8 de março de 2017 Dia Internacional da Mulher expõe desafios para mulheres empreendedoras
Texto: Carolina Octaviano
Fotos: divulgação
Determinação, garra e força de vontade. Estes são alguns dos requisitos básico que qualquer empreendedor precisa ter – ou adquirir – para se destacar num mercado cada vez mais competitivo no qual as startups se inserem. Longe de fazer uma distinção sexista, no caso das mulheres empreendedoras, estas características vêm acompanhadas de mais leveza e cor, além de outros desafios profissionais e pessoais, como apontam empreendedoras ligadas às empresas-filhas da Unicamp.
“A mulher é uma empreendedora nata e precisa apenas ter apoio e coragem para fazer deste mundo um lugar melhor”, comenta Aleksandra Alves Silva, diretora de P&D da ANS Pharma, empresa-graduada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). A bioquímica encarrou o desafio de empreender e levar novos medicamentos ao mercado após mais de dez anos de experiência na indústria. Ela conta que esse desejo foi aflorado após concluir o mestrado e o doutorado na Unicamp, ocasião em que obteve novas perspectivas a partir do contato mais direto com a pesquisa básica. “Surgiu a ideia de unir os dois mundos (academia e iniciativa privada) e aproveitar o conhecimento destes anos em indústria para colocar no mercado produtos oriundos dessa pesquisa. Acredito que esse foi o momento em que aflorou a personalidade empreendedora, o vislumbre, a possibilidade de colocar no mercado um produto com tecnologia de ponta, custo acessível e ainda focado nos benefícios sociais”, revela.
Ana Rute Mendes, da startup educacional Mupi, comenta que um dos desafios, que ela tomou como motivação para sua carreira, é o fato de haver, ainda hoje, poucas mulheres ocupando cargos estratégicos e de liderança em grandes empresas. Ela acredita que a atuação de mulheres no universo do empreendedorismo deva servir como fonte de inspiração para que outras busquem esta opção profissional e, assim, quebrar o círculo vicioso. “Ser mulher empreendedora em um mundo predominantemente masculino é um dos fatores determinantes para eu continuar neste caminho. O fato de ter poucas mulheres CEOs de grandes empresas me faz ter ainda mais vontade de construir algo sólido e de valor para tentar mudar essa estatística e servir de exemplo para que mais mulheres se aventurem e criem seus próprios projetos”, defende.
Com relação ao preconceito, as empreendedoras divergem de ponto de vista. Enquanto Ana Rute comenta sobre situações que vive no cotidiano, Aleksandra diz que nunca passou por nenhuma situação constrangedora em sua carreira pelo fato de ser do sexo feminino. “Além disso, o sentimento de estar sempre sendo subestimada é constante. O machismo é tão cotidiano e naturalizado que às vezes nós mesmas deixamos passar e na maior parte das vezes, nos sentimos acuadas para reagir. Exige muita coragem e sangue frio para ter uma reação à altura na hora, então quase sempre nos calamos. Por isso, é tão importante que esses ambientes tenham mais mulheres e que tenhamos mais exemplos femininos, só assim poderemos ter um ambiente mais convidativo e equilibrado”, aponta Ana.
Como tudo começou
“Nossa estratégia de sobrevivência é utilizar o conhecimento de nossas pesquisas na elaboração de produtos preventivos de regulamentação mais simples e chegada mais rápida ao mercado, como por exemplo, os dermocosméticos”, comenta Aleksandra sobre o foco atual da empresa. Ela lembra momentos marcantes de sua trajetória no mundo empreendedorismo, que envolveram a possibilidade de desenvolver um novo produto com o licenciamento da 500ª patente da Unicamp, universidade que alcançou a marca da milésima patente depositada em 2016. Obviamente que a ocasião e o cenário farmacêutico brasileiro daquele momento, pouco favorável à inovação, trouxeram novos obstáculos e dificuldades para a profissional.
“Eu e meu sócio fundamos a ANS Pharma em 2010 com um projeto de patente para colocar um novo medicamento no mercado. Mesmo com nossa experiência industrial e de mercado em tecnologia farmacêutica as dificuldades encontradas foram muitas. Não existe um ambiente favorável ao empreendedorismo farmacêutico ou biotecnológico no Brasil. A indústria farmacêutica nacional investe em medicamentos genéricos, mas não em pesquisa de ponta por conta dos custos e riscos. A pesquisa geralmente é realizada por multinacionais fora do país”, critica.
Para Ana Rute, o estimulo e a vontade de empreender nasceram dentro da sala de aula, durante um projeto desenvolvido na graduação em Midialogia, na Unicamp. Com isso, a Mupi já está no mercado há 6 anos. “Comecei a empreender com mais três amigos em 2010 após nos conhecermos trabalhando no Read in Web, um curso de inglês para leitura acadêmica totalmente online criado pela profa. Denise Bértoli Braga. Ao trabalhar nesse projeto, surgiu a oportunidade de sermos contratados como empresa para finalizar o desenvolvimento do software do curso – que até então era mantido apenas por bolsistas estagiários dentro da universidade. Formalizamos a empresa em 2011, e na mesma época entramos em contato com o universo das startups, que nos motivou a desenvolver nossos próprios projetos”, corrobora. Da trajetória de sucesso, Ana destaca a participação no programa de pré-aceleração na Baita Aceleradora e também o financiamento obtido junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no ano passado. Com estes dois estímulos, surgiu a possibilidade de trabalhar no desenvolvimento de uma ferramenta para auxiliar docentes e professores na preparação de conteúdos mais inovadores para as aulas.
É mulher e quer empreender? Veja os recados que a Ana e a Aleksandra têm para você!
“Empreender ao mesmo tempo em que é difícil é extremamente gratificante. Nos dá um norte do que queremos atingir enquanto profissionais e como objetivo de vida, nos dá a oportunidade de termos a liberdade de escolher onde depositar nosso maior bem que é o tempo. Independentemente de ser um ambiente predominantemente masculino, no fim das contas o maior desafio ao empreender é aprender a lidar com adversidades, instabilidade financeira e com as nossas próprias frustrações”.
Ana Rute Mendes
“Empreender no Brasil não é uma tarefa fácil, exige muita paciência, planejamento financeiro e resiliência para cumprir todas as exigências e ter fôlego para aguardar o tempo da burocracia local e as dificuldades impostas. Ainda assim acredito que empreender e colocar algo novo no mercado ou oferecer um serviço inovador é extremamente gratificante”.
Aleksandra Alves Silva