Livro investiga contribuição das universidades à inovação nos países ibero-americanos

Um diagnóstico da produção de conhecimento nas instituições de ensino superior (IES) dos países ibero-americanos e de sua transferência às respectivas sociedades e sistemas empresariais compõe o estofo do livro La Transferencia de I+D, la Innovación y el Empreendimiento en las Universidades, lançado no dia 15 de maio na sede da FAPESP, em São Paulo.

O lançamento foi acompanhado de mesa-redonda, com apresentações feitas por Senén Barro (ex-reitor da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, e coordenador geral da obra), Guilherme Ary Plonski (professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador da parte brasileira) e Carlos Henrique de Brito Cruz (diretor científico da FAPESP).

O livro, cuja elaboração contou com contribuições de 40 especialistas, faz um levantamento robusto das atividades de transferência, inovação e empreendedorismo das principais universidades de 21 países da Península Ibérica e América Latina. E apresenta recomendações de melhoria, adjetivadas como “inadiáveis”.

Segundo os autores, a despeito de avanços pontuais em tópicos como número de publicações científicas e número de patentes, a região apresenta inegável defasagem quando seus dados são comparados com aqueles dos países desenvolvidos ou emergentes.

Um exemplo está no posicionamento dos países ibero-americanos no Ranking Global de Inovação 2013, elaborado conjuntamente pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, da Organização das Nações Unidas (ONU) e pela escola de negócios Insead, sediada na França, que considerou 84 indicadores para avaliar elementos das economias nacionais que favoreceram as atividades de inovação. Nessa relação, a Espanha aparece em 26º lugar. Depois vêm Portugal (34º), Costa Rica (39º), Chile (46º), Uruguai (52º), Argentina (56º), México (63º) e Brasil (64º).

Dos 142 países ranqueados, ocuparam as cinco primeiras posições Suíça, Suécia, Reino Unido, Holanda e Estados Unidos.

Senén Barro atribuiu o posicionamento desfavorável dos países ibero-americanos ao “ambiente político, regulatório e empresarial, assim como ao pouco crédito disponível para novas iniciativas e à pobre qualidade da educação, especialmente no âmbito científico”.

Em sua apresentação, o coordenador ressaltou que, se não há, da parte dos governos, um apoio suficiente e continuado aos sistemas de educação superior, especialmente às suas áreas de pesquisa e desenvolvimento, tais sistemas ficam atrelados às flutuações econômicas: progridem quando tudo vai bem e regridem nos anos de crise.

Tal apoio, disse Barro, deveria contemplar, inclusive, políticas anticíclicas, capazes de compensar as baixas da economia. E citou como exemplo a ser seguido a Coreia do Sul, que, na grave crise de 1997-2003, além de não diminuir, ao contrário, aumentou expressivamente seus investimentos em educação. E hoje colhe os frutos disso.

Inserção no sistema de C&T

Na conclusão da seção do livro dedicada ao Brasil, o coordenador da parte brasileira, Guilherme Ary Plonski, afirmou: “Se, no ensino e na pesquisa, os avanços mais pronunciados do Sistema de Educação Superior no período em tela foram de caráter quantitativo, na dimensão extensão da missão universitária o que mais se alterou foram aspectos de natureza conceitual e estrutural”.

“Essas transformações levam ao surgimento de uma nova faceta da Instituição de Educação Superior, configurando o que se convencionou internacionalmente denominar ‘universidade empreendedora’”, disse.

“Em termos estruturais, ao longo da década de 2000, se disseminaram nos campi os Núcleos de Inovação Tecnológica, incubadoras de empresas e parques científico/tecnológicos. A essas novas estruturas vêm se somar organizações informais e formais capazes de metabolizar o ímpeto empreendedor latente nas novas gerações de estudantes”, disse Plonsky.

Interação com empresas

De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, o percentual de recursos usados pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em atividades de pesquisa provenientes de contratos com empresas é de, respectivamente, 5%, 6% e 7%, em valores aproximados.

Em um ranking integrado pelas 20 universidades norte-americanas que apresentam o maior percentual de recursos vindos de empresas, a Unicamp ficou em 11º lugar, a Unesp em 14º e a USP em 17º. “Portanto, não é certo dizer que essas universidades fazem pouco em termos de interação com as empresas. Fazem bastante. Trata-se de vencer obstáculos para que possam fazer ainda mais”, afirmou Brito Cruz.

La Transferencia de I+D, la Innovación y el Empreendimiento en las Universidades: Educación Superior en Iberoamérica: Informe 2015 
Coordenador: Senén Barro 
Edição: Centro Interuniversitario de Desarrollo (Cinda), Red Universia e Red Emprendia 
Ano: 2015 
Páginas: 537 

Fonte: Agência Fapesp

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