Pesquisa realizada em parceria pela Universidade de Cambridge e Unicamp aponta dificuldades na interação universidade empresa

Texto: Vanessa Sensato

Fotos: Camila Kater

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge em parceria com a Unicamp investigou junto aos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) de universidades brasileiras os resultados mais recentes da interação universidade empresa no país. Os resultados da pesquisa, respondida por 33 núcleos de inovação em todo o país, apontam que quase todos os NITs consideram que a Lei de Inovação, instrumento que regulamenta o relacionamento universidade-empresa, precisa ser mudada.

Os resultados foram apresentados em um workshop realizado no dia 19 de março na Embaixada Britânica em Brasília. Compareceram ao workshop representantes do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), profissionais de Agências de Inovação de universidades brasileiras, o embaixador Britânico no Brasil, Alex Ellis, e outras autoridades do cenário da ciência, tecnologia e inovação do Reino Unido.

Entre as dificuldades mais debatidas no workshop está o fato de que os NITs, órgãos responsáveis pelo relacionamento universidade-empresa dentro das universidades e institutos de pesquisa públicos, recebem – de acordo com os respondentes – pouco apoio institucional interno. Esta ausência de apoio se reflete na falta de recursos financeiros e estruturais para manter uma equipe especializada. “NITs como a Agência de Inovação Inova Unicamp, com um quadro de profissionais bem estruturado são exceção do país”, afirmou Milton Mori, diretor executivo da Inova Unicamp.

A grande rotatividade de profissionais e a dificuldade de capacitação na área também foram outros pontos debatidos no evento. Para Iovanna Gico Roller, coordenadora de Propriedade Intelectual Substituta no MCTI, ações como o edital de apoio à implantação e à capacitação dos NITs, realizado por meio do CNPq no ano passado são importantes neste contexto. “Precisamos manter e fortalecer este tipo de iniciativa porque temos muitas diferenças entre os estados brasileiros e mesmo dentro dos estados. Temos que dar oportunidade para que os NITs já estabelecidos se fortaleçam e outros NITs sejam implantados, pois temos muitas instituições científicas e tecnológicas ainda sem NITs implantados”, colocou a coordenadora.

Shirley Jamieson, diretora de Marketing do Cambridge Enterprise, escritório de transferência de tecnologias da Universidade de Cambridge, reforçou durante o evento a importância da consolidação dos NITs junto às universidades brasileiras. Segundo Shirley, os NITs são instrumentos importantes para garantir que a pesquisa de qualidade, desenvolvida nas universidades, seja levada ao mercado em benefício da sociedade. “Tradicionalmente, nossas universidades vêm fazendo um excelente trabalho no que diz respeito às atividades de ensino e pesquisa. Mas eu acredito que não só no Reino Unido, como em outros lugares do mundo, há o reconhecimento de que há um novo papel para as universidades, o de transferir a tecnologia para nossa sociedade, em seu benefício. Neste sentido, os NITs possuem uma importante função”, avalia Shirley.

O professor Finbarr Livevey, responsável pela pesquisa na Universidade de Cambridge, apresentou remotamente os resultados e disse que gostaria de ver esta pesquisa ser ampliada nos próximos anos. “Sabemos que o MCTI está fazendo uma pesquisa ampla sobre os NITs (o FORMICT). É importante que as universidades se mobilizem para responder, pois estas pesquisas são muito importantes para a análise do cenário de inovação nacional”, afirma o professor.

Sobre a parceria entre os dois países, o embaixador britânico no Brasil colocou que o Brasil é parceiro natural do Reino Unido para a pesquisa e a inovação e que os dois países possuem desafios comuns. “Em primeiro lugar, os dois países têm um problema de produtividade: precisamos aumentar a produtividade. Em segundo lugar, temos bons pesquisadores, mas é essencial transferir o resultado desta pesquisa para a sociedade. Por fim, precisamos aumentar a ligação entre as nossas universidades e a sociedade em seu entorno”, afirmou Ellis.

A pesquisa e o evento foram realizados no escopo de uma parceria entre a Agência de Inovação Inova Unicamp e o escritório de transferência de tecnologias da Universidade de Cambridge: o Cambridge Enterprise. As duas atividades foram financiadas por meio de projeto com a Embaixada Britânica no Brasil, pelo Fundo Prosperity.

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