Empresas do setor de petróleo investem em pesquisa e desenvolvimento

Um workshop realizado na sede da FAPESP, por proposta da Agência Nacional de Petróleo (ANP), permitiu a troca de experiências, a exposição de demandas tecnológicas e apresentação de soluções das áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) das empresas que fazem exploração e produzem petróleo e gás na região do pré-sal nas bacias de Santos e de Campos.

Além da Petrobras, estiveram presentes representantes da Equinor (ex-Statoil), Petrogal, Repsol, Shell e Total. Sem incluir a Petrobras, que desenvolve pesquisas desde 1966 no Brasil, as outras empresas – que passaram a ser também operadoras ou cooperadoras de poços, com ou sem a estatal brasileira, a partir de 2016 – estão incluídas na obrigação contratual de investir em P&D 1% da receita bruta da produção em campos petrolíferos com grande volume de produção ou de maior rentabilidade, segundo a ANP. Todas são estrangeiras, fazem pesquisa no país de origem, mas, além desse pré-requisito contratual, precisam se adaptar às condições de exploração locais.

Grande parte desses valores relativos ao 1% obrigatório deve ser investida em parcerias com universidades e institutos de pesquisa para projetos de identificação de problemas e obtenção de soluções tecnológicas que facilitem o trabalho de exploração, extração e transporte de petróleo e gás. Outro objetivo é a diminuição de custos dessas atividades que ocorrem em locais inóspitos, como plataformas instaladas a mais de 250 quilômetros da costa, em perfurações realizadas com lâmina d’água de mais de 2 mil metros (entre a superfície e o solo marinho) e poços com até 3 mil metros de profundidade para atingir a camada onde existe petróleo e gás, abaixo da camada de sal.

“A ideia do workshop foi trazer as empresas que têm investimento em P&D obrigatório por causa da concessão para que apresentassem suas demandas, ideias e estratégias”, disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.

As empresas apresentaram problemas tecnológicos e necessidades muito semelhantes, como a dificuldade de trabalhar em alta pressão e baixa temperatura, situação que exige, por exemplo, o desenvolvimento de novos materiais. Outros pontos em comum são a perspectiva de digitalização de todos os processos de controle da produção e a monitoração da produção a distância, limitando ao máximo a presença de pessoas nas plataformas.

Grande parte das empresas se mostrou favorável ao relacionamento com grupos de pesquisa em universidades e com startups. Empresas como a Petrobras já exercem relacionamento com universidades e institutos de ciência e tecnologia no Brasil há muitos anos. As estrangeiras o fazem também no exterior e começam a criar também esses vínculos no Brasil.

Nesse sentido, a FAPESP apresentou aos representantes das empresas duas opções de iniciativas geradas ou que têm participação da Fundação. Os Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) e quatro empresas que participam do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), financiadas pela FAPESP, que têm projetos e soluções para a indústria do petróleo.

Os CPEs foram apresentados por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, que citou o exemplo da Shell, que apoia com a FAPESP um CPE na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o Research Centre for Gas Innovation (RCGI). O centro tem parceria com o Imperial College, do Reino Unido.

Outro CPE da FAPESP que tem uma companhia petrolífera como parceira, no caso a Equinor, é o Centro de Pesquisa em Engenharia em Reservatórios e Gerenciamento de Produção de Petróleo. Com sede na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o centro está nos últimos preparativos para começar a executar projetos.

Startups inovadoras

A apresentação das empresas no workshop na FAPESP mostrou também que todas estão abertas a parcerias para o desenvolvimento de tecnologias em conjunto ou mesmo na obtenção de inovações para o setor entre equipamentos, softwares e outros insumos que melhorem o desempenho de suas atividades no pré-sal.

A integração com startups também foi apontada como uma oportunidade para P&D de tecnologias criadas nas universidades e que precisam ganhar formato de produto para serem aplicadas pelas empresas.

A ANP e a FAPESP convidaram algumas empresas para, em curtas apresentações, mostrar as possíveis contribuições que podem fornecer à indústria de exploração e produção de petróleo e gás. Das nove empresas, quatro têm projetos dentro do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE): Altave e Clorovale, de São José dos Campos, Solpe, de Campinas, e Seip 7, de Sorocaba.

A Altave desenvolve balões que ficam suspensos entre 50 e 200 metros e presos ao solo por cabos. Eles carregam câmeras para monitoramento e aparelhos de telecomunicações para prover acesso à telefonia móvel e internet.

Produzir diamantes sintéticos que servem para recobrir peças metálicas e equipamentos é a competência da Clorovale, que desenvolveu uma broca para prospecção em poços de petróleo com esse material. São equipamentos que podem se tornar mais duráveis e mais resistentes à corrosão e ao desgaste por atrito.

A Solpe desenvolve soluções computacionais para gerir reservatórios de petróleo, oferecendo resultados para melhor tomada de decisão. Os softwares fazem simulações de reservatórios, análises geofísicas e avaliações de riscos.

A Seip 7, que também tem apoio do PIPE-FAPESP, desenvolve sensores para detectar vazamentos de óleo e gás e sistemas de monitoramento ambiental.

Entre as outras empresas que participaram estiveram a Pix Force, de Porto Alegre (RS), que faz sensoriamento remoto com drones e cruzamento de dados com sensores de satélites, e a PHDSoft, que começou no Rio de Janeiro e atualmente tem sede em Houston, nos Estados Unidos, especializada em produzir softwares para prever falhas estruturais e fazer manutenção de plataformas de exploração e produção de petróleo.

Outra empresa que se apresentou aos representantes de P&D das empresas petrolíferas foi a Teia Lab, de Porto Alegre. Ela trabalha com inteligência artificial e desenvolve plataformas computacionais para análise de dados em tempo real com o objetivo de identificar falhas nos sistemas de exploração de petróleo e gás em águas profundas.

As duas últimas empresas que se apresentaram são paulistas. A CBP Perfuratrizes do Brasil, de São Carlos, produz máquinas hidráulicas e sondas para vários segmentos, inclusive produção de petróleo. A Argonáutica, da capital, produz sistemas computacionais para análise de embarcações em portos, avaliação de cabos e softwares customizados para a área de petróleo e gás.

 

Texto originalmente publicado na Agência Fapesp.

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