Patentes de universidade mais atrativas para empresas

Por Patrícia Leal Gestic

O atual cenário de inovação no Brasil requer mudança de paradigmas. Seria promissor implementar estratégias para avanço do estágio de desenvolvimento tecnológico dos resultados de pesquisa – patentes – nas Universidades e engajamento dos pesquisadores¿

O papel estratégico (e pedagógico) dentro de nossas instituições, como gestores de Agências de Inovação, consiste em orientar pesquisadores e docentes para que possam evoluir em uma dada tecnologia de acordo com sua capacidade interna (seja de seu laboratório) ou por meio de parcerias (instituições de pesquisa ou empresas), o quanto for capaz, a fim de minimizar os riscos tecnológicos e favorecer oportunidades reais de transferência da tecnologia para o mercado.

Foco no avanço do estágio de desenvolvimento da tecnologia – pelo grupo de pesquisa – é estratégia sine qua non para mitigação de risco tecnológico e favorecimento de oportunidades reais de transferência de tecnologia por meio de patentes ou outras formas de propriedade intelectual

Não é incomum observarmos grupos de pesquisa no Brasil que produzem muito do mesmo, com pequenas alterações. Esta estratégia é equivocada.

São poucos os grupos de pesquisa que buscam parceria para que tenham investimento (ou fomento) para evoluir dada tecnologia (TRL – Technology Readiness Level | NASA – Fig.1: Nasa TRL Free Gallery) para patamares antes não alcançados (TRL 3 a 6: desenvolvimento tecnológico e TRL 6 a 9: demonstração tecnológica).

Longe de mostrar uma visão simplista dentro deste complexo cenário da inovação no Brasil, não existe uma fórmula mágica para elevar os índices de inovação e competitividade em relação aos países desenvolvidos ou, ao menos, em relação aos países pertencentes ao BRICS, mas a eficiência da inovação poderia ser impactada positivamente caso o conhecimento produzido e patrocinado no âmbito das ICTs (Instituições de Ciência e Tecnologia em especial universidades), traduzido em portfólios de ativos intangíveis tais como patentes, software, etc., fosse, em maior escala, transferido para empresas.

 Considerando que não é incomum no Brasil empresas com perfil pouco arrojado, como tornar tecnologias das universidades mais atrativas?

Embora tenhamos instrumentos de fomento/financiamento em estágios de desenvolvimento mais avançados tais como EMBRAPII – seletivo e restrito aos laboratórios credenciados, com contrapartida a fundo perdido dedicada para TRL 3 – 6 ou BNDES dedicado TRL 6 – 9 ou ainda FINEP com uma faixa um pouco mais ampla de TRL, ainda assim, temos um gap. Como conseguir vencer a barreira da prova de conceito de forma tão natural quanto sugerir mais uma variante de projeto de pesquisa tecnológica básica para um bolsista de pós-graduação ou um projeto temático¿

A implementação de forma ampla e coordenada de recurso exclusivamente dedicado a prova de conceito de tecnologias ao pesquisador – seja pela própria ICT, órgãos de fomento, fundos de investimento ou outras fontes governamentais seria uma alternativa viável e pragmática para mitigar minimamente o risco para as empresas se sentirem mais confiantes ou confortáveis para assumir o risco da inovação tecnológica por meio da aquisição de uma propriedade intelectual disponível para transferência nas ICTs. E, esta prática de prova de conceito, deveria ser reconhecida não apenas dentro da instituição como estimulada por meio de valorização curricular na forma de pontuação (p.ex. Lattes).

Desta forma, o resultado da pesquisa tecnológica básica (TRL 1 – 2) não seria o ponto de partida para a empresa que adquirisse uma propriedade intelectual de ICTs.

 

Artigo originalmente publicado por Patrícia Leal Gestic, diretora de Propriedade Intelectual da Inova, em: https://www.linkedin.com/in/lealpf/

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