4 de julho de 2017 Programa de apoio à inovação em empresas completa 20 anos
Empresa-filha da Unicamp está entre as beneficiadas pelo PIPE
O Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP completou 20 anos no último dia 18 de junho. Em duas décadas – de forma regular e ininterrupta –, o PIPE apoiou 1.788 projetos de pesquisa de 1.100 pequenas empresas de base tecnológica situadas em 127 cidades no Estado de São Paulo.
“O PIPE combina inovação tecnológica e meritocracia e se tornou o maior programa de apoio a startups do país. É um programa que, na prática, criou um grande aquário no qual os investidores querem vir pescar, na linguagem de técnicos do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] que nos visitaram recentemente”, disse José Goldemberg, presidente da FAPESP, na abertura do evento comemorativo realizado dia 29 de junho na sede da Fundação.
Criado em 1997, o PIPE inaugurou uma nova modalidade de fomento na FAPESP: o apoio direto a pequenas empresas empreendedoras, em colaboração com as universidades e institutos de pesquisa. A iniciativa foi estratégica, já que, na época, o investimento de risco atraia pouco apoio do setor privado.
“Pela primeira vez, uma agência brasileira de fomento à pesquisa científica passou a conceder recursos a fundo perdido (não reembolsáveis) diretamente para pequenas empresas realizarem pesquisas”, lembrou José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP na época do lançamento do Programa.
“O segundo aspecto inovador do Programa foi definir a empresa como locus da inovação ao estabelecer que os projetos fossem desenvolvidos por pesquisadores dentro das empresas”, acrescentou Perez. E a terceira novidade foi exigir que o projeto resultasse em um produto, processo ou serviço com potencial inovador, ressaltou.
A inspiração para a criação do PIPE foi o programa Small Business Innovation Research (SBIR), lançado em 1982 por força de uma lei do Congresso dos Estados Unidos, com o objetivo de fortalecer a inovação nos projetos de pesquisa e desenvolvimento de pequenas empresas financiados pelo governo federal norte-americano. Por essa lei, todas as agências federais devem destinar 2,5% de seus orçamentos ao SBIR.
A ideia foi apresentada à FAPESP pelo pesquisador e professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Alcir José Monticelli. Ao ser convidado pela National Science Foundation (NSF) – agência governamental de apoio à pesquisa naquele país – para participar da seleção de projetos de pequenas empresas no programa SBIR, ele tomou conhecimento do programa e sugeriu que a FAPESP implementasse algo semelhante em São Paulo. A proposta virou um programa aprovado naquele mesmo ano pelo Conselho Superior, do qual Monticelli também era membro.
A Fundação, que já tinha lançado, em 1995, o Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), consolidou, com o PIPE, uma cultura inovadora “que se espraiou por outras agências de fomento”, segundo Perez.
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por exemplo, lançou em 2006 o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresa (PAPPE), para apoiar pesquisa em empresas de pequeno porte e operado em parceria com as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) estaduais. Em São Paulo, FAPESP e Finep firmaram um acordo para apoiar a fase 3 do PIPE, de inserção do produto, processo ou serviço inovador no mercado.
Cases de sucesso
O anúncio dos 30 primeiros projetos de pesquisa selecionados na primeira chamada do PIPE foi feito em dezembro de 1997. A partir de 2013, o PIPE registrou um crescimento expressivo no número de projetos contratados. “Em 2016, por exemplo, foram aprovados 240 projetos e contratados 225, o que representa quase um projeto contratado por dia útil”, disse Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, no evento que comemorou os 20 anos do Programa.
Os projetos apoiados pelo PIPE ao longo dessas duas últimas décadas resultaram no desenvolvimento de uma série de tecnologias, além da criação de milhares de empregos e na dinamização da economia dos municípios onde estão localizadas.
Alguns deles foram apresentados em um vídeo exibido durante o evento com depoimentos de diretores das empresas I.Systems, Nexxto, Nanox, Altave e Promip.
Uma empresa fundada por quatro estudantes graduados em Engenharia da Computação e em Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a I. Systems desenvolveu softwares de controle de sistemas para aumentar a eficiência de linhas de produção em grandes indústrias baseados na lógica fuzzy (“difusa”) (leia mais em agencia.fapesp.br/17085 e pesquisaparainovacao.fapesp.
“No primeiro projeto que submetemos ao PIPE recebemos um não com quatro páginas, com indicações de melhorias do projeto, o que possibilitou ajustar a ideia original e chegar onde estamos”, disse Igor Bittencourt Santiago, presidente da empresa.
A Nexxto, por sua vez, desenvolveu uma tecnologia que permite às empresas monitorarem e gerirem seus ativos, assim como a temperatura e umidade de produtos perecíveis em tempo real.
A empresa possui hoje uma carteira de clientes composta por empresas como Carrefour, Drogasil, BM&F e Ofner, entre outras, disse Antonio Carlos Rossini, engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e um dos fundadores da Nexxto (leia mais em pesquisaparainovacao.fapesp.
A Nanox, de São Carlos, por sua vez, desenvolveu com apoio do PIPE micropartículas à base de prata, com propriedades bactericida, antimicrobiana e autoesterilizante.
A tecnologia é aplicada hoje em uma série de produtos, como utensílios plásticos e filmes de PVC para embalar alimentos, assentos sanitários, palmilhas de sapatos, secadores e chapinhas de cabelo, tintas, resinas e cerâmicas e na superfície de instrumentos médicos e odontológicos, como pinças, brocas e bisturis.
A aplicação mais recente do produto foi no plástico rígido das garrafas usadas para envasar o leite fresco pasteurizado (tipo A). A inovação permitiu dobrar o prazo de validade do produto.
“Essa aplicação foi um case mundial que despertou o interesse de empresas de mais de 25 países”, contou Gustavo Pagotto, CEO da Nanox (leia mais em agencia.fapesp.br/21325 e pesquisaparainovacao.fapesp.
Já a Altave, em São José dos Campos, desenvolveu veículos mais leves que o ar com múltiplas aplicações. Os balões podem ser utilizados no monitoramento de fronteiras, como links de comunicação e de acesso à banda larga.
Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, vinculada ao Ministério da Justiça, utilizou quatro balões produzidos pela empresa para monitorar a área ao redor dos locais onde ocorreram as competições (leia mais empesquisaparainovacao.fapesp.
“Somos um exemplo de uma empresa apoiada por políticas públicas bem-sucedidas”, disse Bruno Avena de Azevedo, sócio da empresa.
Por sua vez, a Promip desenvolveu com apoio do PIPE uma tecnologia para produção de ácaros predadores para combate a pragas na agricultura.
Inicialmente sediada na EsalqTec, incubadora de empresas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), a Promip instalou em 2009 sua biofábrica em uma estação experimental no município Engenheiro Coelho, a 170 quilômetros de São Paulo.
Hoje, com faturamento anual de R$ 3 milhões, a empresa comercializa 40 milhões de ácaros utilizados no tratamento de 2.500 hectares de culturas estigmatizadas pelo uso de agrotóxicos, como tomate, morango e alface.
“O apoio do PIPE tem sido fundamental para a expansão da nossa atividade de pesquisa e desenvolvimento”, disse Marcelo Polleti, diretor-geral da empresa.
Vários casos de sucesso estão reunidos no livro sobre os 20 anos do PIPE, que pode ser baixado em www.fapesp.br/publicacoes/
Distribuição geográfica
Do total de projetos apoiados pelo PIPE nesses 20 anos, 1.668 foram aprovados nas fases 1 e 2 – voltadas, respectivamente, à demonstração da viabilidade e ao desenvolvimento do produto, processo ou serviço inovador – e 120 no âmbito de um acordo da FAPESP com a Finep para apoiar a inserção da inovação no mercado, por meio do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE). No total, a FAPESP destinou R$ 360 milhões ao Programa nas duas primeiras fases.
Os projetos apoiados estão espalhados por todo o Estado de São Paulo, destacou Brito Cruz. A maior parte deles, contudo, está concentrada em cidades onde estão situadas boas universidades e instituições de pesquisa, ponderou.
“É natural que onde há boas universidades e instituições de pesquisa surjam esses projetos. Inovação com base em tecnologia não surge do nada”, avaliou Brito Cruz, que anunciou os 48 projetos de pesquisa selecionados no 4º ciclo de 2016 do programa PIPE.
Entre os projetos apoiados está o da BR Labs, de São Carlos. A empresa pretende desenvolver um equipamento que permite medir todos os parâmetros biomecânicos dos olhos para realização de cirurgias de catarata, como o tamanho do olho, o raio da curvatura da córnea e a distância entre a córnea e o cristalino, entre outras medidas.
“Essas medidas são feitas hoje separadamente. Pretendemos fazê-las de uma vez só por meio de um único equipamento”, disse Jarbas Caiado de Castro Neto, professor do Instituto de Física de São Carlos da USP, à Agência FAPESP.
O pesquisador participou da primeira chamada de projetos do PIPE, lançada em 1997, quando foram submetidos 80 projetos e selecionados 32. Entre eles, o da Opto Eletrônica, da qual foi um dos fundadores.
“O PIPE foi fundamental para a criação de empresas de base tecnológica no Estado de São Paulo”, avaliou.
Também participaram da cerimônia de comemoração dos 20 anos do PIPE João Carlos Meirelles, secretário de Energia e Mineração do Estado de São Paulo, representando o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin; o deputado estadual Orlando Bolçone, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação e Informação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; Mauricio Juvenal, chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, representando o vice-governador e secretário Márcio França; Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP; Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do CTA da FAPESP; e Fernando Dias Menezes de Almeida, diretor administrativo da FAPESP.
“São Paulo tem um enorme orgulho da FAPESP, que é uma agência que tem a necessária independência, mas o total compromisso com os objetivos do Estado”, disse Meirelles.
Fonte: Agência Fapesp