Mais produtividade na lavoura

Por Vanessa Sensato e Carolina Octaviano

Além de ter uma expressiva contribuição para a economia do país, representando 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2017, o setor do agronegócio é também um dos mais inovadores, envolvendo em sua cadeira não somente as grandes multinacionais, mas também muitas empresas de tecnologia e a universidade. A Unicamp é atuante na pesquisa voltada a esta área e, entre as suas contribuições, licenciou em 2017 uma tecnologia para a empresa Agricef, empresa-filha da Unicamp, graduada pela Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade).

A interação entre a Unicamp e a Agricef é um dos exemplos de como este setor é dinâmico e envolve diversos atores. A tecnologia licenciada é um monitor de produtividade para a cana-de-açúcar, desenvolvida na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) durante o doutorado de Domingos Cerri, um dos sócios da empresa. A tecnologia foi formulada no âmbito do conceito de Agricultura de Precisão (AP), pois é acoplada a colhedoras de cana, auxiliando na coleta de dados da produtividade, com base na localização na lavoura. Com isso, o sistema permite elaborar mapas de produtividade agrícola, ajudando o produtor a enxergar áreas mais e menos produtivas. “Os mapas de produtividade são uma fonte de informação importante para os agricultores que desejam gerenciar suas propriedades considerando a variabilidade natural da área, definir zonas de manejo ou ambientes de produção”, explica o Professor Paulo Sérgio Graziano Magalhães, orientador de Cerri na Feagri.

No caso da cana-de-açúcar, o uso de mapas de produtividade pode fazer uma grande diferença na rentabilidade da cultura, uma vez que as variações podem ser grandes dentro de um mesmo espaço de plantio. “Enquanto algumas áreas produzem de 20 a 30 toneladas, outras chegam a 120, 150 toneladas. O sistema permite a identificação de problemas localizados, como a necessidade de drenagem de água ou de adubação, existência de plantas daninhas, problemas de fertilização, entre outros, resultando assim numa ação mais certeira e no consequente aumento na produtividade”, avalia Cerri.

Apoio da Fapesp

Além do envolvimento de profissionais da Agricef e da Unicamp, o desenvolvimento do monitor também contou com a participação de mais dois parceiros importantes: a empresa Enalta e a Fapesp. “Quando concluímos o registro da patente em 2005, era necessário transformar o protótipo de laboratório em um produto comercial. Neste contexto, a Enalta, que já havia demonstrado interesse na tecnologia, conseguiu um auxílio PIPE II (Pesquisa Inovativa em Pesquisa em Pequenas Empresas) junto à Fapesp, o que nos ajudou a transformar o produto, garantindo maior durabilidade, confiabilidade e robustez”, corrobora o professor da Engenharia Agrícola.

O foco da Enalta é o mercado da América Latina. Somente para a Colômbia, a empresa já exportou mais de 30 unidades do monitor.  Contudo, Cerri aposta em uma mudança em curso no Brasil, com a preocupação crescente das usinas em aumentar a produtividade sem expandir a área plantada. “Como na Colômbia o território é mais limitado para expandir a cultura, eles já estavam há mais tempo focados em aumentar a produtividade. Aqui no Brasil, esse foi um pensamento que demorou mais a se consolidar, mas que vem ganhando força e ressaltando a importância de tecnologias voltadas à Agricultura de Precisão”, revela Cerri.

Um novo produto em vista

Além do monitor de produtividade para a cana-de-açúcar, a Agricef está atualmente desenvolvendo uma nova tecnologia com o foco no aumento da produtividade dos canaviais. Trata-se de um equipamento que realiza de forma automatizada o replantio em áreas que apresentam falhas na cultura da cana. Ou seja, enquanto o monitor desenvolvido em parceria com a Unicamp permite a identificação e monitoramento das falhas na produção, a segunda tecnologia, voltada para o plantio de precisão, permite recuperar o canavial exatamente nas áreas que precisam ser atacadas. “Até o presente momento não identificamos empresas nacionais e internacionais que desenvolvam produtos para realização do replantio em áreas que apresentam falhas de cana. Logo, as vantagens deste novo produto são inovadoras no mercado”, avalia Efraim Albrecht, um dos três sócios da Agricef.

Albrecht afirma que três grandes grupos já demonstraram interesse na tecnologia – a Raízen, a Cofco Agri, e o Grupo Tereos. Estes grupos representam grande parte da área plantada de cana-de-açúcar no mundo. A empresa também já fez uma proposta para o PIPE voltada para esta tecnologia, que está atualmente em avaliação pela Fapesp.

Fonte: Jornal da Unicamp

 

 

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