18 de dezembro de 2017 Sistema desenvolvido na Unicamp possibilita monitorar a produtividade da cana-de-açúcar
A tecnologia vem sendo implementada em usinas da América Latina
Texto: Carolina Octaviano
Contrato de Licença de exploração de Tecnologia não exclusivo – PI 0502658-0
Com foco na Agricultura de Precisão (AP), pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp desenvolveram um sistema que, ao ser instalado em colhedoras de cana-de-açúcar, possibilita criar mapas de produtividade e visualizar a variabilidade espacial da produção. A tecnologia, que é baseada em células de carga e tem como diferencial ser o primeiro monitor de produtividade para cultura de cana-de-açúcar lançado comercialmente no mundo. O sistema foi licenciado pela Enalta, empresa que atua no mercado de automação agrícola, e é capaz de atualizar a massa de cana colhida em tempo real, uma vez que permite a atualização a cada cinco segundos.
“Conseguimos identificar áreas de maior e menor produtividade, além de fazer uma gestão do manejo para tentar melhorar a produtividade. Os mapas de produtividade são o princípio da agricultura de precisão”, afirma Cléber Manzoni, diretor da Enalta. “Os mapas de produtividade são uma fonte de informação importante para os agricultores que desejam gerenciar suas propriedades considerando a variabilidade natural da área, definir zonas de manejo ou ambientes de produção”, defende o Professor Paulo Graziano, responsável pelo desenvolvimento do sistema.
Graziano conta que mapas de produtividade ainda não são amplamente utilizados no manejo da cana-de-açúcar no país. “Esta forma de gerenciamento das culturas ainda não é fortemente adotada pelos produtores de cana no Brasil, diferentemente do que ocorre na Colômbia, América Central ou Austrália”, comenta o docente.
Justamente por isso, Manzoni revela que a tecnologia já está sendo implementada e utilizada por usinas de cana-de-açúcar localizadas em países da América Central e do Sul, onde há uma grande demanda por mecanismos que ajudem a identificar os locais de maior produtividade da cana dentro de um talhão por exemplo. “Quase 60% dos produtores de cana-de-açúcar da Colômbia já vem utilizando o monitor de produtividade. A agricultura de precisão em cana, lá fora, tem maior demanda do que no Brasil, pois tratam-se de lugares que não conseguem aumentar a produção por extensão de área e que, por isso, precisam de garantia da produtividade agrícola naquele espaço destinado a isso.”, explica.
Ao contrário do cenário encontrado em outros países, no Brasil, há a tendência de aumentar a área de produção e não a produtividade em si. Por isso, para a tecnologia ganhar espaço no mercado nacional, Manzoni conta que a empresa já está programando melhorias para a tecnologia, no sentido torna-la mais barata e competitiva. Ele frisa que, embora o Brasil seja o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, ainda há uma necessidade de melhorar o manejo da cana-de-açúcar para impulsionar a produtividade. “Produzimos quase 600 milhões de toneladas (dados referentes à safra 2016/2017), só que o nosso índice de produtividade é baixo, com uma média de, no máximo, 80 toneladas por hectare. Já em outros países, onde a produção se dá em territórios mais restritos, chega a 120 toneladas por hectare”, comenta.
O porta-voz da empresa licenciada enaltece o pioneirismo da tecnologia desenvolvida nos laboratórios da Feagri, uma vez que há tecnologias de manejo de produção que utilizam métodos indiretos – tais como imagens via satélite, por exemplo -, mas que não alcançam o grau de precisão de um sistema onde toda a colheita é pesada e atualizada em questão de segundos. “A Enalta é uma empresa focada em cana-de-açúcar e, para este tipo de colheita, não havia no mercado um monitor de produtividade, ao contrário do que já existe, por exemplo, para agricultura de grãos”, aponta.
O coordenador de inovação da Enalta lembra ainda que a tecnologia, inicialmente, foi idealizada para colheita de batatas e adaptada para plantios de cana, de acordo com a demanda da empresa. Por isso, houve a necessidade de um trabalho em conjunto entre a universidade e a empresa para uma adaptação às necessidades do mercado. Contudo, lembra que todo tipo de cultivo que envolve máquinas de colheita com esteiras pode utilizar a tecnologia, mediante uma adequação para a cultura desejada.
Quanto ao suporte dado pela equipe de Parcerias da Agência de Inovação Inova Unicamp, Manzoni é só elogios. “A Inova sempre nos acompanhou nos trâmites que envolveram a transferência de tecnologia e foi uma mediadora entre nós e a Feagri. A Inova foi uma grande facilitadora nesta parte mais burocrática”, avalia. O Professor Graziano concorda com a avaliação de Manzoni. O suporte da Inova é fundamental. Quando iniciamos o processo de patente, a Inova não existia. Acompanhamos a criação da Inova e pudemos observar o quanto o suporte dado por ela foi importante para o licenciamento e proteção da tecnologia.
Além do professor Graziano, também participaram do desenvolvimento da tecnologia o professor Oscar Antonio Braunbeck e o então aluno de doutorado Domingos Guilherme Pelegrino Cerri.
Sobre a Enalta
Desde sua fundação, em 1999, desenvolve equipamentos e programas para gestão e otimização de todo processo operacional, soluções para automação parcial ou total das atividades e que oferecem dados precisos em tempo real para gestores e que também auxiliam no acompanhamento e tomada de decisões. É reconhecida como uma das principais empresas de automação agrícola, tendo destaque na implantação e gestão de processos operacionais no campo, por toda América Latina.