, a experiência na incubadora serviu para implementar os ensinamentos de sala de aula. “Com a equipe de profissionais do Mackenzie, passei a ter ideia de como funciona o financeiro, por exemplo. Tenho uma noção muito maior do marketing. Estamos trabalhando juntos e agora tenho uma visão totalmente diferente, até mesmo daquela que eu tinha quando trabalhava em empresa grande”, diz. “Às vezes a gente tem a bagagem, mas não sabe usar.” Segundo ela, a maioria dos colegas de Administração ainda não sabe aproveitar os benefícios da incubadora por não conhecer o conceito.

“Na incubadora, você tem de estar mais presente no sentido de mergulhar. Quem usufrui da incubadora é quem realmente mergulha nesse mundo do empreendedorismo e começa a perceber todos os benefícios e os auxílios nesse aspecto da estruturação do projeto”, conta.

Ao desenvolver o aplicativo na incubadora, Helena sabe que teve vantagem sobre outros colegas que começaram sozinhos e não puderam usufruir do mesmo apoio da estrutura.

Aluno de Administração da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alex Matioli, de 28 anos, teve um projeto incubado na Inova, agência de inovação da instituição, que criou pernas próprias e se transformou em uma empresa. Para Matioli, o contato com empreendedores e consultores durante o processo de desenvolvimento da startup foi fundamental.

“Com eles, conseguimos visualizar a experiência até de frustração que eles tiveram no processo. As incertezas, as preocupações, os altos e baixos mesmo. Ter contato com gente que já passou por isso encoraja a continuar no projeto. Essa aproximação que uma incubadora proporciona faz com que a gente deixe de enxergar que a vida do empreendedor são só flores”, afirma.

Multidisciplinar

De acordo com Moacir de Miranda Oliveira, chefe do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade de São Paulo (USP), a aproximação entre universidade e mercado é uma tendência, que deve ser mais explorada.

Incubadoras e disciplinas de empreendedorismo, segundo o professor, são uma forma de conectar o aluno com questões práticas do mercado. “Esses canais dão oportunidade para os alunos entenderem as múltiplas faces de negócios”, afirma.

Mas não só os graduandos em Administração se beneficiam das incubadoras universitárias. Oliveira diz ainda que a integração de estudantes de Administração na incubadora com áreas totalmente diferentes, como Medicina e Design, tendem a ajudar. “Quando esse aluno interage com grupos mistos, isso dá oportunidade para que desenvolva outras competências e entenda múltiplos fatores dentro do negócio”.

Coordenador da incubadora do Mackenzie, Nelson Fragoso diz que o ecletismo é um caminho seguido pelo mercado, principalmente de startups. “Assim é mais fácil de sobreviver. Vemos muita startup morrendo. Se fizer uma análise delas, verá que falta exatamente o perfil eclético, de pessoas com origens diferentes discutindo pontos de vista e fenômenos de modos diferentes, com áreas de conhecimento amplas”, afirma.

3 perguntas para

Newton Frateschi, diretor executivo da Agência Inova Unicamp

1. Como o aluno de Administração se beneficia da incubadora? 

Não é só a Administração. O empreendedorismo é a capacidade de transformar o mundo de algum modo. Deve permear as disciplinas.

2. Como a incubadora ajuda a ir além da classe e quais os benefícios da integração com outras disciplinas? 

Se o aluno de Administração fica fechado só no curso, não tem contato com o chão de fábrica no mundo real. É muito importante ter parcerias com diferentes universidades e escolas que tenham outras atividades porque assim o aluno junta sua formação acadêmica com questões práticas.

3. Como é a incubadora da Unicamp? 

Temos alunos de muitas áreas, mas não só alunos. São 4 eixos: promover a cultura do empreendedorismo; transformar invenções em patente; parcerias, onde buscamos mercado; e empreendedorismo na prática, para amadurecer o produto antes de levar à prateleira.

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