28 de janeiro de 2016 Melhoramento genético de espécies de eucalipto
Texto: Carolina Octaviano
Foto: Adriana Pavanelli
Pesquisadores do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp participaram do desenvolvimento do banco de dados Eucanext, que inclui sequências de genes expressos de eucalipto em diversas condições e espécies e genomas completos já sequenciados. Deste banco de dados, cinco genes, que, isoladamente, podem contribuir para os processos de formação da madeira e resistência a estresses em espécies de eucaliptos, foram transferidos, recentemente, para uma empresa que atua no desenvolvimento e produção de mudas florestais.
“Todos esses dados servem de ponto de partida para diversos estudos funcionais de interesse, especialmente os processos moleculares envolvidos na formação da madeira, fonte de biomassa para diversos setores industriais, e genes particulares relacionados com tais processos. Assim, as informações contidas nesse banco nos guiaram na seleção de cinco genes”, afirma o professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, responsável pelos estudos.
O professor comenta que a perspectiva é de que a empresa licenciada utilize estes genes para fins de melhoramento genético em eucaliptos, que já haviam sido modificados geneticamente. “A empresa poderá manipular os genes em árvores já melhoradas de eucalipto. O objetivo é criar clones com características pontuais modificadas. Essa tecnologia pode gerar uma vantagem competitiva em relação àqueles que trabalham apenas com o melhoramento genético tradicional”, defende.
As pesquisas que culminaram na escolha destes cinco genes do banco de dados Eucanext se iniciaram em 2007, a partir de um convênio de cooperação entre a Unicamp e uma empresa do setor de papel e celulose, que buscava o desenvolvimento de pesquisas que permitissem compreender as bases genéticas da formação e qualidade da madeira de eucalipto. O professor comenta que, desde que os estudos foram iniciados, já se vislumbrava uma oportunidade real de mercado. “A ideia foi, desde o início, prospectar genes com potencial de serem modificados em eucalipto para obter ganhos em características de interesse industrial”, aponta o professor.
Os cinco genes transferidos foram selecionados durante o desenvolvimento da tese de doutorado da então aluna Marcela Mendes Salazar. O estudo, com base na comparação entre três espécies de eucalipto com importância industrial – E. globulus, E. grandis e E. urophylla -, buscava genes e metabolismos chave para as principais vias de formação da madeira e as características diferenciais de adaptabilidade de cada uma destas espécies. “A partir deste último estudo, os cinco genes potenciais foram selecionados”, completa Pereira. Participaram também da formação do banco de dados Eucanext os doutores Eduardo Leal Oliveira Camargo, Marcelo Falsarella Carazolle e Jorge Lepikson Neto, o mestre Leandro Costa Nascimento, e o então aluno de graduação Wesley Leoricy Marques.
Na opinião de Pereira, a Agência de Inovação Inova Unicamp teve um papel importante na formatação do contrato – tanto para o convênio de cooperação quanto para a transferência dos materiais genéticos – e na intermediação dos contatos com as duas empresas. Ele defende que o acompanhamento de profissionais da Inova Unicamp foi primordial para o estabelecimento do contrato. “A Inova auxiliou os pesquisadores do LGE a elaborar um documento de transferência de tecnologia e também intermediou todos os contatos com as empresas e o Laboratório, no sentido de propor sugestões de cláusulas do contrato, tirar dúvidas sobre questões de multa, formas de liberação do material, etc. A abertura do processo interno na Unicamp foi de responsabilidade da Inova, que acompanhou toda tramitação até a assinatura do documento”, relembra.
Sobre a área desta pesquisa e transferência de material, vale salientar que o Brasil é líder mundial na produção de celulose, fazendo com que o eucalipto tenha uma grande importância econômica. Em 2013, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção primária florestal somou R$ 18,7 bilhões. Deste valor, a silvicultura contribuiu com 76,1% e R$ 14,1 bilhões, sendo o eucalipto a principal espécie florestal da silvicultura nacional – responsável por 98,5% do total produzido de carvão vegetal e por 68,8% da produção de lenha. Por este motivo, o Professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, responsável pelas pesquisas que originaram o banco de dados Eucanext, defende que o melhoramento genético é determinante para alavancar ainda mais a produtividade brasileira. “Espera-se que o transgênico gerado com os genes identificados neste trabalho possua as características de interesse (maior qualidade da madeira e resistência a estresses). Desse modo, a produtividade e a qualidade dos produtos serão maiores e, aliadas às características de clima e solo do país, contribuirão para a manutenção da posição que o Brasil alcançou no mercado mundial de celulose”, argumenta.
Projeto Genolyptus e o Banco de dados Eucanext
Realizado entre 2002 e 2008, o Projeto Genolyptus teve a participação ainda da Unicamp e de outras seis universidades, a Embrapa e 14 empresas do ramo florestal e proporcionou que o eucalipto tivesse o genoma completamente mapeado, em um projeto liderado por pesquisadores do país. A iniciativa representou um grande salto na geração e integração de ferramentas moleculares no melhoramento do eucalipto no Brasil, proporcionando o sequenciamento completo do genoma do eucalipto. Já a consolidação do Banco de dados Eucanext teve início a partir de um projeto em parceria com uma empresa do setor de celulose e madeira, que buscava prospectar os dados gerados no âmbito do projeto Genolyptus em busca de genes importantes para a qualidade da madeira. “Posteriormente, com o surgimento de técnicas mais modernas de sequenciamento, novos dados foram gerados para auxiliar esse processo de Gene Discovery”, conclui Marcela.