22 de janeiro de 2019 Plataforma conecta startups a grandes empresas
As startups cadastradas passam por três etapas de validação por três redes de avaliadores: a primeira é composta por especialistas de mercado, a segunda, por executivos de grandes companhias, e a terceira por investidores
Texto por Suzel Tunes, postado originalmente no site da Fapesp
Consolidar um modelo colaborativo de inovação e empreendedorismo é o objetivo da 100 Open Startups (100OS), uma plataforma de engajamento entre grandes companhias e startups, que também nomeia a própria empresa paulistana batizada originalmente como Allagi Engenharia. Com três anos de atuação, a 100OS já promoveu cerca de 3 mil contratos entre startups e grandes empresas.
A plataforma é similar à do aplicativo de relacionamento pessoal Tinder, explica o engenheiro Bruno Rondani, fundador e CEO da 100OS. “Executivos de grandes empresas e startups só precisam baixar nosso aplicativo e começar a se relacionar uns com os outros de forma individual.” Na plataforma, as startups cadastram-se em um dos diversos setores de inovação – saúde, educação, esportes, finanças, agronegócio etc. –, previamente selecionados pelas companhias interessadas em parcerias, e descrevem suas atividades, produtos, tecnologias e prêmios conquistados.
As startups cadastradas passam por três etapas de validação por três redes de avaliadores: a primeira é composta por especialistas de mercado, a segunda, por executivos de grandes companhias, e a terceira por investidores. Cabe a essas redes avaliar e prover feedback às startups cadastradas, de acordo com uma série de critérios que incluem capacitação, desenvolvimento tecnológico, modelo de negócios, recursos materiais e base de colaboradores e clientes. “Atualmente, o sistema já conta com 12.400 avaliadores”, calcula Rondani.
As startups com melhor pontuação nessa etapa são, então, convidadas para eventos presenciais, os speed dating, onde, eventualmente, ocorrem os “matches” –manifestações de interesse por parte das grandes companhias participantes da plataforma e que podem resultar em futuros contratos de parceria. As startups qualificadas também são convidadas a participar de desafios e programas institucionais de Open Innovation específicos para suas áreas de atuação.
A partir dos relacionamentos institucionais e dos contratos assinados, é elaborado um ranking que destaca as 100 startups com melhor desempenho no período de um ano, ampliando ainda mais a visibilidade e as oportunidades de negócios para essas empresas. Nesse ranking podem ser incluídas até startups que não participaram da plataforma, uma vez que a classificação leva em conta a performance dessas empresas no mercado.
O lançamento oficial do ranking ocorreu no dia 4 de julho de 2018, em encontro realizado no centro de empreendedorismo Cubo Itaú, na Vila Olímpia, São Paulo. Nesse evento, a 100 Open Startups apresentou também o ranking Top OpenCorps, listando as 50 companhias mais engajadas no relacionamento com startups.
Em agosto de 2018, a empresa obteve apoio do programa PIPE/PAPPE Subvenção – que articula o programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP e o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE) da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) – para a comercialização de produtos inovadores. No caso da 100OS, esses recursos permitirão à empresa aprimorar a ferramenta tecnológica e conferir escalabilidade em nível internacional.
“No primeiro ano de aplicação da metodologia, em 2015, conseguimos obter muitos matches, um número grande de relações entre empresas, mas apenas 53 contratos, o que já era muito na época. No segundo ano já foram cerca de 400 contratos, chegando a 1.500 no terceiro ano”, conta Bruno Rondani. Atualmente, caminhando para o quarto ano da existência, a empresa já contabiliza cerca de 3 mil contratos de startups com mil grandes empresas conectadas.
O próximo passo, diz o empresário, é expandir seu campo de atuação para outros países. Segundo Rondani, a 100 Open Startups já recebeu pedidos de utilização do software da Alemanha, Oriente Médio, Holanda, Nova Zelândia, Austrália e China. “Fizemos parceria com empresas na Índia e na Colômbia, a fim de testar se a metodologia é replicável em outro ecossistema de inovação. Com apoio do PIPE fase 3 [de comercialização do produto], esperamos ter uma plataforma escalável globalmente. Vamos desenvolver um software mais flexível e dinâmico, que se adapte facilmente a outras realidades e culturas”, afirma o empresário.
Inovação aberta
A atuação da 100 Open Startups baseia-se no conceito de “Open Innovation” (Inovação Aberta), termo cunhado em 2003 pelo economista Henry Chesbrough, professor da Haas School of Business da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA). “Trata-se de um movimento de abertura do P&D corporativo. Grandes empresas passam a interagir cada vez mais com o ambiente externo para, em associação com startups, produzir inovação”, explica Rondani.
A inovação aberta estimula iniciativas como a corporate venturing, o investimento de grandes corporações em empresas nascentes, na busca por inovações mais rápidas e baratas. “Trouxemos esse debate para o Brasil em 2008, quando convidamos o professor Chesbrough para fundar conosco o Centro de Open Innovation Brasil [hoje denominado Wenovate], organização sem fins lucrativos dedicada a incentivar projetos de inovação, financiada naquela época pela Allagi”, lembra.
A Allagi foi a primeira empresa fundada por Rondani, em 2004, junto com o engenheiro eletricista Rafael Levy, com o apoio da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entre 2004 e 2014, a Allagi atuou como uma consultoria de Open Innovation, ajudando diversas empresas nacionais e multinacionais a estabelecer redes de inovação. “Ajudávamos a estruturar essas estratégias empresariais a partir da captação de recursos, redução de custos tributários, identificação de parcerias e elaboração de contratos”, relata Rondani.
A Allagi chegou a ter 150 grandes clientes e um bom faturamento, mas deixou no empresário um sentimento de frustração. “O objetivo da empresa era desenvolver uma metodologia de estímulo à inovação aberta, um método suportado por tecnologia. Mas só 10 anos depois começamos a ter tecnologias que permitem a aplicação da metodologia de forma escalável e global. Antes disso, desenvolvíamos metodologia, mas ela ainda não era acompanhada de forma efetiva pela tecnologia, mas por trabalho consultivo.”
Segundo o empresário, essa possibilidade surgiu a partir de 2015, quando ganhou força a onda digital: “Toda grande empresa vem buscando transformar digitalmente processos, formas de chegar ao mercado e modelos operacionais, e as startups passam a viabilizar de forma mais rápida e menos custosa esse processo de transformação digital”.
Para Bruno Rondani, esse foi o momento de uma inusitada mudança em seu modelo de negócio. “Renomeamos a Allagi como 100 Open Startups, nossa marca atual, e transformamos completamente o modelo de consultoria para plataforma”, conta o empresário. Hoje, a 100OS tem 16 colaboradores e, com apoio da FAPESP, pretende contratar desenvolvedores e designers para aprimorar o software. “Resolvemos enfrentar o desafio de criar uma startup novamente.”
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