27 de setembro de 2018 Todo suporte para empreender
Incubadora da Unicamp oferece infraestrutura e capacitação tecnológica e gerencial para novos empreendedores
Texto por Patricia Mariuzzo
Quando fazia mestrado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, Efraim Albrecht sempre se envolvia em projetos, para além do escopo da sua pesquisa de mercado. “Já nessa época eu comecei a ter contato com empresas que buscavam a Feagri para desenvolver soluções na área de equipamentos”, revela. Segundo Albrecht, foi a partir do apoio que tiveram dos professores e, especialmente, da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp, a Incamp, que ele e seus colegas Guilherme Ribeiro Gray e Domingos Guilherme Cerri fundaram, em 2005, a Agricef Soluções Tecnológicas, que atua no desenvolvimento e produção de equipamentos agrícolas.
Hoje, a empresa tem sede própria na cidade de Paulínia e conta com cerca de 50 funcionários. “O ingresso na Incamp mudou tudo para nós. Lá tivemos contato com conceitos de gestão, recursos humanos e marketing. Os três anos de incubação deram a base para estruturar o negócio e criar uma empresa de fato”, lembra o empresário.
A Incamp foi criada em 2001 e incorporada à Inova em 2003. Ela oferece infraestrutura e capacitação tecnológica e gerencial para novos empreendedores. “É uma capacitação que ajuda essas empresas nascentes de base tecnológica porque boa parte dos empreendedores não tem esse perfil de gestor. Aqui eles passam por treinamentos com consultores, palestras e processos de mentoria sobre temas como vendas, negociação, planejamento estratégico, etc.”, explica Mariana Zanatta Inglez, gerente do Parque Científico e Tecnológico e da Incamp.
Alexandre Brandão, sócio-fundador da Bioxthica: empresa desenvolve plataforma para reabilitação
O programa de capacitação da Incubadora é viabilizado por meio de parcerias com o Sebrae e com a Federação Brasileira das Empresas de Consultoria e Treinamento (Febraec). “Além disso, também usamos nossa rede de contato de empreendedores, tanto os que já passaram pela incubação como os que estão à frente das empresas-filhas da Unicamp. Eles contam para os incubados sobre os desafios que enfrentaram ao longo a criação e desenvolvimento das empresas. É uma troca de experiência muito rica”, detalha a gerente.
Com atuação global, a Agricef atende empresas como Raízen, Basf, Suzano, Syngenta, Granbio e Sumitomo. Um dos projetos em desenvolvimento é um equipamento para automatizar o plantio de cana-de-açúcar no sistema de mudas pré-brotadas (MPB), que tem sido aplicado mais recentemente em substituição dos colmos para o replantio da cana. “Nosso equipamento permite soltar cada muda em uma distância precisa, garantindo que, ao final do plantio, o terreno tenha o número certo de plantas por hectare, sem desperdício de mudas e de terreno”, explica Albrecht.
A máquina para plantar cana é um dos projetos sob demanda atendidos pela Agricef. “Nós criamos um modelo de gestão mais flexível que permite usar vários modelos de contrato, dependendo da demanda da empresa que nos procura. Uma das estratégias é investir nas parcerias com a Unicamp”, afirma. “Há casos em que o desenvolvimento de um projeto na Unicamp é vantajoso porque a Universidade já conta com uma excelente infraestrutura em seus laboratórios. A parceria poupa tempo e podemos investir na concepção final do produto que queremos entregar”, complementa. Segundo ele, a Unicamp também tem sido fundamental para compor os recursos humanos da Agricef. “A maioria dos nossos gerentes formou-se lá”, afirma o empresário.
Pré-incubação
A Incamp também oferece um programa de pré-incubação. “Com duração de um ano, é uma etapa que serve para validar uma ideia ou um projeto, para checar se é viável montar um protótipo ou se o negócio é, de fato, promissor”, explica Mariana Zanatta. A Bioxthica é uma das empresas que passou por essa etapa. Hoje, já como incubada, desenvolve soluções na área de neuroreabilitação baseada em realidade virtual. “Quando um paciente sofre um acidente vascular cerebral (AVC), ocorrem lesões no cérebro que comprometem movimentos da pessoa. Nossa expectativa, com essa tecnologia, é estimular que novas áreas do cérebro possam reaprender aquele movimento perdido”, explica Alexandre Brandão, sócio-fundador da Bioxthica.
A empresa é uma spin-off de um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), da Fapesp, o Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (Brainn). Em uma das aplicações da tecnologia em desenvolvimento na empresa, sensores fixados nas pernas de um paciente enviam sinais para uma placa controladora quando esta faz um movimento de caminhada. Então, a placa se conecta com um ambiente de realidade virtual por meio de óculos especiais. “O usuário visualiza um ambiente que simula uma cidade com prédios, ruas, veículos, faixas de segurança nas ruas etc. e que responde às ações desse usuário. Isso permite que um movimento limitado de um paciente possa ser reproduzido como um movimento completo. No ambiente virtual, o paciente visualiza o movimento perfeito e não deficitário”, explica Brandão. “A interatividade no ambiente virtual pode acelerar a recuperação do paciente, estimulando novas áreas do cérebro a se encarregar desses movimentos”, completa.
Segundo Brandão, a ideia é que o novo produto esteja no mercado em médio prazo, tendo como público-alvo o profissional que trabalha com reabilitação. “Nosso desafio agora é chegar a um produto de custo acessível. Eu acredito muito no potencial de ter um método seguro e não invasivo, que pode trazer impacto importante tanto na recuperação de pacientes com mobilidade comprometida quanto para os cuidadores”, afirma Brandão.
Além da Incamp, a empresa recebeu recursos do Sebrae e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Emprapii), do CPqD (que é uma unidade da Emprapii). A Bioxthica está investindo em um novo projeto de um dispositivo vestível para coletar sinais vitais de pacientes, em parceria com a empresa Monitora Soluções Tecnológicas.
Inteligência artificial
Outra empresa que surgiu no Brainn foi a Hoobox, que atua na área de robótica e inteligência artificial. Incubada desde o ano passado, a startup criou o Wheelie, primeiro programa de computador do mundo capaz de traduzir expressões faciais em comandos para controlar uma cadeira de rodas e computadores. “A tecnologia dispensa o uso de sensores corporais e qualquer tipo de treinamento”, contou o engenheiro Claudio Pinheiro, um dos fundadores da empresa. “Eu sempre desejei que minhas pesquisas na Universidade pudessem se transformar em um produto com impacto na vida das pessoas. Para mim esse é um jeito de recompensar o investimento que a sociedade faz na universidade pública”, revela Pinheiro.
A Hoobox combina o perfil empreendedor dos fundadores com a pesquisa de ponta realizada na Unicamp. “Temos uma relação muito próxima com a Universidade. Nossos colaboradores são alunos de mestrado e doutorado que têm a vivência da pesquisa e, ao mesmo tempo, a experiência do trabalho na startup. Também mantemos contato estreito com professores porque eles são a ponte entre a academia e o conhecimento, que é a base do nosso negócio”, afirma Pinheiro. Segundo ele, foi a capacitação na Incamp que possibilitou à empresa eleger seu mercado de atuação: veteranos de guerra norte-americanos para a tecnologia de mobilidade em cadeira de rodas.
A Hoobox já tem um escritório em Houston, no Texas, em parceria com o Laboratório de Inovação da Johnson & Johnson, gigante norte-americana da área de farmacêuticos e cuidados pessoais. O potencial da empresa também chamou a atenção do Hospital Albert Einstein, o maior hospital da América Latina, que se tornou um parceiro investidor. “São ambientes que trazem subsídios importantes para nosso desenvolvimento: no Einstein temos contato com ambiente hospitalar e com médicos que viabilizam testes cruciais na nossa área de atuação. Nos Estados Unidos temos ampliado nosso conhecimento sobre o mercado na área de saúde”, revela Pinheiro.
Disseminando o empreendedorismo
Buscando tornar o empreendedorismo uma opção real de carreira, a Unicamp oferece várias disciplinas relacionadas ao tema para alunos de graduação e pós-graduação. Há disciplinas no Instituto de Biologia, Computação e na Engenharia Química. “Apesar de ainda não temos um programa transversal na área de empreendedorismo na Universidade, essas iniciativas têm sido bastante frutíferas no sentido de disseminar esses conceitos”, afirma Mariana Zanatta. Semestralmente, a Agência de Inovação oferece a disciplina “Propriedade Intelectual, inovação e empreendedorismo” (AM037). “É um curso eletivo, com um caráter motivacional, no qual trazemos empreendedores para contar sua experiência para os alunos. Costumamos ter entre 80 e 100 alunos por semestre”, diz a gerente da Incamp.
Mariana Zanatta Inglez, gerente do Parque Científico e Tecnológico e da Incamp: rede de contato de empreendedores
A Agência conta ainda com as competições de modelo de negócio, como o “Desafio Unicamp”, no qual as equipes têm que criar um modelo de negócio a partir de uma tecnologia da Unicamp, e o “Inova Jovem”, que incentiva alunos do ensino médio de todo o Brasil a criar planos de negócio. “São iniciativas importantes tanto para fomentar a criação de empresas como para incentivar uma postura empreendedora. O empreendedorismo é um conceito que transcende a questão da tecnologia, é mais abrangente e pode transbordar para várias áreas como, por exemplo, a do empreendedorismo social”, finaliza Zanatta.
Matéria originalmente publicada no Jornal da Unicamp
Data de publicação: 18 de setembro de 2018.