Inova Campinas 2014 defende inovação para desenvolver regiões

Texto: Juliana Ewers

Focado no papel das universidades para impulsionar o desenvolvimento das regiões em que estão inseridas, o seminário Inova Campinas 2014 reuniu ontem autoridades e especialistas no assunto para debater direcionamentos e políticas públicas, a fim de conectar os processos de inovação às necessidades dos cidadãos.

O evento, realizado no Expo Dom Pedro, é uma iniciativa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em parceria com a Fundação Fórum Campinas e a Prefeitura Municipal. Entre as autoridades presentes estavam o professor Milton Mori, diretor-executivo da Inova Unicamp, representando o reitor José Tadeu Jorge; o vice-prefeito Henrique Magalhães Teixeira; o vereador André Von Zuben, que preside a Comissão de Ciência e Tecnologia no Legislativo; e Carlos Lima, da Ciatec (Companhia de Desenvolvimento do Polo Alta Tecnologia Campinas).

“Essa é uma grande oportunidade para discutirmos a forma com que esses processos têm ocorrido na RMC (Região Metropolitana de Campinas). Sabemos que o ambiente em que estamos inseridos é favorável para empreendedorismo e inovação. A grande questão é como nos tornar mais competitivos. E quais instrumentos temos à nossa disposição para que a nossa região sinta os impactos e se beneficie dessa inovação aqui gerada”, comentou Mori durante sua fala na abertura do seminário.

Quem abriu a série de palestras foi o professor da Universidade de Newcastle, John Goddard. A partir do tema “Universidades, Inovação e Desenvolvimento Urbano e Regional: desafios, tensões e oportunidades”, Goddard promoveu uma reflexão sobre o papel assumido pela universidade.

“A primeira pergunta que precisa ser feita é: para que serve a universidade? É preciso maximizar a contribuição delas, permitindo que tenham maior influência nas cidades, baseadas em políticas públicas, força institucional e contatos capazes de incrementar a inovação”, disse.

O grande problema existe hoje em dia, segundo Goddard, está no fato dos projetos desenvolvidos dentro da universidade estarem desconectados das regiões. “Nós queremos uma inovação que seja desenvolvida ‘na’ região ou ‘para’ a região? É uma pequena palavra que muda para um efeito muito maior”, indagou.

Dando sequência às apresentações, o segundo painel do evento discutiu as estratégias para Ciência, Tecnologia e Inovação. Antônio Galvão reforçou algumas ideias apontadas por Goddard e ressaltou a importância de incluir a carga social para os processos de inovação.

Recuperando a hipótese cepalina, que diz respeito à industrialização concentrada, Galvão afirmou que “a escala territorial é decisiva para fazer dos processos da inovação robustos”. O objetivo, segundo ele, está atrelado à construção de toda a sociedade e, para tal, devem ser feitas apostas sustentáveis e que gerem condição futura de desenvolvimento e crescimento. “É preciso pensar em estratégias de políticas abrangentes.”

Ao observar dados referentes aos estados brasileiros, as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste apresentam um crescimento expressivamente menor. “É preciso que as políticas de C&T cheguem com outro fôlego nessa região, porque este é o caminho para promover o desenvolvimento dessas áreas. Paralelamente a isso, temos também a obrigação de recuperar a trajetória de produção e crescimentos nos grandes centros, como Rio e São Paulo. Em resumo: há muito a ser feito”, finalizou Galvão.

Quem completou a mesa de discussões foi Fernando Martins Costa, diretor-técnico da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo. Ele apresentou o projeto do governo do Estado de criar o plano diretor de C,T&I. “A ideia é pensar propostas e a colocação delas em prática em um período de pelo menos vinte anos.”

À tarde, o painel “Fomento e Financiamento à Inovação” contou com a apresentação de Marcelo Machado da Silva, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Celso Rey, da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), e Sérgio Queiroz, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Todos os três apresentaram as iniciativas das instituições para incentivar a área.

Paulo Alcântara Gomes, que se apresentou na sequência, contou um pouco sobre a experiência da Rede de Tecnologia & Inovação do Rio de Janeiro, da qual é presidente.

Por fim, fechando as apresentações do dia, Eduardo Moreira da Costa, que é professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e da PUC-Rio e presidente da 2000ideias, provocou o público a pensar sobre o conceito de cidade inteligente.

Defendendo a ideia de desenvolver dentro dos municípios bairros mais humanos, inteligentes e sustentáveis, Costa apresentou sete iniciativas a respeito das quais se faz necessário pensar para construir uma cidade nos moldes de Paris, reconhecida por ter sempre próximo tudo o que uma pessoa precisa para viver.

“Quem vai a Paris sempre volta de lá dizendo que a poucos metros o hotel tinha uma padaria, uma estação do metrô, um museu. É assim em todo bairro. Se fizemos um mapeamento de onde esses locais estão instalados, veremos que estão espalhados por toda Paris. É de algo assim que precisamos. Hoje, precisamos nos deslocar grandes distâncias para trabalhar, estudar, nos divertirmos. Isso não é sustentável.”

A lista de Costa é composta pelos seguintes itens para construirmos uma cidade inteligente: formar bairros mais humanos, inteligentes e sustentáveis, nos quais é possível morar, trabalhar e se divertir, e se caso houver necessidade de ir a outro bairro, que esse trajeto seja feito através do transporte público; ter o foco voltado para as pessoas e não nos automóveis; tomar consciência de que esse “estilo de vida” tem um grande custo para a sociedade; os parques tecnológicos devem ser um bairro humanizado, inteligente e sustentável, e não um centro industrial;  as mudanças nas cidades precisam ser feitas em cocriação com a população que enfrenta diretamente as circunstancias caóticas que conhecemos; ter em mente a melhoria da mobilidade das pessoas, e não uma solução para o trânsito; por fim: acreditar que é possível sim, mudar o que temos hoje.

O Inova Campinas 2014 tem continuidade hoje. No local, além do seminário, há um espaço destinado à mentoria de startups. Informações: www.inovacampinas.org.br

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