17 de outubro de 2013 Gestão de portfólio desafia empresas de base tecnológica
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Por terem sido fundadas, em sua maioria, por profissionais com muito conhecimento técnico, mas com pouca capacitação em gestão de projetos, as empresas brasileiras de base tecnológica – principalmente as pequenas – têm dificuldade de gerenciar seu portfólio de produtos, avalia Daniel Jugend, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru.
Algumas delas, no entanto, especialmente as de médio e grande porte, destacam-se nessa seara por apresentar diferenciais como gestão de portfólio de forma estruturada – com equipes multifuncionais voltadas ao desenvolvimento de produtos –, ressalva o pesquisador.
Essas e outras práticas, métodos e ferramentas de gestão de portfólio de produtos adotados por algumas empresas brasileiras de base tecnológica são descritas por Jugend e Sérgio Luis da Silva, professor do Departamento de Ciências da Informação do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no livro Inovação e desenvolvimento de produtos: práticas de gestão e casos brasileiros.
Lançado no final de setembro, o livro é um dos resultados do projeto de pesquisa “Gestão de portfólio de produtos em empresas de base tecnológica de médio e grande porte no Estado de São Paulo: survey e estudos de casos”, realizado por Jugend com apoio da FAPESP.
“Uma das ideias do livro é apresentar uma série de conceitos fundamentais de inovação e práticas de gestão de portfólio adotadas por cinco empresas brasileiras de base tecnológica, de médio e grande porte, que se destacam no país em inovação tecnológica de produtos”, disse Jugend àAgência FAPESP.
“Esse conjunto de práticas pode ser útil e aplicado por gestores de outras empresas para facilitar a condução do processo de desenvolvimento de produtos”, avaliou.
De acordo com o pesquisador, as empresas analisadas no livro são dos setores eletrônico, de telecomunicações, óptico, de automação industrial e médico-hospitalar, estão situadas nas cidades de São Paulo, Campinas, São Carlos, Sertãozinho e na Grande Porto Alegre (RS) e não tiveram seus nomes revelados em razão de um acordo de confidencialidade para a realização da pesquisa.
Em comum, desenvolvem produtos de alto conteúdo tecnológico e, embora não possuam centros dedicados apenas a atividades de pesquisa e desenvolvimento, investem, no mínimo, 5% do faturamento nessa área. Além disso, por estar em ambientes inovadores e dinâmicos, renovam frequentemente seus portfólios por meio do desenvolvimento contínuo de produtos novos.
Segundo Jugend, essas empresas possuem áreas de pesquisa e desenvolvimento que, em conjunto com a de marketing, buscam receber e ranquear ideias oriundas de fora ou de dentro da empresa e identificar quais podem resultar em produtos promissores.
“Em pequenas e médias empresas de base tecnológica é comum os profissionais que atuam em pesquisa e desenvolvimento terem de se envolver em muitas atividades burocráticas que acabam sobrecarregando-os e fazendo com que percam o foco no desenvolvimento de produtos”, contou Jugend.
“Já essas cinco empresas analisadas possuem uma estrutura mais profissionalizada, com pessoal voltado totalmente ao desenvolvimento de produtos, atuando em departamento de engenharia ou de pesquisa e desenvolvimento”, comparou.
Ao avaliar seus portfólios e decidir lançar um produto, por exemplo, algumas empresas retratadas no livro contam com estrutura própria de escritórios de projetos, contou Jugend.
Ao assessorar as empresas na gestão individual de cada projeto de desenvolvimento de produtos, esses escritórios internos reúnem as equipes encarregadas de criar um determinado produto ou tecnologia e são responsáveis por controlar o orçamento, definir indicadores de desempenho, instituir prazos e até mesmo preparar softwares de gestão do projeto.
De acordo com Jugend, as empresas analisadas demonstraram a preocupação de formar equipes multifuncionais para esses projetos de desenvolvimento de novos produtos, compostas por especialistas de diferentes departamentos, como pesquisa e desenvolvimento, engenharia, marketing, compras e manufatura.
“Isso tende a facilitar ou melhorar a tomada de decisão sobre o desenvolvimento de um produto porque, dessa forma, é possível abordar diferentes aspectos relacionados ao seu desenvolvimento – como, por exemplo, a viabilidade tecnológica, as tendências de consumo e qual a escala de produção necessária para atender à demanda do mercado”, avaliou o pesquisador.
Mapas tecnológicos
Outra prática que atrai o interesse dessas empresas, de acordo com Jugend, é a aplicação de mapas tecnológicos.
Também conhecidos como technology roadmaps, esse tipo de mapeamento possibilita às empresas tentar prever a direção na qual devem caminhar as tecnologias existentes nos mercados nos quais atuam. A aplicação desses mapas pelas firmas nacionais de base tecnológica representa uma tendência, segundo Jugend.
“Em empresas da base tecnológica é difícil fazer uma boa previsão de demanda e tendências de mercado quando se está pensando em desenvolver produtos, porque as tecnologias com as quais trabalham costumam ser muito dinâmicas”, explicou.
Para diminuir os riscos de aposta em tecnologias que podem não ser bem-sucedidas no mercado, as empresas analisadas no livro realizam, na maioria das vezes, inovações tecnológicas incrementais – menos arriscadas, que exigem menos investimento e de curto prazo. Porém, ao mesmo tempo, também realizam inovações radicais – que envolvem maiores riscos, custos e são mais de longo prazo.
Por isso, podem ser chamadas de “organizações ambidestras” – que fazem paralelamente inovações incrementais e radicais de produtos, explicou Jugend.
“Elas são, sem dúvida, exceções entre as empresas brasileiras”, disse.
“Há hoje uma vertente de pesquisa sobre inovação tecnológica demonstrando que é importante que algumas empresas, como as retratadas no livro, busquem, ao mesmo tempo, realizar inovação tecnológica incremental e radical”, afirmou o pesquisador.
De acordo com Jugend, as empresas analisadas no livro já estão presentes no mercado internacional. Além de parcerias com universidades e instituições de pesquisa, mantêm colaborações com outras empresas nacionais e multinacionais para o desenvolvimento conjunto de tecnologias – como são caracterizadas a prática de open innovation (inovação aberta, em português).
Inovação e desenvolvimento de produtos: práticas de gestão e casos brasileiros
Lançamento: 2013
Preço: R$ 59
Páginas: 184
Mais informações: www.grupogen.com.br/ch/prod/vit/12261/216796/3430/0/inovacao-e-desenvolvimento-de-produtos—praticas-de-gestao-e-casos-brasileiros.aspx .