24 de abril de 2018 Tecnologias no mercado: Unicamp chega a 100 contratos com empresas em 2017
Por Juliana Ewers
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) fechou o ano de 2017 com 100 contratos vigentes de licenciamento de tecnologia para empresas. Os acordos firmados dizem respeito à autorização de uso e exploração comercial dessas tecnologias, nascidas no meio acadêmico, mediante o pagamento de royalties – que no ano passado, significaram a entrada de R$ 1.349.038,00 nos cofres da universidade. Os números constam no Relatório de Atividades da Agência de Inovação, divulgado hoje.
Ao todo, 153 patentes encontram-se hoje licenciadas para empresas. O número é maior do que o número de contratos firmados, uma vez que um mesmo contrato pode contemplar mais de uma tecnologia. Hoje, a Unicamp possui em seu portfólio: 1.121 patentes vigentes e 223 softwares.
“A Unicamp tem um compromisso muito claro que é o de devolver à sociedade o investimento que nela é feito. Ao passo que as pesquisas acadêmicas geram tecnologias de ponta, que despertam o interesse de empresas para testá-las em escala industrial e transformá-las em produto; temos a certeza de que o nosso compromisso tem se concretizado, expandindo o impacto da universidade para além do ensino”, afirma o reitor da universidade, Professor Marcelo Knobel.
Além dos licenciamentos, a Universidade também trabalha em cooperação com a indústria em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em 2017, a Unicamp fechou 49 convênios dessa natureza com empresas. Os investimentos em pesquisa totalizam R$ 64.101.444,52. A unidade que mais fechou esse tipo de parceria no ano passado foi o Cepetro (Centro de Estudo de Petróleo), com 15 convênios.
“A Agência de Inovação é o interlocutor desses dois mundos, acadêmico e empresarial. E o que vemos, com o passar do tempo, é que essa relação tem se fortalecido. Há um aumento, de ambas as partes, na procura pela Inova Unicamp para firmar essas parcerias”, avalia o diretor-executivo da Inova Unicamp, professor Newton Frateschi. “Por parte das empresas, observa-se uma maior consciência de que a presença da pesquisa de excelência na universidade gera um ambiente riquíssimo tanto para a formação dos recursos humanos que vão inovar nas empresas como também para constituir um berço ativo de criação de novas tecnologias para a inovação aberta. E por parte dos docentes e pesquisadores, além dos ganhos com essa interação, há uma preocupação cada vez maior em proteger essas tecnologias, com o potencial futuro de licenciá-las ou até mesmo de empreender”, conclui Frateschi.
Exemplo dessa trajetória de inovação é a Agricef, empresa-filha da Unicamp fundada em 2005, a partir da tese de doutorado de Domingos Guilherme Cerri, sob a orientação do professor Paulo Sérgio Graziano Magalhães, da Feagri (Faculdade de Engenharia Agrícola).
“Comecei meu doutorado na Unicamp no ano de 2002. O professor Paulo Sérgio Graziano Magalhães tinha um projeto, ainda em estágio muito inicial, na área de agricultura de precisão na cultura da cana-de-açúcar e me deu esse tema como tese”, relembra o ex-aluno.
De 2002 a 2005, ano em que concluiu o doutorado, Cerri trabalhou ativamente na construção do primeiro protótipo do projeto e que culminou, ao final, no depósito de uma patente no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). À época, esse ainda não era um equipamento comercial. Mesmo assim, a Enalta, empresa de automação agrícola, se interessou pela tecnologia. Vale ressaltar que, nesse momento, a Agricef ainda não era nascida.
“Com o interesse da Enalta pela tecnologia, fomos atrás de desenvolvê-la mais e conseguimos um PIPE Fase II, da Fapesp. Eu estava como pesquisador colaborador na Unicamp e comecei a trabalhar em colaboração com a empresa no desenvolvimento desse projeto”, afirma Cerri.
A Enalta tinha expertise em eletrônica, mas esse era um projeto que também necessitava de um desenvolvimento robusto em mecânica. “Foi aí que eu e meus sócios decidimos abrir a Agricef, em 2005. Foi quando entramos na Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp) para passar pelo processo de incubação”, conta.
Nesse trabalho a muitas mãos, originou-se a tecnologia: “Sistema de Monitoramento de Produtividade da Cana-de-açúcar”, que foi objeto do contrato de licenciamento firmado no ano passado entre a Unicamp e a Agricef.
O sistema desenvolvido utiliza células de carga como instrumento de determinação do fluxo da matéria-prima colhida e é capaz de medir a quantidade de cana que passa pela esteira antes de ser lançada ao veículo de transbordo. Estes dados, juntamente com as informações obtidas por um GPS instalado na colhedora, permitem a elaboração de um mapa digital que representa a superfície de produção para a área colhida.
“As variações de produtividade podem ser grandes dentro de um mesmo talhão. Enquanto algumas regiões produzem de 10 a 20 toneladas, outras chegam a 120, 150 toneladas por hectare. Esse mapeamento feito pelo sistema permite que o agricultor possa visitar as áreas de baixa produtividade e identificar se há problemas localizados, como a necessidade de drenagem de água, existência de plantas daninhas ou pragas, deficiência nutricional do solo, entre outros. A partir do direcionamento do produtor, permitimos uma ação mais certeira e o consequente aumento na produtividade ou redução dos custos de produção”, revela Cerri.
O operador da máquina também pode colaborar com a inserção de mais dados no sistema, à medida em que ele constata alguma adversidade na plantação durante a colheita.
Além do Brasil, a tecnologia também está sendo usada na Colômbia. Cerca de 40 máquinas já estão em operação no país vizinho. “Como o território de lá é mais limitado para expandir a cultura, eles já estavam há mais tempo focados em aumentar a produtividade por hectare. Aqui no Brasil, esse foi um pensamento que demorou mais a se consolidar, mas que vem ganhando força e ressaltando a importância de tecnologias voltadas à agricultura de precisão”, finaliza Cerri.
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Crédito da foto: SEC/Unicamp